Ontem vi o Zé. Ele estava passando perto da minha casa e
parou para conversarmos. Sempre cabisbaixo, digno, humilde. Disse, com um
sorriso tímido, que a saúde não vai bem. Depois se despediu e continuou a
caminhada.
Enquanto ele se afastava, comecei a relembrar de sua
vida. José Garcia trabalhava para minha
família na Fazenda Anjo da Guarda. Lembro-me de sua presença suave desde que me
conheço por gente. Ele falava pouco e trabalhava muito, na roça mesmo, trabalho
duro. Sempre de cabeça baixa, sempre humilde, sempre digno.
Sua vida restringiu-se ao campo. Poucas vezes, vinha para a
cidade. Ficava na zona rural com as plantações e criações. Bom esposo, bom pai.
Ele faz parte de uma parcela rara da humanidade.
Uma das cenas que mais me marcou sobre o Zé aconteceu em
1988. Minha família foi à falência. Quando Zé foi receber o dinheiro do acerto,
baixou a cabeça e chorou. Choramos com ele. Trabalhou tanto tempo pra nós e
agora tudo havia acabado. Na minha vida, vi poucos homens chorarem, as lágrimas
dele doeram em mim.
Por ser notoriamente um bom funcionário, ele conseguiu um emprego com nossos primos numa
fazenda vizinha da que era nossa. Continuou
a trabalhar da mesma maneira, em silêncio.
Muito tempo se passou até que eu o visse novamente. Encontrei-o um dia na Avenida São João. Ele me abraçou como seu eu ainda fosse criança. Sua alegria se estampara num sorriso.
Muito tempo se passou até que eu o visse novamente. Encontrei-o um dia na Avenida São João. Ele me abraçou como seu eu ainda fosse criança. Sua alegria se estampara num sorriso.
Há pouco tempo, ao se aposentar, Zé mudou-se para a cidade de
Itambé com a esposa, Santa, juntando-se ao filho Eder, que já estava aqui. Adaptação difícil
para quem tem a alma no campo. Poucas vezes, o vejo na rua, com a cabeça baixa
e semblante humilde. Num país tão corrupto, poucas pessoas podem andar de
cabeça erguida. O Zé pode, mas não anda.
13/4/2016
Denizia Moresqui
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