terça-feira, 31 de janeiro de 2017

HISTÓRIA DE ITAMBÉ - PARTE 6

INFRAESTRUTURA

ESTRADAS E MEIOS DE TRANSPORTE


Meios de transporte mais utilizados nos primeiros anos
de Itambé: equinos
Fonte: Mônica Osvaldo do Nascimento

                 A falta de estradas no distrito de Itambé era um dos maiores problemas enfrentados pela população. Durante os primeiros anos de colonização, os moradores precisavam percorrer a pé grandes distâncias para fazer compras, ir à igreja e visitar parentes. Oswaldo Bianchessi e sua família foram de Itambé à Mandaguari a pé para o casamento da irmã. Eles saíram do Bairro Catarinense às duas horas da manhã e chegaram ao destino às vinte e duas horas. No dia seguinte, após a cerimônia, a família voltou para Itambé no Jeep de José Bianchessi.
              Com estradas ruins, o meio de transporte mais eficiente e acessível então eram equinos. Pois, além de mais baratos que automóveis, passavam por obstáculos que nem Jeeps conseguiam transpor. Quem não possuía montaria, precisava andar a pé mesmo. Em frente às primeiras casas de comércio de Itambé, havia até estacionamento para os animais, com locais para amarrá-los. Mas em algumas situações, como no caso do transporte de enfermos, a tração animal deixava a desejar, por ser lenta e desconfortável. As carroças também ajudavam. Atreladas aos animais, era possível transportar mais pessoas e mercadorias, mas as viagens eram demoradas.

Carroça usada pela família Fedrigo
Fonte: Família Fedrigo

              A bicicleta foi outro meio de transporte que serviu aos itambeenses, principalmente aos que moravam na zona rural. A primeira bicicletaria da cidade pertenceu ao Senhor Yoshio Ikeda.

Bicicletaria do Ikeda
Fonte: Ayrton Rocha

             O atual Vice-prefeito, Benedito dos Santos, quando morava na região da Moóca, vinha estudar na cidade com este meio de transporte. Ele percorria cerca de seis quilômetros. Numa noite, voltando para casa levou um susto perto da Fazenda Perobal e decidiu, então, dormir na cidade e só voltar para casa pela manhã. Seu abrigo era a boleia de um caminhão que ficava estacionado no Posto Atlantic. Benedito, ainda menor de idade, chegou a montar um bicicletaria na Avenida São João, pois a utilização deste meio de transporte estava crescendo.

Dito Bó e seu meio de transporte: a bicicleta
Fonte: Benedito dos Santos

               Onório Perin comprou um sítio no Patrimônio Guerra e outro em Paiçandu. Aqui seus filhos mais velhos tomavam conta da terra e, para se locomoverem e ajudarem o restante da família no trabalho em Paiçandu, Lacídio Perin e seus irmãos também usavam bicicletas. A viagem demorava cerca de cinco horas em dias de sol. Quando chovia, era preciso empurrar o veículo nos locais mais lamacentos, o que atrasava os ciclistas. Mesmo assim, fizeram o percurso inúmeras vezes, pois era o único meio de transporte possível para os Perin naquela época.
                O ex-vereador Jovânio Pereira dos Santos lembra que, entre 1947 e 1951, quando Itambé pertencia a Mandaguari, a vida era muito difícil por não haver médicos ou farmácias. Quando alguém ficava doente, precisava ser levado à Mandaguari. Em caso de morte, o corpo também deveria ser levado lá para ser sepultado.  Mas não havia transporte exclusivo para isso. Então o Sr. Paulo Tutti e o Sr. Paulo Bogenschneider, que vinham à Itambé de caminhão buscar toras, faziam este transporte. Tanto os doentes quanto os mortos viajavam sobre as toras no caminhão.

Tipo de caminhão usado para o transporte de toras, passageiros, enfermos e falecidos
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

               O Dr. Mauro Nakamura lembra que as condições das estradas eram péssimas. Quando o tempo estava bom, a viagem entre Itambé e Londrina durava um dia. Em épocas de chuva, não havia previsão de chegada. Na estrada entre Itambé e Cambuí, na altura da Fazenda Suíça, pertencente à família Schlatter, havia um trecho estivado com palmito. Qualquer quantidade de chuva transformava esse local em um lamaçal intransponível. Se chovesse vários dias seguidos, Itambé ficava isolado. Para comprar alimentos e medicamentos nas cidades próximas, era preciso viajar a pé ou a cavalo. A pioneira Francisca Cardoso Rosa lembra que ela e o esposo saíam, a pé, a uma hora da manhã de Itambé e chegavam às duas da tarde em Mandaguari. Quem morava à margem esquerda do Rio Keller sofria mais ainda. Além de a distância ser maior, era preciso atravessar o rio cheio. O local mais fácil para fazer a travessia era na foz, onde havia corredeiras.
             Em 1948, Lacídio Perin, ainda criança, morava com os pais à margem direita do Rio Marialva. A família ficou sabendo que, à outra margem, havia um novo patrimônio.  Onório Perin, pai de Lacídio, decidiu conhecer o lugar e, junto com o vizinho Pedro de Souza, abriu uma picada. Então chegaram à Fazenda Três Minas, uma das primeiras a ser habitadas. Depois da fazenda, já havia uma estrada para chegar ao Patrimônio de Itambé. No local, só existiam três casas comerciais: do Paulo Tutti, do Paulo Xavier e uma venda de José e Antônio Donaire, além de poucas residências. Como o povoado era próximo do sítio de Perin, ele decidiu fazer uma ponte sobre o Rio Marialva a fim de facilitar a travessia. Onório e Pedro cortaram duas perobas, colocaram lado a lado sobre o leito do rio e pregaram tábuas sobre elas. A pinguela ficava a uns cinquenta metros abaixo da ponte atual. Assim era possível que seus filhos estudassem e que as famílias fizessem compras em Itambé. Tempos depois, a Prefeitura de Marialva construiu uma ponte de madeira no lugar da pinguela; a primeira chuva elevou as águas do rio e a esta foi destruída.

Venda de Antônio Donaire (detalhe: bicicleta e carro antigo)
Fonte: Família Linhares

             Outra dificuldade era o escoamento da safra. O meio de transporte mais usado pelos colonizadores eram as carroças, o Sr. José Barbosa, por exemplo, tinha uma carroça com seis burros. Ele transportava a safra de outros agricultores do fundo das propriedades até a estrada mais próxima. A falta de estradas e transporte fazia com que os produtores vendessem seus grãos a aventureiros que se diziam cerealistas. Estes vinham até a localidade trazendo a sacaria, compravam a produção dos agricultores, carregavam o caminhão e, simplesmente, iam embora sem pagar pelo produto.
                Mais tarde, para acabar com este problema, os agricultores resolveram fazer as estradas para escoar a produção até Mandaguari. Nos bairros rurais, sempre havia um líder que convidava os colonos para o trabalho. Cada um levava sua própria ferramenta: machado, trançador, marreta, cunha. Quem tinha cavalo, levava o animal e um couro de boi para carregar terra e piçarra, a fim de fechar os trechos com brejos. E assim foi feito até onde hoje se encontra o posto de pedágio entre Marialva e Mandaguari. As estradas estaduais que dão acesso a Itambé foram feitas pela Cia. Melhoramentos, mas a conservação das mesmas coube aos agricultores.
                Depois se mudou para cá a família Lopes, que adquiriu uma serraria próxima à nascente Água Ipacaraí. A família possuía Jeep e caminhão de puxar toras. Com estes veículos, o povo ganhou mais meios de transporte. Quando uma mulher ia dar à luz e precisava buscar a parteira, ou quando alguém estava muito doente e era necessário ir à Mandaguari para receber atendimento médico, o Sr. Rafael Lopes gentilmente fazia o transporte.

Jeep da Família Lopes
Fonte: Zilda Mancine

               Em seguida, veio para cá a família Moreschi para abrir a Fazenda Anjo da Guarda. Esta família possuía vários veículos, como caminhões e Jeeps, e também passou a transportar a população.
              Como já fora mencionado, a família Bindewald, dos irmãos João, Alberto e Henrique, além do cunhado Paulo Bongenscheneider, trabalhavam com a extração e o transporte de madeira. Como, muitas vezes, precisavam levar passageiros em cima das toras, por volta de 1947, decidiu adaptar um caminhão para este transporte, que passou a fazer a linha Itambé-Cambuí-Mandaguari. O percurso era de 40 quilômetros, percorridos em três horas nos dias secos e doze horas em dias de chuva. Em 1950, a família adquiriu a primeira jardineira, depois a frota foi ampliada para cinco ônibus. Anos mais tarde, a empresa foi vendida.

Jardineira que transportava os itambeenses
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

               O Sr. Jonas, da família Paruche, também trabalhou com transporte coletivo. Os ônibus demoravam o dia todo para ir até Marialva e Mandaguari e voltar a Itambé. A empresa foi vendida a uma empresária de Mandaguari que ampliou o negócio com a compra de mais veículos, o que melhorou o transporte dos passageiros.

Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

           Depois, a empresa foi vendida para o Sr. Lourival Lopes, conhecido como Jú. A frota era composta por três ou quatro veículos. Com o tempo, apenas um veículo fazia o transporte da população. O motorista era conhecido como Zé Bigode, além de circular pelas cidades vizinhas, o ônibus também levava romeiros à Aparecida do Norte. A Princesa de Ivaí, de Jandaia do Sul, comprou a empresa do Jú. Isto foi um grande avanço para Itambé, pois os ônibus passavam pelos bairros rurais e levavam o povo até Bom Sucesso e São Pedro do Ivaí. Além disso, o número de pessoas que possuía veículo próprio aumentou. 

Ônibus de Lourival Lopes
Fonte: Zilda Mancine

           Como a população crescia rapidamente, a demanda por transporte fez com que a cidade tivesse dois pontos de táxi, com dez veículos cada, um na Praça Rui Barbosa e outro na Avenida São João, próximo à Rua Ver. Antônio Belasque Garcia.

Ponto de Táxi em frente à Praça Rui Barbosa, ao fundo,
construção da Igreja Matriz Nossa Senhora da Graças de Itambé
Fonte: Família Santana

               Em 1951, Marialva é emancipado a município e Itambé passa a ser um de seus distritos. Aqui foi criada uma subprefeitura de Marialva num prédio próximo ao local onde hoje está instalada a Prefeitura M. de Itambé. Um parente do prefeito de Marialva, chamado Antônio Garcia foi nomeado subprefeito e tentava atender aos anseios da população. Então a cada dois ou três anos, o prefeito de Marialva mandava uma máquina para arrancar os tocos do meio das ruas da área urbana de Itambé.
               Para tentar melhorar o Distrito, seus moradores se lançaram na política. Rafael Lopes, João Claro e Dr. Lafayete Grenier se candidataram a vereadores em Marialva. Os três foram eleitos, mas antes do fim do mandato, Dr. Lafayete renunciou ao cargo. Rafael Lopes foi o vereador mais votado de todo o Município. Com isto, Itambé passou a ser bem representado junto à Prefeitura de Marialva. Estes vereadores requeriam, entre outras coisas, a conservação de estradas. Mesmo assim, o serviço era precário, feito com apenas uma moto niveladora e uma esteira. O trabalho era completado com o auxílio braçal.

Transbordamento do Rio Keller
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

         Outro obstáculo enfrentado pelos agricultores era a transposição de córregos e rios para se locomoverem. Nos casos de córregos, pontes de madeira resolviam a questão. Mas Itambé é cortado pelo Rio Keller, os agricultores que viviam na margem esquerda do rio enfrentavam um grande problema quando precisavam ir ao distrito, visto que não era possível transpor as águas de carro e pontes feitas exclusivamente de madeira não aguentavam as enchentes. Pois, a margem do rio foi desmatada e as árvores derrubadas ficavam nas barrancas. Quando chovia, os troncos desciam o rio e enroscavam nos pilares da ponte, forçando-os até cederem. Os troncos também represavam a água e o rio transbordava, chegando a alcançar dois metros acima do nível normal. A primeira ponte construída sobre o Rio Keller foi feita pelos agricultores que moravam na margem esquerda do rio com madeira bruta. Na primeira enchente, foi destruída. Depois se construiu uma pinguela para que as pessoas pudessem atravessar a pé. Mas a chuva a levou. 

Primeira ponte de madeira construída sobre o Rio Keller
(Os ônibus de Lourival Lopes foram postos sobre a ponte para
comprovar resistência da obra)
Fonte: Fátima Moreschi Passareli

Inauguração da segunda ponte sobre o Rio Keller
Fonte: Wilson Prado

          A segunda ponte foi feita com madeira aparelhada com vão no meio, mais alta que o leito do rio, mas também não resistiu à força da água. Então foi feita uma barca que só transportava veículos de pequeno porte. Quando Itambé se emancipou politicamente, uma ponte de madeira foi construída pelo Prefeito João Antônio Claro.
          Anos depois, devido às fortes chuvas, a ponte construída por Claro não resistiu. Então este trecho da estrada voltou a ser um problema. Na gestão do Prefeito Misdei Moreschi e Sócrates da Veiga, foi firmado um convênio com o Governo do Estado, que possibilitou a construção da ponte de concreto que resiste até hoje. A assistência de engenharia ficou por conta do DER, Departamento de Estradas e Rodagem, o mestre de obras foi o Sr. Osmar Barboza. A obra foi inaugurada na gestão de Gibson Linhares Monteiro e Paulino Orlandini.

Construção da nova ponte sobre o Rio Keller
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

                  Em 2012, chuvas torrenciais de mais de 200 milímetros nos mês de junho voltaram a provocar o transbordamento do Rio Keller. A água cobriu a ponte que liga Itambé a São Pedro do Ivaí. Ônibus escolares não puderam transitar, os agricultores precisaram dar a volta por outros caminhos para ter acesso às suas terras. Houve muitas dificuldades durante uma semana. Mas nada comparado ao que viveram os pioneiros. 


Transbordamento do Rio Keller, 2012
Fonte: Geraldo Marcos de Brito

                  A ponte que liga Itambé a Bom Sucesso também passou pelos mesmos problemas da outra. Em 1978, rodou e durante quatro meses o local ficou intransponível, então o prefeito Rafael Lopes, tendo como vice Miguel Jorge Nauffel, construiu uma ponte de madeira com as cabeceiras de concreto, que foi demolida na década de 80 quando saiu a ligação de asfalto até Bom Sucesso,  uma nova ponte de alvenaria foi feita pela companhia contratada pelo governo do Estado e resiste até hoje.

Primeira ponte sobre o Rio Keller entre Itambé e Bom Sucesso
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

            Na década de 60, a Prefeitura M. de Itambé adquiriu uma patrola e abriu a Estrada da Paineirinha, que passava pelo Ribeirão Bonina, Fazenda Moema, Bairro Jaguaruna e saía na Estrada Velha entre Maringá e Floresta. Depois foi feita a estrada que liga Itambé a Floresta, como relatou José Antônio dos Santos, Zé da Mota, funcionário da Prefeitura de Itambé que ajudou neste trabalho. Na gestão de Misdei Moreschi e Sócrates da Veiga, foi construída também uma ponte de madeira sobre o Rio Marialva, já que a ponte anterior, construída por João Claro pegou fogo.

Ponte sobre o Rio Marialva
Fonte: Fátima Moreschi Passaneli

             Nesta mesma gestão, foi feita a estrada entre Itambé e Floresta. Para fazer a ponte de concreto sobre o Ribeirão Pinguim, os funcionários da Prefeitura cavaram uma vala e desviaram as águas do rio para construí-la em terra seca. Pronta a obra, as águas voltaram ao leito do rio e as valas foram fechadas.  

Abertura de estradas com uso de máquinas
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

            No governo de Jaime Canet Jr., o Prefeito Misdei Moreschi acompanhado dos vereadores: Antônio R. Machado, Miguel Jorge Nauffel, Bruno Ossucci e o autor do projeto, Jovânio P. dos Santos, foram até Curitiba, onde tiveram uma audiência com o Governador. Junto à comitiva estava o Deputado Jorge Sato. Nesta audiência, as autoridades itambeense solicitaram a ligação de asfalto entre Itambé e Floresta. Então o Estado asfaltou o trecho e construiu a ponte de concreto sobre o Rio Marivalva dando mais rapidez às viagens. A obra, PR 546, foi inaugurada da gestão de Rafael Lopes e Miguel Jorge Nauffel. Após a morte de Misdei Moreschi, a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná decretou pela Lei nº 7196, de 10 de setembro de 1979, sancionada pelo Governador Ney Braga, que o trecho da rodovia entre Itambé e Floresta fosse denominada Estrada Misdei Moreschi.

Prefeito e Vereadores de Itambé em audiência com
o Governador Jaime Canet Jr.
Fonte: Jovânio Pereira dos Santos

           Depois foram asfaltadas as estradas que ligam Itambé a Bom Sucesso, obra iniciada por José Richa. Como este trecho é uma extensão da PR 546, em 13 de janeiro de 1986, foi sancionada, pelo Governador José Richa, a lei que denominou todo o trajeto, de Floresta a Bom Sucesso, de Rodovia Misdei Moreschi. Já a rodovia entre Itambé e São Pedro do Ivaí, PR 457, foi feita no governo de Álvaro Dias, gestão do Prefeito Antônio R Machado e vice Mário Forestiere. O trecho entre Itambé e o Distrito de Mariza, levou o nome de Rodovia João Batista Paixão, pela Lei Estadual nº 8888, de 6 de outubro de 1988; sancionada pelo Governador Álvaro Dias.
           Mas a primeira estrada que deu acesso a Itambé, a Estrada Keller, até hoje não foi asfaltada, mesmo sendo este município Comarca de Marialva.

Primeira estrada asfaltada de Itambé, Estrada Misdei Moreschi
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé


                                      ABASTECIMENTO DE ÁGUA
        
         Até a década de 60, a água que abastecia os moradores de Itambé era retirada de poços por meio de caçambas. A Senhora Aparecida Trevisan dos Santos conta que na Rua 15 de novembro, esquina com a Rua Santana, hoje Rua Dr. Lafayete Grenier, havia um poço de uso comunitário, o povo fazia fila para retirar água. Para lavar roupas, era preciso ir até outros poços, como o que ficava onde hoje é o terreno da Horta Municipal, Rua José Joaquim Pereira. Aparecida disse que lavava roupa num poço entre a Rua 15 de Novembro e a Rua Santo Indalécio. Lembra ainda que, assim que pendurava a roupa úmida na cerca, vinha um vento e enchia tudo de pó.
        Vera Eloísa de Melo Assis conta que, por volta de 1952, João Cortez Cappel fez uma rede de água e instalou três torneiras públicas. Uma ficava em frente à Farmácia Confiança, do Senhor Otto Ramos Breta, atual Bar do Nego; outra em frente à Farmácia Nakafarma, do Senhor Mauro Nakamura, que antes ficava na esquina; e a última num terreno vazio na esquina da Avenida São João com a Rua Ver. Antônio Belasque Garcia, atualmente endereço do Edifício Pioneiro. Depois, Cortez fez ainda instalação de água para todas as casas, poucas na época, com poço artesiano e uma grande caixa d’água que existe até hoje no terreno da Sanepar, a água chegava às torneiras com ajuda de motor. Porém, este estragou e as famílias ficaram três anos sem o benefício.

Mulheres lavando roupas perto da nascente, Rua José Joaquim Pereira
Fonte: Mônica Osvaldo do Nascimento

         Durante a administração de João Antônio Claro, em 1964, o Governador Ney Braga concedeu a Itambé todo o encanamento necessário para fazer a instalação de redes de água. Esta era trazida da nascente Água Ipacaraí, ou Água da Serraria. Lá havia um poço com um motor, feito por João Cortez Cappel. Além do poço, Cortez também instalou uma caixa d’água próxima ao campo de futebol. Então, havendo o encanamento e a fonte de água, os funcionários da prefeitura fizeram a instalação da rede. 

Chegada dos canos fornecidos pelo Governo do Estado
Fonte: Família Claro

Início dos trabalhos para instalação da rede de água
Fonte: Família Claro

         O sucessor de Claro, Misdei Moreschi, assumiu a Prefeitura e um grande problema em relação ao abastecimento. O povo deveria pagar a conta de água para a Prefeitura. Mas isto geralmente não acontecia. Apenas 20% da população honrava o compromisso. Desta forma, não havia recursos para fazer a manutenção do serviço. Outro problema é que a maioria das famílias possuía um poço d’água no quintal e preferia usá-lo a pagar pelo abastecimento público.
        O problema persistiu no mandado de Gibson Linhares Monteiro, Gigi. Além da falta de pagamento, a falta de água também incomodava o povo. Então Gigi comprou bombas e começou a puxar água de minas próximas ao perímetro urbano. Mas o problema não foi totalmente resolvido.

Equipamento para cavar poço artesiano
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

        Terminado o mandato de Gigi, Misdei Moreschi volta a ser prefeito e a assumir o problema. Ele fez estudos para verificar a possibilidade de trazer água da Fazenda Três Minas. Depois furou um poço na Horta Municipal e construiu uma grande caixa d’água. O que amortizou o problema, mas não o resolveu.
          Então Rafael Lopes assumiu a prefeitura, no Governo do Estado, toma posse Jaime Canet Junior. Este governador fazia o deslocamento do poder, viajava até outras regiões do Estado do Paraná e instalava nelas o governo. Quando Canet instalou-o em Maringá, Rafael Lopes e o presidente da Câmara de Vereadores, Jovânio Pereira dos Santos, foram falar com ele para tentar resolver a questão da água em Itambé. Mas o governador não quis assumir o problema e prometeu dar apenas um poço ao município, que foi construído na chácara da família Brás. Como ainda não foi suficiente, outros poços foram construídos. Mas a solução só viria quando a Prefeitura e a Câmara conseguiram passar a responsabilidade do abastecimento para a Sanepar. 
        Agora quem tinha um problema eram os cidadãos que estavam acostumados a não pagar a conta de água. A prefeitura, por ter caráter político, evitava cortar o abastecimento dos inadimplentes. Mas a Sanepar exigia o pagamento, caso contrário, a água era cortada. Como não havia outro jeito, a maioria da população habitou-se a pagar por esta conta.
       Mas ainda não havia rede de esgoto. Nas casas, eram construídas fossas para o armazenamento da água do banheiro e da cozinha. Quando estas enchiam, um caminhão pipa com mangueira era usado para esvaziá-las.
       Já o lixo doméstico era recolhido e queimado nos quintais, depois a Prefeitura passou a recolhê-lo com trator e carreta. Este era levado para um terreno na Estrada Keller, a poucos metros da cidade, e despejado a céu aberto, sem nenhum tipo de separação ou tratamento.

                                               ENERGIA ELÉTRICA
        Assim que começou a vender lotes em Itambé, o Senhor João Cortez Capel instalou um motor estacionário com gerador de energia para o abastecimento da cidade, na Rua São Pedro, e iluminou com postes a Avenida São João. Mas o motor foi pouco utilizado, pois por volta das vinte e uma horas, ele era desligado para economizar óleo diesel e a cidade ficava no escuro. Então, a iluminação das casas e estabelecimentos comerciais era feita por meio de lampiões a gás, como o Colimã e o Lampião Aladim. O barulho provocado por eles parecia de turbina de avião, como conta o ex-vereador Jovânio P. dos Santos. A luz dos lampiões era muito forte e prejudicial à visão. José Antônio dos Santos, o Zé da Mota, lembra que, nas casas, a luz era obtida com o uso de velas e lamparinas. Sem geladeira, os alimentos mais perecíveis, como carne e peixe, deveriam ser consumidos em pouco tempo. A carne de porco era cozida e armazenada em latões de gordura. Sem televisão, a maioria das pessoas dormia cedo.  A energia também era fornecida com a ajuda de motores particulares, mas estes só funcionavam até às vinte horas. A serraria e as algodoeiras também contavam com geradores próprios.
          Quem mais sofria com a falta de energia elétrica eram os responsáveis pela saúde, como o farmacêutico Dr. Mauro Nakamura e o médico Dr. Lafayete de Almeida Grenier. Lafayete até instalou em sua casa um motor para gerar energia.  Gilherme de Almeida Grenier conta que o irmão de seu pai, João Grenier, trabalhava como diretor da Eletrobrás, Centrais Elétricas Brasileiras S.A.. Em meados da década de 60, João veio a Itambé, de carro Itamaraty, visitar o Dr. Lafayete e percebeu o problema da falta de energia no Município, então prometeu resolvê-lo. Ele encaminhou um pedido à Eletrobrás para que fossem instalados postes e fiação da subestação mais próxima. O que foi uma grande ajuda para que Prefeito João Antônio Claro pudesse levar energia aos moradores de Itambé.

Prefeito João Antônio Claro na inauguração
da rede elétrica de Itambé
Fonte: Família Claro

            Então, com o pedido de João Grenier e de João Antônio Claro, a Copel, Companhia Paranaense de Energia Elétrica, fez instalações de rede de alta tensão. Mas esta rede foi estendida a algumas ruas, como a Avenida São João, Rua São Pedro, Rua Santana, hoje denominada Rua Dr. Lafayete de A. Grenier, e a Rua Santo Indalécio, o que correspondia de 30 a 40 por cento da área urbana. As outras ruas, assim como a zona rural, ainda ficaram no escuro.
           Tempos depois, João Grenier voltou a Itambé e constatou que faltava energia toda vez que chovia. Então ele solicitou melhoria no sistema. Depois de várias tentativas de sanar o problema, este foi resolvido quando a Copel construiu uma subestação em Itambé, o que só aconteceu nos anos 80, por solicitação dos vereadores Jovânio Pereira dos Santos e Ferdinando Bianchessi.

Subestação da Copel em Itambé
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

             A primeira localidade rural a receber energia elétrica foi a Fazenda Ouro Verde, de propriedade de Guilherme Meyer. Por ser um homem próspero e organizado, ele conseguiu levar energia da cidade de Itambé até sua propriedade com seus próprios recursos. Depois, doou suas instalações à Copel para que a empresa fizesse a manutenção da rede. A maioria das comunidades  rurais  recebeu energia elétrica no governo José Richa, com a implantação do Click Rural, um sistema que contava com apenas um fio de transmissão, ideia trazida do Oriente Médio, terra dos ancestrais de Richa. Mas nem todas as propriedades alcançaram o benefício. O Sr. Paulo Fedrigo disse que até hoje a eletricidade não chegou às propriedades da Água Bonina, o mesmo aconteceu à Água Marialva, como relatou o Sr. Pedro Denardo.

Fazenda Ouro Verde, a primeira área rural a receber energia elétrica
Fonte: Família Meyer

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

HISTÓRIA DE ITAMBÉ - PARTE 5

      EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
                             
          Até 1950, Itambé ainda era patrimônio de Mandaguari. Mas, com a emancipação de Marialva, um abaixo assinado feito pela população de Itambé e encaminhado ao Governo de Estado por José Joaquim Pereira elevou este Patrimônio a Distrito de Marialva, através da Lei 790. Já em 11 de novembro de 1951, foi elevado a Distrito Judiciário. O subprefeito era o Senhor Rafael Garcia, subordinado à Prefeitura de Marialva.
         No final da década de 50, o Governador Moysés Lupion foi responsável pela criação de muitos municípios, entre eles, Itambé. 

Lei 4.242, que cria o Município de Itambé publicado no
Diário Oficial do Estado do Paraná. 25 de julho de 1960
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé
                            
         O Município de Itambé foi criado no dia 25 de julho de 1960, através da Lei Estadual 4.254. A primeira eleição para prefeito e vereadores ocorreu a 3 de outubro de 1961, João Antônio Claro se tornou Prefeito. A instalação solene, com a posse do Prefeito e Vereadores, foi realizada no dia 30 de novembro de 1961, no Grupo Escolar “Olavo Bilac”. O evento contou a presença do Juiz de Direito da Comarca de Marialva, Dr. Eládio Pinheiro de Lima e do Sr. Jerson Capponi de Melo, vice-presidente da Câmara de Vereadores de Marialva. Dona Ester Mateus Pinto de Melo, Escrivã do Cartório Distrital de Itambé, conduziu a solenidade, na qual foram empossados os Vereadores e o Prefeito do novo Município.
          Abaixo segue a cópia fiel da ata de Instalação do Município de Itambé:

ATA DE INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ITAMBÉ, POSSE DOS VEREADORES DE PREFEITO.

           Aos 30 (trinta) dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e sesenta e um  (1961), neste Município de Itambé, Comarca de Marialva Estado do Paraná, às 16 (dezesseis) horas na sala do Grupo Escolar, local em que foi designado para a respectiva solenidade, presente o M.M. Juiz de Direito da Comarca de Marialva, deste Estado, Dr. Eládio Pinheiro Lima, que convidou para fazer parte da mesa o Sr. Jerson Caponi Melo, Vice Presidente da Câmara Municipal da Comarca de Marialva, Sr.ª Ester Mateus Pinto de Melo M.D. Escrivã do Cartório Distrital, deste Distrito, convidando ainda o Vereador mais idoso Sr. Silvestre Zamberlan, para assumir a presidência da mesa. A seguir pelo M.M. Dr. Juiz foi determinado que para que fosse eleita a Câmara, se procedesse a votação em secreto, o que foi feita obtendo o seguinte resultado: para Presidente Silvestre Zamberlan (5) cinco votos, Vice-Presidente Benito Rodrigues (5) cinco votos. 1º Secretário Antônio Belasque Garcia 5 (cinco) votos; 2º Secretário José Caetano 5 (cinco) votos; aos quais determinou o Dr. Juiz que tomassem os seus respectivos lugares; após a posse. Foi pronunciado pelo Dr. Juiz um breve pronunciamento de agradecimentos e elogios aos membros que acabaram de assumir a Vereança deste Município elogiando ainda as autoridades presentes e ao ilustro Prefeito que ainda ia ser empossado. A seguir com a palavra a mui digna Tabeliã deste Distrito Sr.ª Dona Ester Mateus Pinto de Melo a qual elogiou a Câmara de Vereadores ao Dr. Juiz pelo seu trabalho nesta Campanha e ao Sr. Prefeito e demais autoridades. Prosseguindo o Presidente convidou os edis Severino Valler, Clemente Zelak, e Diomar Pedrine, para que os membros trouxessem o Prefeito eleito João Antônio Claro, para que o mesmo tomasse posse e fizesse o juramento do Cargo que acabou de assumir, a seguir fez uso da palavra o Sr. Dr. Jerson Caponi de Mello, o qual fez os elogios ao Sr. João Antônio Claro e a Câmara Municipal de Marialva, elogiando finalmente a Câmara deste Município. A seguir pediu a palavra o Sr. Clemente Zelak, fazendo uso da mesma falou agradecendo as palavras dos que o antecederam, agradecendo os seus eleitores e criticando finalmente o atraso do horário da posse dos Sr.s Vereadores. O Sr. Presidente colocou a palavra livre. Fazendo uso da mesma o Vereador Rafael Lopes, falando sobre a necessidade que o povo tem sobre uma administração perfeita e rápida. Agradeceu ainda os trabalhos do Sr. Juiz e demais dos que o antecederam. Ficando novamente livre a palavra a qual foi ocupada pelo Sr. Vereador Benito Rodrigues, falou e agradeceu os seus Vereadores, os eleitores, o Dr. Juiz, o Prefeito empossado e finalizando disse que no término do mandato que o seu nome e dos companheiros ficassem gravados com letra de ouro. A continuar usou a palavra o Sub-Tenente Afonso Pinheiro Camargo, agradecendo aos Sr.s Vereadores e os que os antecederam, finalizando falou o Prefeito empossado. Sr. João Antônio Claro este falou que está satisfeito com o povo pela sua vigência durante os seus períodos na vereança o que o mesmo não podia deixar de ser candidato por que a sua amizade era grande e a seguir ainda falou que os Vereadores eram pessoas descentes e competentes para reger os destinos do Município, o mesmo disse ainda que era honesto por que se o mesmo não fosse não teria recebido 3 (três) diplomas e que mesmo foi um Prefeito eleito dentro dos 78 Municípios do Paraná, por isso ele era amigo do Governador, dizendo ainda que foi um grande Vereador da Câmara de Marialva, agradecendo ainda os Vereadores e o Sr. Presidente disse que sabe a dificuldade que tem as crianças por que ele tem 10 filhos e fora outros que o mesmo cria, finalizando agradeceu ao povo. Ainda o Sr. Rafael Lopes pediu a palavra para saber se já havia local para funcionar a Câmara, o Sr. Presidente falou convocando os Vereadores para uma reunião amanhã as 20:30 horas para estudar o seguinte: Local de Reunião da Câmara; Local de Funcionar a Prefeitura; Código de Posturas; Regimento Interno e Subsídios do Prefeito e Gratificação dos Vereadores. Nada mais havendo e se tratar deu-se por encerrada a presente Ata do qual se lavrou o presente termo. Eu Antonio Belasque Garcia Secretário que a escrevi e subscrevi.

Ass.
Silvestre Zamberlan                                                                        Benito Rodrigues
Antonio Belasque Garcia                                                                José Bento
Rafael Lopes                                                                                  Clemente Zelak
José Caetano                                                                                  Diomar Pedrine
                                                                                                      Severino Valler


(Ata transcrita em: ITAMBÉ: Aspectos Históricos, Geográficos e Sócio-econômicos. Elizabete Aparecida Moreno Nardi. Trabalho realizado através de financiamento do Projeto Vale Saber, SEED-Paraná. Itambé, 1996)

Instalação da Primeira Câmara de Vereadores
Fonte: Revista Itambé, 1984

Instalação do Município de Itambé
Fonte: Revista Itambé, 1984
  
              O território que corresponde a este Município foi desmembrado de partes dos territórios de Marialva, Bom Sucesso e São Pedro do Ivaí. Antes disso, o Rio Keller era a divisa entre o Distrito de Itambé e o Município de Bom Sucesso. Os limites de Itambé são: ao Norte com Marialva e Floresta, ao Sul, com Fênix e Quinta do Sol, ao Leste, com Bom Sucesso e São Pedro do Ivaí e a Oeste com Engenheiro Beltrão. A área total do município é de 244 quilômetros quadrados, cortados por diversos rios e córregos. 

Mapa do Município de Itambé
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

              O aniversário de Itambé era comemorado no dia 30 de novembro, instituído através da Lei nº 46 de 17/4/1968. Esta Lei foi revogada pelo Prefeito Gibson Linhares Monteiro e, pela Lei nº 181 de 16/12/1972, a data do aniversário do Município passou para 25 de julho. Mas, no final da década de 70, quando o Prefeito era o Sr. Rafael Lopes e o Brasil governado pelos militares, a comemoração passou a ser no dia 30 de novembro, data da instalação do Município. Pois, o Ministério da Educação, a Secretaria de Estado da Educação e o Núcleo de Educação de Mandaguari, exigiam a participação dos alunos nos festejos, com desfiles, Hino Nacional e hasteamento da Bandeira. Mas as escolas estavam de recesso em julho, por isso a data de aniversário passou a ser comemorada em novembro, quando os alunos se encontravam em período letivo.  A data foi novamente transferida para o dia 25 de julho pela Lei 1008/2009, na primeira gestão de Antônio Carlos Zampar e Benedito dos Santos.

Prefeito João Antônio Claro, sua família e  Padre Eduardo
Fonte: Família Claro


          João Antônio Claro e sua esposa, Maria Ferreira Claro, vieram com seis filhos de Presidente Venceslau/SP para Itambé, em fevereiro de 1951. Inicialmente eles moraram na Fazendo Ouro Verde, onde João ajudou a abrir a mata e formar plantação de café, ficand ali de 1951 a 1953. Depois, mudou-se com a família para o Distrito de Itambé. Em 1953, foi delegado.
         Em 1954, Claro entrou na política, candidatou-se a vereador de Itambé por Marialva, sendo eleito pela primeira vez. Candidatou-se ao mesmo cargo em 1958, vencendo novamente. Em 1961, quando Itambé passou a ser município, o Senhor João Antônio Claro venceu Misdei Moreschi e foi eleito o primeiro prefeito de Itambé. 
           Claro enfrentou muitas dificuldades durante sua administração. Pois a maioria dos vereadores lhe fazia oposição.
        Em 12 de abril de 1964, em cumprimento à Emenda Constituicional nº 6/64, de 23 de fevereiro do mesmo ano, a Câmara dos Vereadores se reuniu e elegeu, por unanimidade, o Senhor José Pereira de Melo para assumir a cadeira de Vice-prefeito. Cargo que exerceu até o fim do mandato de Claro.
          Mesmo enfrentando dificuldades, na gestão de Claro, foi instalada  água puxada a motor e rede de encanamentos;  foram feitas redes de energia elétrica, com o apoio do Diretor da Eletrobrás, João Grenier, e do Governador Ney Braga. Com a ajuda do Vereador Severino Valler, foi instalado o telefone. Houve a criação da Escola  Normal. Ainda foram construídas várias escolas isoladas nos bairros e comunidades rurais, como: Visconde de Mauá, Bairro Catarinense, Monteiro Lobato, Gabriel de Lara, Fazenda Garcia, entre outras. 


Escola Isolada Gabriel de Lara, construída na gestão de Claro
Fonte: Família Claro

            Em 1966, Sr. João Antônio Claro, apoiou o Sr. Misdei Moreschi para candidato a prefeito e Sócrates da Veiga para vice. Eles venceram e passaram a administrar o Município.
          Claro ficou em Itambé até 1974. Depois se mudou para Cascavel/PR com sua esposa e filhos. Ele faleceu em 12 de dezembro de 1989, aos 73 anos.
                                           NOVAS CONQUISTAS

          Já na gestão seguinte, de acordo com o Sr. Alcides Benossi, o novo Prefeito Misdei Moreschi e seu Vice Sócrates da Veiga conseguiram o apoio da Câmara. No primeiro ano de administração, a Prefeitura adquiriu uma máquina niveladora usada, Caterpilar, e foi possível melhorar as estradas. Também foi construída a primeira praça da cidade, a Praça Rui Barbosa,               inaugurada nos anos 60, com a presença do Deputado Estadual Arnaldo Busato.  O nome desta foi sugerido pelo Chefe de Gabinete João Batista da Silva Paixão, por ter sido morador da cidade de Rui Barbosa-BA. A praça foi remodelada várias vezes nas gestões seguintes.

Praça Rui Barbosa
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

           O primeiro prédio da Prefeitura era de madeira e foi construído pelo fundador de Itambé, João Cortez Cappel, no final da década de 40. O prédio ficava no mesmo local da atual Prefeitura, mas sua entrada era pela Rua Humberto Moreschi.

Ao fundo, prédio da antiga Prefeitura
Fonte: Laura de Azevedo Coutinho

          Em 1969, na gestão de Misdei Moreschi e Sócrates da Veiga, iniciou-se a construção da atual Prefeitura, que foi inaugurada na posse do Prefeito Gibson L. Monteiro, em fevereiro do ano seguinte. O evento foi destaque no Jornal Folha de Londrina, edição de 15 de fevereiro de 1970. A reportagem relatou a importância da obra para Itambé. 

Inauguração da Prefeitura Municipal de Itambé, 1970
Fonte: Vera Eloísa de Melo Assis

            De acordo com a publicação, como Misdei não fazia discursos, falou em seu nome o Advogado Casemiro Leonidas Choclay.

       “Em nome do Sr. Misdei Moreschi – disse o advogado – queremos agradecer a honraria com que a Câmara de Vereadores o distingui. Agradecer também o prestígio que lhe foi dado ao longo de seus quatro anos de administração, período em que dotou Itambé de energia elétrica, escolas, motoniveladoras, veículos, estradas, além de outros benefícios, entre os quais essa Prefeitura.
        O Prefeito que a mim confere a honra de representa-lo em seu discurso, sempre foi fiel ao seu “slogan” – “Mais Ação e Menos Conversa” - , de forma, que hoje, graças a esse princípio, Itambé se faz respeitada em todo o Estado, principalmente em Curitiba,”
      (Fonte: Folha de Londrina – 15/02/1970 – ano 23/nº 5405)

Folha de Londrina destaca a inauguração
Da Prefeitura de Itambé, 15/02/1970
Fonte: Vera Eloísa de Melo Assis

            Ainda, segundo a mesma reportagem de A Folha de Londrina, o primeiro trecho de asfalto também foi construído nesta gestão, na Avenida São João, entre a Praça Rui Barbosa e a Rua 15 de Novembro, com recursos e maquinários do Município. Depois o asfalto foi estendido em torno da Praça e continuação da Avenida São João. As pedras para o trabalho eram trazidas de outros municípios. Além disso, foram ampliadas as redes de energia elétrica, água e telefone, foi feita a arborização das ruas, meio fio e calçadas na Avenida São João. Foi adquirida uma perua para transporte de professores à zona rural, máquinas para a abertura de 80 quilômetros de estradas rurais, para a fabricação de artefatos de concreto, 300 metros de galerias fluviais, construção de pontes, bueiros, construção do prédio da unidade sanitária e outras obras.

Contrução dos meio-fios na Avenida São João
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

                                          SÍMBOLOS MUNICIPAIS
            Outro marco importante desta época foi a instalação dos símbolos do Município: o Brasão, a Bandeira e o Hino a Itambé. A escolha dos símbolos coube ao Chefe de Gabinete João Batista da Silva Paixão e à Professora Yara Nobre de Almeida Grenier. Os desenhos da primeira bandeira e do primeiro brasão foram feitos em Maringá.
          O Hino a Itambé foi escrito por Sebastião de Lima.  De acordo com artigo publicado no jornal Estado do Paraná, em 31 de outubro de 1981, pelo jornalista Aramis Millarch, com a manchete “Sebastião, o homem dos hinos do Paraná”, Sebastião de Lima nasceu em Miraí, Minas Gerais, e chegou ao Paraná em 1957. Ele era ex-sargento da Escola de Oficiais Especialistas e Guardas e também compositor popular. Morou entre as décadas de 40 e 50 no Rio de Janeiro, onde conviveu com outros compositores, como: Ataufo Alves, Francisco Alves, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Orlando Silva, e outros. Entre suas composições de maior sucesso estão: “Vida de Vaqueiro”, “Eu Tiro Leite”, “Vaqueiro de Jamba”. Na década de 70, passou a dedicar-se mais a composição de hinos municipais, com ajuda da advogada Vera Vargas, irmã do então deputado Túlio Vargas. Só no Paraná, criou 186 canções até 1981. Sobre este trabalho, o artigo declara:

         “Quando o município é novo e não tem história, tradição ou fatos que inspirem uma letra verdadeira, Sebastião coloca em ação sua imaginação: “Não há problema, é só uma questão de bem pensar,” diz ele, que faz músicas e letra e cuida da produção, requisitando para a gravação a banda da EIEG, da qual fez parte até 1957, como regente auxiliar e músico.”
(site pesquisado em 2012)

             Sebastião de Lima compunha seus hinos para as Prefeituras que solicitavam por este trabalho, que era mais lucrativo que as composições de música popular. Segundo a publicação, em 1981, aos 63 anos, o compositor seguia viagem para Minas Gerais, onde faria mais hinos municipalistas.

     HINO A ITAMBÉ 
Itambé minha terra querida
Serás lembrada por todas gerações
Esta terra, cidade florida
Relicário de todos corações.

Creio em ti, solo rico do Ivaí
Itambé, cidade igual eu nunca vi

Em teu solo tem riquezas mil
Que progride ao trabalho criador
Tua gente trabalha varonil
Na infinita terra do esplendor.

Creio em ti, solo rico do Ivaí
Itambé, cidade igual eu nunca vi

Lindos campos e verdejantes matas
Conquistadas às margens do Ivaí
Um governo bandeirante faz bravata
Neste mundo verdadeiro amor surgiu.

Creio em ti, solo rico do Ivaí
Itambé, cidade igual eu nunca vi.

        O Hino foi gravado numa pequena fita cassete, que ficou por muito tempo guardada na Prefeitura. Então, a Professora de música Lucimeire Severo de Lima decidiu fazer a partitura do hino para tocar na sua bandinha rítmica. Ela lembra que foi muito difícil traduzir os sons da fita em notas, mas contou com a ajuda da professora Benedita Machado e Márcia Josefa Pedrine. Elas ouviram muitas vezes a gravação até conseguirem tirar todas as notas da canção, que foi tocada pela bandinha numa solenidade de formatura. Em 2007, Lucimeire levou o hino a Maringá e este foi gravado em CD (disco compacto) pelo cantor e músico Reginaldo Granero. Dessa forma, este símbolo municipal pôde ser mais difundido entre os itambeenses.
        Outro símbolo municipal que Itambé ganhou foi o brasão, criado através da Lei 18 de 04/07/1967. Nele havia o desenho do Rio Ivaí, o maior rio que banha o município, das lavouras de café e algodão, produtos que alavancaram o crescimento do município, o Cruzeiro do Sul, que servia como bússola para os exploradores, a Coroa Mural em cor de amarelo ouro, símbolo do domínio universal, além de um arado de mão, simbolizando o trabalho artesanal do homem do campo e montes que deram origem ao nome de Itambé. Abaixo do Brasão, a frase “Itambé – Solo Rico do Ivaí”, destaca a localidade onde o município está situado e a riqueza das suas terras.


Primeiro Brasão de Itambé
Fonte: Biblioteca Municipal Pref. Gibson L. Monteiro

              A bandeira retangular era azul com o brasão no centro, que simboliza a expansão do poder em todo o Município.

Primeira Bandeira de Itambé
Fonte: Biblioteca Municipal Pref. Gibson L. Monteiro
                                     
          Houve conquistas também para a área da agricultura. No mandato de Gibson Linhares Monteiro e Paulo Orlandini, através do Deputado Estadual Prof. Ari de Lima, Itambé recebeu a patrulha agrícola, composta de cinco tratores equipados e uma colheitadeira, todos da marca Massey Ferguson, para atender aos pequenos produtores. 

Máquina da Patrulha Rural
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

           Destacam-se ainda a aquisição de móvies para a Câmara e Prefeitura, término da ponte do Rio Keller, na estrada entre Itambé e São Pedro do Ivaí, calçamento na cidade, construção do muro do cemitério, do Estádio Municipal com vestiários e cercas de madeira, além do alambrado, ampliação das redes de água e energia, construção de escolas rurais, instalação da biblioteca pública, com ajuda de doadores de livros, entre outras obras.

Prefeito Gibson Linhares Monteiro
Fonte: Vera Eloísa de Melo Assis

         De acordo com o ex-vereador Jovânio Pereira dos Santos, no segundo mandato de Misdei Moreschi, tendo como Vice o Senhor Mário Forastiere, foi adquirido um britador, uma pedreira, uma moto niveladora Ubervaco 165S, duas pás carregadeiras, uma W7 e outra W20, uma retroescavadeira 180H, três caminhões basculantes, um trator esteira AD14. Então a Avenida São João recebeu galeria e asfalto em mais duas quadras. Além disso, três veículos da marca Wilis e um Fusca também foram adquiridos. Tudo comprado com recursos próprios, advindos da arrecadação da Coletoria. 


Prefeito Misdei Moreschi, vice-prefeito Mário Forastieri e vereadores
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

         A Coletoria, ou Agência de Rendas, era administrada por Clemente Zelak, natural de Rio Claro do Sul. Ele chegou a Itambé em 1955 para ocupar o cargo. Além disso, foi Vereador, comerciante e agricultor.

Máquinas adquiridas pela Prefeitura
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

          Assim, as dificuldades iniciais foram amenizadas e Itambé conquistou mais qualidade de vida para seus moradores e o perímetro urbano ganhou novas casas e prédios comerciais.

Vista aérea de Itambé, 1970
Fonte: Vera Elosísa de Melo Assis

                                     CÂMARA DE VEREADORES

           A Câmara de Vereadores de Itambé, como já relatado acima, desde o início foi muito atuante, tendo como função criar leis, projetos e fiscalizar o Poder Executivo. Na primeira legislação foi de 1961 a 1964, os vereadores não recebiam salário, pois o município tinha menos de cem mil habitantes, mesmo assim era preciso disputar a eleição com muitos candidatos, chegando a três por vaga.

Primeira Câmara Municipal de Itambé
Fonte: Câmara Municipal de Itambé

         O Primeiro Presidente da Câmara foi Antônio Belasque Garcia e o segundo foi José Caetano, conhecido como Zé Belmiro. Os demais vereadores desta legislação foram: Clemente Zelak, Severino Valler, Diomar Pedrine, Rafael Lopes, Silvestre Zamberlan, José Caetano e Benito Rodrigues. A partir de 25 de julho de 1974, pelo Decreto Lei estabelecido pelo Presidente da República Ernesto Geisel, os vereadores de pequenos municípios passaram a receber salários. 

Reunião da Câmara dos Vereadores, 5ª Legislatura
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

         Entre os muitos projetos da Câmara se destacam: a criação da creche, da APMI, a subestação da Copel e Sanepar, a ligação de asfalto entre Itambé e Floresta, a inclusão na Constituição Federal do auxílio de um salário mínimo para todos os deficientes do Brasil; projeto enviado para a Comissão Paranaense que participou da elaboração da Constituição de 1988 pelos vereadores Jovânio Pereira dos Santos e Pedro Rampelotti. 
        O trabalho da Câmara é essencial ao Município, pois garante a manutenção da democracia e o cumprimento das leis.

                                      POLÍCIA CIVIL E MILITAR

           Segundo Vera Eloísa de Melo Assis, quando Itambé ainda era patrimônio e havia poucos moradores na área urbana, seu avô, José Joaquim Pereira, foi o primeiro inspetor de quarteirão. Designado pelo prefeito de Marialva, sua função era cuidar da ordem pública caso surgisse algum problema. Depois, outras pessoas assumiram esse posto. Com o aumento da população urbana, exigia-se a presença da polícia. Alguns policiais militares foram designados para trabalharem aqui, como o Sargento Darci e o Cabo João. Outros soldados foram o Cabo Noronha, o Soldado Joaquim, entre outros. Nos anos 60, vieram para Itambé o Sargento José Jovancil e o Cabo Zito. 

José Joaquim Pereira e sua esposa
Maria Altina Pinto de Melo
Fonte: Renecéya de Melo Assis

          De acordo com Aparecida Claro Moreschi, João Antônio Claro começou a trabalhar como o primeiro delegado de Itambé em 1953. Na época do incêndio que aterrorizou toda a população da cidade. Como delegado, lutou muito com o povo para apagar o fogo. 
          Quando Itambé deixou de ser patrimônio e foi elevado à categoria de Distrito, o Senhor José Pereira de Melo foi nomeado delegado. Os delegados da época eram chamados de “calça curta”, por não terem formação superior. O termo é pejorativo e foi criado pelos baixaréis de Direito. Os “calças curtas” faziam os mesmos trabalhos que os graduados. A esposa de José, Dona Ester Mateus Pinto de Melo, era a escrivã da polícia. Quando acontecia algum crime ou contravenção na área rural, ela ia com o marido ou um policial até a localidade e levava sua máquina de escrever para registrar os depoimentos.
          Vera Eloísa de Melo Assis relata que havia muitos homicídios neste Distrito. Alguns eram motivados por brigas na zona de prostituição, além de disputas por terras. Segundo Vera, todos andavam armados com peixeira, uma espécie de faca muito comprida e afiada, ou armas de fogo. Alguns proprietários de terras contratavam jagunços, ou capangas, para ajuda-los a se defender. Além disso, disputas políticas geravam muitos atritos armados. Sendo assim, era preciso ter muita coragem para assumir o cargo de delegado. José Pereira Melo atuou nesta função vários anos.

José Pereira de Melo
Fonte: Vera Eloísa de Melo Assis

        Mário Giraldelli substituiu José P. de Melo, em meados da década de 50.Também ocupou o cargo o senhor Nicolau Lopes, irmão do ex-prefeito Rafael Lopes e o Senhor Heleno.
       Mudava-se constantemente de delegado, visto que este posto era indicado pelo poder político. A pessoa que ocupou o cargo por mais tempo foi o senhor Alvenires Vedovelli, de 1977 a 1991, quando morreu num acidente automobilístico na rodovia entre Itambé e Floresta. Alvenires era de Cambará/PR, chegou a Itambé com os pais, Guido Vedovelli e Iolanda Ebirolli, em 1955. Inicialmente trabalhou no comércio, depois assumiu o cargo de Delegado Titular.  Em 1984, auxiliavam-no os soldados: Valter Gabriel Fertonani, José Evaristo de Almeida e Adão Carlos Serapião, do 4º Batalhão da Polícia Militar de Maringá.

Alvenires Vedovelli, delegado
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

          Depois outros delegados “calça curta” e baixaréis ocuparam o cargo. Por fim, houve uma resolução do Governo do Estado, Roberto Requião, nomeando o comando da Polícia Militar para administrar a Polícia Civil. A partir de 2003, o Sargento Paulo Sérgio Celestino ficou responsável pelas Polícias Civil e Militar de Itambé. Em 2006, a responsabilidade passou para o Sargento Robson Luiz Louzada. Atualmente, um investigador está à frente da Polícia Civil de Itambé.

                                                CARTÓRIO

           De acordo com Vera Eloísa de Melo Assis, em 1948, seu pai, o Senhor José Pereira de Melo era motorista de transportes e vereador em Abatiá, próximo de Santo Antônio da Platina, e veio conhecer Itambé, porque os avós de Vera, José Joaquim Pereira e Maria Altina de Melo haviam comprado terras na Água Manduri. Como gostou do lugar, José Pereira de Melo também comprou um sítio na Gabirobeira, que empreitou para o Senhor Américo Orlandini. José notou que não havia ainda nenhum cartório nesta localidade. De volta à sua cidade, conversou com a esposa, a Professora Ester Mateus Pinto de Melo, sobre a possibilidade de pleitearem o cartório em Itambé. Eles se mudaram para cá e Dona Ester, professora estadual, tomou posse como professora responsável das Escolas Reunidas de Itambé.
         Mas ela já começou também a trabalhar para o cartório de Marialva, fazendo registros civis em Itambé. O primeiro casamento registrado no Distrito foi o de José Gonçalves de Souza e Maria Francisca de Andrade, em 1º de maio de 1954; o primeiro nascimento e, infelizmente, o primeiro óbito registrados são do bebê Eleneuza Maria dos Santos, filha de Adalvo José dos Santos e Maria Amélia dos Santos, em 7 de abril de 1954.

Família Melo
Fonte: Vera Eloísa de Melo Assis

          O Senhor João Cortez Capel fez um documento ao Governo do Estado apresentando Dona Ester como candidata ao cartório, documento este entregue por José Pereira de Melo diretamente ao Governador Moisés Lupion. Vera destacou que, nesta época, a mulher ainda era subjugada pela sociedade e pelas leis em relação ao trabalho. Até a década de 40, a Constituição da República Federativa do Brasil determinava que a mulher só poderia trabalhar mediante autorização escrita do marido. Mesmo com a promulgação da CLT, Consolidação das Leis Trabalhistas, de 1943, que garantia o direito mais amplo da mulher ao trabalho, este só poderia ser exercido caso o marido não o considerasse uma ameaça ao casamento. Então, para que Dona Ester pudesse se candidatar ao concurso, no qual só homens participavam, a ajuda do marido e de Cortez, fundador do Distrito, era fundamental. Assim ela se inscreveu e foi aprovada no mesmo. Porém, como não havia nenhuma mulher ocupando a função de Serventuária da Justiça em todo o Estado do Paraná e os homens que foram aprovados depois dela se sentiram rebaixados, questionaram o direito dela de assumir a vaga. Dona Ester entrou com um Mandado de Segurança que foi homologado imediatamente pelo Juiz de Direito Dr. Leandro Freitas de Oliveira, da Comarca de Marialva, dando a ela o direito de assumir o cargo. O mesmo Juiz veio a Itambé empossá-la em 1955. Vera ressaltou que Dona Ester Mateus Pinto de Melo foi a primeira mulher paranaense a assumir o posto de Serventuária da Justiça no Estado. 

Título de Serventuária da Justiça concedido pelo
Governador do Estado do Paraná à Dona Ester
Mateus Pinto de Melo, 12 de maio de 1955
Fonte: Vera Eloísa de Melo Assis

           Assim os registros de imóveis, nascimentos, casamentos e outros ficaram sob a responsabilidade do Cartório de Registro Civil Melo. Como serventuária da justiça, Dona Ester atuou por trinta anos, participando ativamente da vida social e política de Itambé. Junto com Dona Isabel Rodrigues e Divina Rodrigues, foi professora de catequese, membro do Apostolado de Oração, Ministra de Eucaristia. Participou da instalação do Município de Itambé, como já fora mencionado e de inúmeros atos públicos. Dona Ester aposentou-se e, em janeiro de 1991, seu filho José Tadeu Pereira de Melo assumiu a titularidade do cartório. Em 1996, Tadeu faleceu e sua esposa, Vera Lúcia de França Melo, assumiu seu lugar, atuando como cartorária.

Dona Ester Mateus Pinto de Melo realizando casamento coletivo. (Década de 80)
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

          Então, em fevereiro de 2003, através de um novo concurso público, a Advogada Yra Liz Stadler Franco assumiu o cartório que passou a ser denominado Cartório Stadler. 

Título de Delegação de Yra Liz Stadler Franco
Fonte: Yra Liz Stadler Franco

O circo no Moreschi

 Bairro Moreschi (Fazenda Anjo da Guarda), local onde, possivelmente, o circo fora montado                                           ...