A fundação de Itambé
Itambé
– Distrito de Marialva
João
Cortez Capel
O nome
do Distrito
O
menino que viu Itambé nascer
Desmatamento
Área
Urbana
Cultivo
de hortelã menta
O café
Criação
de animais
Sindicato
dos Trabalhadores Rurais
ITAMBÉ – DISTRITO DE MARIALVA
O território onde hoje é Itambé, até o início
da década de 40, pertencia a Londrina, município que se estendia até o Rio
Paraná, tendo aproximadamente 22.400 km2.
Nesta época, havia apenas 49 municípios
no Estado. Já em 1943, grande parte das terras
passaram a pertencer à Apucarana, que herdou de Londrina 18.658 km2, tudo
coberto de Mata Atlântica.
Em 1947, quando começou a ser colonizado, Itambé
pertencia a Mandaguari, que se estendia por 14.000 km2 e três distritos:
Marialva, Maringá e Paranavaí. Em 1951, os três distritos foram emancipados.
Marialva, com 21.369 habitantes, tornou-se município com dois distritos:
Marialva e Itambé, em 1954, foi criado mais um, Sarandi.
Município de
Mandaguari, 1947.
(site pesquisado em 2012)
Toda a colonização do Norte do Paraná
começava com a demarcação das terras. Para tanto, havia o trabalho do
agrimensor. De acordo com a Wikipédia, agri vem de agrícola e mensor de se
refere à medida. Sendo assim, o agrimensor tem o papel de medir e dividir
propriedades nas áreas rurais e urbanas. Esta função surgiu no antigo Egito.
Como o Rio Nilo transbordava todos os anos apagando as marcas físicas de
divisões de propriedades, o Faraó resolveu o problema nomeando um profissional
para medir e dividir as terras novamente: o agrimensor.
Para ilustrar como era a vida dos
agrimensores, recorreu-se ao depoimento da viúva de um destes profissionais,
Dona Rosalina Maria Aparecida da Silva, mais conhecida como D. Rosa Bandeira.
Ela veio para cá em 1943 acompanhada de seu esposo, um agrimensor contratado
pelo Governo do Estado, o Sr. Francisco da Silva, popular Sr. Bandeira. Ele
mensurava as terras da margem esquerda do Ivaí, hoje Quinta do Sol, que
pertenciam ao Estado. Dona Rosa afirma que em Itambé só havia uma picada por
onde passavam com muita dificuldade.
Dona Rosa e o carro com que desbravavam o sertão
Fonte: Família Bandeira
Ela lembra que eles vinham de
Japurá e chegavam até o Ivaí de carro por picadas abertas na mata, era preciso
desviar dos troncos, atravessavam o rio na Balsa Ilda, também subiam por ele de
bote a motor. Era necessário levar pouca bagagem, alimentos só até dez quilos.
A gleba a ser mensurada era localizada por mapas e por indicação de pilotos de
avião que sobrevoavam o local.
Para abrigar-se durante o trabalho,
o agrimensor e sua equipe faziam barracas de lona, cercadas com folhas de
palmito, a cama era um lençol no chão, não havia nenhum conforto. A equipe
mudava-se a cada oito dias para medir e fazer picadas em outras terras.
Media-se primeiro todo o entorno da gleba, que podia chegar a dois mil
alqueires, depois esta era subdividida em pequenos lotes e os picadeiros,
homens que ajudavam no trabalho, abriam caminhos para se chegar a cada lote,
chamados de picadas. O desmatamento da área ficava por conta de quem adquirisse
as terras. Geralmente as madeiras mais nobres eram vendidas e o restante da
mata era aniquilado pelo fogo. Assim fazia-se a “limpeza” da área para o
cultivo da terra.
Barracas montadas pelo agrimensor e sua equipe
Fonte: Família Bandeira
De acordo com Dona Rosa, havia
dificuldade em vender os lotes porque ninguém queria terras devido à malária.
Ela afirma ter contraído várias vezes a doença. Então os lotes eram vendidos a
famílias que já estavam vivendo na região.
Outro problema encontrado por Dona
Rosa eram os animais que invadiam o acampamento. Diariamente, quando ela ia
lavar os pratos no rio, porcos do mato cercavam as barracas à procura de
alimento. Só iam embora quando ela fazia muito barulho. Havia também onças, jacarés
e veados.
Veado nadando no Rio Ivaí em 1951
Fonte:http://amemoriadosesquecidos.blogspot.com.br/2014/04/a-expedicao-nos-rios-ivai-e-parana-ate.html
Acesso: 29/03/2015
Tempos depois da abertura das terras
de Quinta do Sol, a Família Bandeira resolveu estabelecer-se à margem esquerda
do Ivaí, adquirindo um lote de terras do Governo do Estado, mas possuía uma
casa em Itambé, onde os filhos moravam para estudar. Então, para atravessar o
rio, eles construíram uma pequena balsa com tambores de óleo diesel e tábuas,
que era puxada por cordas. Depois foi feita uma balsa maior movida a motor.
Primeira Balsa – Fonte: Família Bandeira
Segunda Balsa da Família Bandeira
Fonte: Família Bandeira
O condutor da balsa, entre 1975 e 1980, foi o
pernambucano Sr. Celestino Barbosa da Silva, que vive às margens do Ivaí desde
1963. O rio era atravessado por tratores, carros, máquinas agrícolas,
caminhões, com destino à Quinta do Sol, Barbosa Ferraz ou Campo Mourão. Segundo
Celestino, a balsa tinha a capacidade de levar doze carros de uma só vez ou
oito caminhões carregados. A travessia durava cerca de quatro minutos. Mas um
dia, furou o batelão da balsa, choveu um dia e uma noite, encheu de água e não
foi possível retirá-la. Um trator foi usado para rebocá-la, sem sucesso. Então
a água do rio foi subindo, os cabos de aço que prendiam a balsa romperam e ela
afundou.
Senhor Celestino, o balseiro
(site pesquisado em 2012)
Um dos
agrimensores que ajudaram a demarcar as terras de Itambé foi o Senhor José
Bianchessi, catarinense de Botuverá. Por desentendimentos com a família, José
mudou-se para Norte do Paraná, onde começou a trabalhar como picadeiro na
Companhia Melhoramentos, até tornar-se agrimensor leigo. No final
da década de 40, ele conseguiu emprego para o primo Oswaldo Bianchessi na mesma
Companhia. Este, por dois anos, fez picadas para demarcar os lotes e também
cozinhou para os outros picadeiros. Além de prestar serviços em Itambé, Oswaldo
trabalhou em São João do Caiuá, Santo Antônio do Caiuá e Paiçandu.
Estudos realizados
pela Professora Elizabete Aparecida Moreno mostram que a Companhia
Melhoramentos Norte do Paraná começou a demarcar e lotear a região de Itambé
por volta de 1944.
Agrimensores e picadeiros que trabalharam em Itambé
Fonte: Família Bianchessi
JOÃO
CORTEZ CAPPEL
O responsável pela colonização de Itambé foi o
Senhor João Cortez Capel, corretor de imóveis da Cia. Melhoramentos Norte do
Paraná. De acordo com a REVISTA CAFÉ, de 16 de maio de 1951, Londrina, Cortez
nasceu na província de Almeria, Espanha, a 4 de fevereiro de 1905; filho de
Indalécio Cortez Felices e Ana Cappel Sanchez. Aos doze anos de idade já
começou a trabalhar num armazém em sua cidade natal. Aos treze, empregou-se
juntamente com seu pai numa empresa de extração de minérios, onde conseguiram
juntar algumas economias.
João Cortez Capel, fundador de Itambé
Fonte: Fabrícia Cortez
Em 1917, eles tomam conhecimento que uma
firma de Gibraltar, na Península Ibérica, estava enviando emigrantes para o
Brasil. Pai e filho foram até àquela cidade, mas chegando lá receberam a
notícia que, devido à Primeira Guerra Mundial, o tráfego marítimo estava
suspenso. Então eles decidiram trabalhar naquela cidade mesmo. Em 1919,
terminada a guerra, a navegação se normalizou e, enfim, a família veio para o
Brasil abordo do velho navio francês Aquitanie. A viagem durou 43 dias; o
desembarque se deu no dia 14 de outubro. A princípio, instalaram-se na Casa dos
Imigrantes em São Paulo, capital. Depois seguiram para a Fazenda Capuava, em
Guariba, no mesmo Estado, trabalhar no cultivo de café. Lá, João Cortez Cappel
ouviu as histórias dos bandeirantes que desbravaram os sertões do Paraná e
começou a sonhar em ser também um desbravador.
A família Cortez trabalhou por dezoito
anos em diversas fazendas até que conseguiu adquirir um sítio de 20 alqueires
em Cafelândia, São Paulo. Porém, as intempéries climáticas e as formigas
prejudicavam a produtividade. Então João percebeu que havia muita argila no
sítio, fez um empréstimo de 10 contos de réis com o Dr. Gilberto Figueira e
montou uma modesta olaria na propriedade. Formou um estoque de 180.000 unidades
de tijolos, mas quando foi vender o produto, ele descobriu que o milheiro só
valia 50 mil réis.
Depois, João partiu para a atividade
veterinária, como castrador de animais, tornando-se assistente do perito
Eduardo Martins. Em pouco tempo, tornou-se melhor profissional que o mestre e
sua fama espalhou-se por uma vasta zona do Estado de São Paulo. Todos os
pecuaristas solicitavam seu trabalho, a prosperidade começou aqui.
Mas João ainda se lembrava do sonho de ser
desbravador. Em 1936, espalhou-se a notícia de uma obra gigantesca: a
colonização do Norte do Paraná. Cortez, decidido a dar uma vida melhor para os
pais, segue para o Paraná em março do mesmo ano. Chegou a Cornélio Procópio com
16 réis e hospedou-se no Hotel do Norte. Saiu à procura de emprego e, por
intermédio do Sr. Manoel Calvo, conseguiu trabalho de castrador na Fazenda do
Coronel Bresser. O segundo trabalho, também por intermédio de Calvo, foi na
Fazenda Matarazzo, a 24 quilômetros de Cornélio Procópio. E, assim, de fazenda
em fazenda, Cortez permaneceu por três meses. Em seguida, voltou a Cafelândia,
vendeu o sítio e a olaria. Como estava viúvo,
casou-se com Jeruza Gomes no dia 31 de dezembro de 1936. Retornou oito dias
depois a Cornélio Procópio e, com os quatro contos de réis da venda das
propriedades, ergueu uma casa modesta num rancho. Abandonou a profissão de
castrador e ingressou na Companhia de Terras Norte do Paraná, como corretor, no
cargo de subgerente. Meses depois, em substituição ao agente João Schiavina,
tornou-se agente autorizado da Companhia.
Cappel com seus pais: Indalécio Cortez Felices e Ana Cappel Sanchez
Fonte: Fabrícia Cortez
Mesmo em um alto cargo, os resultados
financeiros eram modestos devido à falta de propaganda sobre as terras. Então
Cortez tornou-se também mascate para ampliar sua receita. Além disso, trabalhou
novamente como castrador e fotógrafo, uma das antigas profissões de seu pai.
Quando a Cia. passou a investir em propaganda, as vendas de terras aumentaram,
pois agricultores de todo o país vinham adquirir lotes no Norte do Paraná.
Assim foi possível a Cortez abandonar suas outras profissões e dedicar-se
apenas à corretagem de terras. Com o sucesso de seu trabalho, a Cia. nomeou-o
vendedor exclusivo dos lotes de Cornélio Procópio e Bandeirantes. Em 1941, o
corretor mudou-se com a família para Cambé, onde construiu uma casa. Porém, por
ordem da Cia., precisou voltar para Cornélio Procópio, a fim de ficar mais
próximo do local de suas vendas. Já em 1944, passou a residir em Londrina.
João Cortez Cappel no seu escritório em Londrina
Fonte: Fabrícia Cortez
João Cortez Cappel também se dedicou a
agricultura, adquiriu doze alqueires em Mandaguari para cultivar café. Mas,
devido à distância das terras em relação à Londrina, vendeu-as e adquiriu
outros lotes em Astorga. Com o trabalho de corretor e cafeicultor, ele
enriqueceu. Cortez negociou terras em várias partes do Norte paranaense.
Ele próprio relatou à Revista Café que estava
difícil vender lotes da Gleba Ijuí, atual Município de Itambé, mesorregião
do Norte Central Paranaense, pois a
região ficava longe de qualquer cidade ou distrito que abastecesse os
agricultores. Então, tomou uma importante decisão: construir uma cidade com seu
dinheiro. Como se pode ver na citação abaixo:
Localização de Itambé no mapa do Paraná
Fonte: Google Imagens
“Quando
a Companhia Norte do Paraná resolveu abrir a zona de Itambé, loteando-a para
venda, João Cappel notou certo retraimento de parte dos prováveis compradores.
Procurando inteirar-se das causas de tal atitude, teve a solução, e compreendeu
perfeitamente o que havia a fazer.
A longa distância da gleba a mais próxima
condução ou posto de abastecimento dificultava sobremaneira a colonização da
mesma.
Não
teve outra idéia o dinâmico Cortez Cappel, imediatamente traduzia em grave
compromisso: se a Companhia não fundasse nessas terras um patrimônio-sede, com
os estabelecimentos comerciais necessários à vida de seus habitantes, ele, João
Cortez Cappel, comprometia-se a fazê-lo, à sua própria custa.
Nada
conseguindo da Companhia, cumpriu a promessa: montou bem aparelhada serraria,
bastante para construções no patrimônio como aos sítios vizinhos; construiu o
Grupo Escolar e uma boa Igreja; estabelecimentos comerciais para alugar e
alguns abastecidos por si próprios; presentemente iniciadas foram as
construções da Cadeia Pública, da estação Rodoviária e muragem do cemitério,
tudo por conta do seu bolso.”
(Fonte: Revista do Café e Açúcar, Maio Junho de 1951, pág. 104)
Propaganda de lotes de Itambé
Fonte: Revista do Café e Açúcar, Maio Junho, 1951, pág. 40
Então, em 1951, Cortez comprou um lote na
Gleba, onde fica hoje a cidade de Itambé. Fez um mapa urbano, dividindo a área
em ruas, quadras, terrenos e praças. Registrou o mapa em Curitiba e começou a
vender estes terrenos às famílias que migravam para cá. Sendo assim, todas as
primeiras escrituras destes terrenos estavam em nome de João Cortez Cappel. Até
hoje, há lotes que ainda não foram transferidos e estão em seu nome.
Mapa de Itambé registado por Capel.
Fonte: Elizabete Aparecida Moreno
É interessante verificar que o mapa
de Cortez possuía o mesmo traçado que a cidade de Itambé tem até hoje. Isto
mostra que a organização proposta pelo agrimensor foi respeitada, com poucas
ressalvas, como o local onde está a Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças. De
acordo com o mapa de Cortez, ela deveria ter sido construída bem no centro da
Praça Rui Barbosa e, onde a Igreja está hoje, seria uma rua. Além disso, os
conjuntos habitacionais não estavam previstos no mapa. O Sr. Jovânio Pereira
dos Santos conta que até os nomes das ruas foram escolhidos por ele. Quando a
pioneira Pelarga Buchinski Schischoff chegou a Itambé, em 1947, a Avenida São
João se chamava Avenida João Cortez. A Rua São Pedro leva o nome do filho mais
velho de João, Pedro, assim como a Rua Santo Indalécio leva o nome de outro
filho e também do pai de João, Indalécio. A antiga Rua Santana, hoje Rua Dr.
Lafayette Grenier, levava o nome da filha de João Cortez, Ana; já a Rua dos
Expedicionários é uma homenagem aos expedicionários na 2ª Guerra Mundial. A Rua
das Loudes, hoje Rua Antônio Belaski Garcia, foi em honra à sua outra filha.
Com o passar do tempo, alguns nomes de ruas foram mudados, mas outros
permaneceram.
Jesusa, esposa de Cortez, e seus filhos que nomearam as ruas de
Itambé:
Lourdes, Ana, Indalécio e Pedro.
Fonte: Fabrícia Lopes Cortez de Abreu
Assim
nasceu Itambé, da firme determinação de um homem, que investiu seu próprio
dinheiro e energia para ajudar a construir novos sonhos. Segundo o pioneiro
Antônio R. Machado, a seriedade e honestidade de Cortez estimularam os
agricultores a adquirirem lotes em Itambé.
Cortez oferecia os lotes daqui a
moradores de Londrina, Uraí, Bandeirantes, Cornélio Procópio, que adquiriam
sítios e se mudavam para cá. Inicialmente foi sendo habitada a zona rural da
localidade.
Os primeiros lotes foram comprados em
1946. Massakasso Honda adquiriu vários e os distribuiu para seus filhos. Ovídio
Pinto Mello, que também adquirira um lote em 46, na Estrada Gabirobeira, vendeu
seus direitos a Luiz Dela Colleta. Outros compradores foram: Gaudêncio Severo
Luís e Mário Machado, este na região do Guerra. Joaquim Rogério (Menino)
comprou um lote que denominou Fazenda São Paulo, ele morava em Cornélio
Procópio, mas mudou-se para cá, começou a desmatar o lote e a criar suínos. José
Santana, de Bandeirantes, comprou terras na nascente da Moóca. Platão Herotides
da Veiga e seus irmãos Chinofonte e Sócrates também adquiram sítios na região
da Água da Moóca.
Recibo da primeira parcela de pagamento das terras de Ovídio Pinto
Mello,
posteriormente vendidas a Luiz Dela Colleta. Fonte: Família Dela Colleta
João Cortez Cappel,
após vender a maioria dos lotes e terrenos, nomeou seu filho Pedro para
continuar seu trabalho e foi para a região onde hoje se encontra Francisco Alves
abrir aquele município. Cortez faleceu a 13 de maio de 1984 de parada cárdio
respiratória, insuficiência cardíaca e diabetes mellitus, aos 79 anos de idade,
em Francisco Alves/PR.
Anos mais
tarde, em 1963, na gestão do Prefeito João Antônio Claro, surgiu a Vila
Persona, que foi desmembrada do lote 44, pelo Senhor Simão Persona com
autorização da Prefeitura Municipal. Todo o loteamento da Vila era composto por
61 lotes, isto é, não contando com a reserva onde hoje está a Praça Massakasso
Honda. A área ficava entre as Ruas Luís Lopes, dando continuidade da Rua
Santana, hoje Rua Dr. Lafayete Grenier, as laterais, Rua Santo Indalécio até no
fim da Rua Paraíba, saída para Akidabam, e a continuação da Avenida São João
até o local onde hoje está instalado o Hospital Municipal. Os cruzamentos que
faziam parte do lote eram das ruas Clarindo R. Santana, Elizabete Bróio e Rua
Rômulo Bessani, que anteriormente eram denominadas apenas com números.
O
NOME DO PATRIMÔNIO
Estrada Keller, primeiro caminho para Itambé
Fonte: Revista Itambé, 1984
Todo nome tem uma história. Já o nome de
Itambé possuiu várias histórias. Inicialmente, o patrimônio foi conhecido como
Vila do João Cortez. Uma das teorias para o nome “Itambé” é a seguinte: o
pioneiro Antônio Rodrigues Machado conta que a única via que dava acesso ao
Distrito de Itambé era a Estrada Keller, que liga Itambé à Cambuí. Nesta
estrada há muitos morros, daí poderia ter surgido o nome do patrimônio. Pois
segundo o Plano Diretor, Itambé é de origem tupi e significa: “i’ta” pedra e
“aim’bé” afiada, penedo, pontiagudo. Alguns autores ainda classificam como
“beiço de pedra”, por J. F. da Fonseca, ou Xavier Fernandes, “pedra oca”, ou
ainda “despenhadeiro, precipício”, segundo Aurélio Buarque de Holanda.
Outra
teoria é que o nome teria sido sugerido por um picadeiro sertanejo que vivia em
Itambé, na Bahia. Segundo relatos da Prof. Elisabete Aparecida Moreno, este
baiano achou que a geografia daqui se assemelhava a de seu município natal.
Isto teria acontecido logo que a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná abriu
a Estrada Keller, em meados da década de 40.
Mas, segundo Oswaldo Bianchessi, que
trabalhou como picadeiro na abertura destas terras, o nome foi motivado pela
grande quantidade de cipó imbé e pelos artefatos indígenas aqui encontrados.
Cipós, Mata
do Nicola
Foto: Denizia Moresqui
O MENINO QUE VIU
ITAMBÉ NASCER
Antônio Rodrigues Machado, o menino que viu Itambé nascer, aos 77 anos
Foto: Denizia Moresqui
A primeira família que se cultivou terras
aqui, Machado, veio de Cornélio Procópio. Mário Machado e seu filho Antônio,
então com 12 anos, instalaram-se em Cambuí, na fazenda São Pedro, numa casa
feita de palmitos e coberta com tabuinhas, na cabeceira do Ribeirão Ijuí.
Exemplo de casa feita de lascas de palmito e coberta com tabuinhas,
Maringá
Fonte:http://maringaparanabrasil.blogspot.com.br/2012/06/memoria-as-cores-do-norte-do-parana.html
Eles compraram cinco alqueires
diretamente da Cia. Melhoramentos e pagaram um conto de réis e trezentos o
alqueire. Os Machado vinham a pé até Itambé para abrir seu lote. A primeira vez
que Antônio veio ao Patrimônio, encontrou os funcionários da Cia. Melhoramentos
abrindo uma rua no meio da mata, que seria a Avenida São João. Os picadeiros estavam
alojados próximos a uma nascente denominada Água Ipacaraí, hoje conhecida como
Água da Serraria. Os Machado foram até lá matar a sede. O menino ficou
encantado com a beleza do lugar, cheio de samambaias. Ele ainda descreveu as
nossas matas, dizendo que a beleza que encontrou aqui nunca vira em lugar
nenhum.
Nascente de água que encantou o menino Toninho
Foto: Denizia Moresqui
A picada aberta pela Cia. só chegava
até a Gabirobeira, depois havia apenas matas. Para abrir suas terras, pai e
filho utilizavam ferramentas rudimentares, como traçador, cavadeira, machado e
foice. A espingarda também era essencial para a sobrevivência, já que havia
onças e outros animais perigosos na região. Finalmente após aberta a mata, no
dia 16 de outubro de 1947, os Machado se mudaram para o local que depois seria
conhecido como Guerra. As primeiras terras abertas em Itambé foram estas e as
do Perobal.
O DESMATAMENTO
Segundo a Monografia da Prof.ª Lúcia de Melo (1997), apresentada ao curso de
Geografia da Universidade Estadual de Maringá, Itambé possui condições ideais
para a formação de florestas exuberantes, pois além do solo fértil, conta com
clima mesotérmico úmido, variando de 15 a 25ºC. Assim desenvolveu-se aqui a
vegetação Mata Pluvial Tropical dos Planaltos do Interior, com árvores de
grande porte.
Mas, se hoje uma das principais
preocupações da humanidade é preservar a natureza, tanto flora quanto fauna, na
abertura das terras do Norte do Paraná, a meta era o oposto. Para cultivar a
terra era preciso abrir espaço na mata e expulsar ou eliminar animais que
trouxessem riscos aos colonos. Além disso, nos primeiros anos, sem produção e
renda, a caça e a pesca eram formas de subsistência.
Agricultores com a caça: um veado, 1948
Fonte: Gertrude Granero
Então entraram em cena foices,
machados, traçadores, fogo, e a floresta foi trocada pela terra nua onde seria cultivado
o futuro de muitas famílias. Naquela época, não havia ainda a consciência
ecológica que poderia permitir o desenvolvimento sustentável. O momento
histórico e a necessidade tornavam o desmatamento desta região imprescindível
ao progresso. Foram abaixo perobas, cedros, imbuias, canelas. Com o fim da
mata, os animais foram caçados, mortos pelos incêndios ou fugiram, entre eles
havia: onças, cotias, pacas, anta, tatu, jaguatirica, macaco, porcos do mato,
veados, jacupembas, tamamduás, quase todos foram se desaparecendo da região.
Desmatamento de Itambé – 1950. Fonte: Prefeitura Municipal de
Itambé
Segundo o Sr. Celestino Barbosa da
Silva, que trabalhou como picadeiro em Itambé e Quinta do Sol, para
descendentes de japoneses que cultivavam hortelã menta, o desmatamento era
feito da seguinte forma: o mato baixo era roçado com machado e foice, depois
derrubavam-se as árvores grandes também com machado. Eram necessários oito dias
para “limpar” um alqueire. As madeiras nobres eram levadas às serrarias e o
resto virava lenha usada nos alambiques de hortelã. O tamanho e a
circunferência das árvores eram impressionantes, devido à fertilidade da terra.
Família Vertuan em frente a uma árvore no Couro do Boi
Fonte: Renata Vertuan
Outro pioneiro que também fixou moradia
no Guerra foi o Sr. Aluízio Linhares Monteiro. Sua filha Sônia L. M. Chicralla
conta que o pai soube das terras de Itambé por intermédio de seu irmão que era
viajante, vendia fumo para todo o sul do país. Na época o Sr. Aluízio,
fluminense de Sapucaia, estava morando em Miraí, Minas Gerais. Ele viajou ao
Rio de Janeiro de carro, depois de avião para Londrina. Até Itambé, o caminho
foi percorrido de caminhonete 48. Junto com ele veio seu cunhado Aristides
Cumani. Depois de comprar terras da Cia., o Sr. Aluízio e sua família começaram
a desmatá-las. Eles faziam este trabalho da seguinte forma: cortavam-se as
árvores, que chegavam a mais de um metro de diâmetro, com machado, em seguida
eram puxadas por cordas e cortadas com traçador, um serrote manuseado por duas
pessoas, por fim a madeira era vendida para as serrarias.
Sr. Aluízio Linhares Monteiro na época do desmatamento de Itambé
(1950)
Fonte: Família Linhares
Monteiro
O Senhor Olímpio Bianchessi conta
que veio a Itambé em 1950 visitar sua irmã que morava no Bairro Catarinense.
Quando chegou aqui, ficou encantado com o relevo e a fertilidade da terra. Ele
percebeu a grande diferença entre Itambé e Botuverá, lugar onde vivia. O
distrito catarinense era montanhoso com poucas áreas cultiváveis, trabalhava-se
muito para apenas manter a subsistência; enquanto que, em Itambé, as altas
florestas sinalizavam a riqueza da terra, além disso, havia poucas ondulações
no solo, o que permitia o cultivo em quase toda a extensão dos lotes. Segundo
Olímpio: “um paraíso”. Ele vislumbrou um futuro promissor em Itambé. Como ainda
estava com dezenove anos, escreveu uma carta aos pais pedindo permissão para
ficar morando aqui. Eles responderam que, se o filho visse que haveria futuro
em Itambé, poderia ficar; se não, que voltasse para casa. Então Olímpio ficou
e, com o pouco dinheiro que tinha, comprou um machado e alguns utensílios de
cozinha. Depois começou a desmatar um alqueire e meio de seu parente Arcênio Bianchessi
para plantar três mil pés de café. Ele conta que dependendo da árvore, era
preciso um dia e meio de serviço para cortá-la, dada sua espessura. O trabalho
começava de madrugada e só parava à noite. Suas mãos ficavam cheias de feridas
que eram curadas com salmoura. Após derrubar boa parte da mata, ele tentou
limpar o terreno com fogo, mas como ainda havia muito mato e sombra, as chamas
se apagavam. O Senhor Arcênio sugeriu que ele deixasse para acabar o serviço no
próximo ano. Mas Olímpio não queria esperar tanto. Juntou as toras e cortou o
mato com foice e assim conseguiu limpar o terreno e plantar café. Para sua
sobrevivência plantou milho e feijão entre as ruas.
Desmatamento, construção de casas e cultivo de café
na Fazenda Ouro Verde
Fonte: Família Meyer
O Senhor Paulo Bogenschneider e seus
cunhados, os irmãos Bindewald, João, Alberto e Henrique, também participaram do
desmatamento, transportando a madeira para Mandaguari e outras cidades, onde
era vendida. Paulo era natural da Alemanha, chegou ao Brasil em 1921,
fixando-se em Presidente Venceslau/SP, no Estado, trabalhou em serrarias,
casou-se com Lídia Bindewald em 1928. Em 1947, mudou-se para Mandaguari e, com
os cunhados, trabalhou na serraria de Guilherme Meyer, extraindo e
transportando as madeiras de Itambé. Aqui, eles receberam um lote do Sr. João
Cortez Cappel e construíram uma das primeiras casas do Patrimônio. Os irmãos
Bindewald eram da Romênia e imigraram para o Brasil em 1926, também residiram em
Presidente Venceslau. Além de madeira, eles levavam pessoas sobre as toras até
Mandaguari, pois poucos eram os meios de transportes.
Como havia muita oferta desta matéria
prima, os preços não eram elevados e madeiras nobres do Norte paranaense eram
usadas até para fazer engradados de refrigerantes.
Após o desmatamento, as famílias
partiam para o cultivo da terra. Inicialmente eram cultivados hortelã e café.
Ambas as culturas eram produto de exportação, com vendas certas e extremamente
rentáveis, mas necessitavam de muita mão de obra. Na época não existia a
profissão de boia-fria. Quem trabalhava para os proprietários de terras eram os
meeiros, pessoas que prestavam serviço na lavoura e recebiam porcentagem da
produção. Quanto maior o lucro do proprietário, maior a renda do meeiro. Dessa
forma, muitas famílias se mudaram para Itambé, pois, mesmo quem não tivesse
capital para comprar as terras da Cia., poderia trabalhar para os outros até
juntar dinheiro e poder adquirir seus próprios lotes.
Colônia de meeiros de café na Fazenda Monte Alto
Fonte: Paulo Tadashi Honda
ÁREA URBANA
Avenida São João, década de 50
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé
Na área urbana, o projeto de Itambé traçado por
Cortez Cappel começava a tomar forma com a chegada dos primeiros comerciantes.
Quando a Senhora Francisca Cardoso Rosa chegou ao Patrimônio, em 1947, estava
com catorze anos, mas já era casada com José Noé da Silva e trouxe seu primeiro
filho, com vinte dias, nos braços. Aqui só havia mata, que foi derrubada por
Paulo Xavier e picadeiros contratados por Cortez, depois um grande incêndio fez
a “limpeza” do local onde seria instalado o Patrimônio. Francisca e José
conheceram o Senhor Paulo Tutti, que comprara um terreno, na Avenida São João;
hoje há no local uma revendedora de botijões de gás.
(Seta) Primeira casa e comércio de Itambé:
Venda do Paulo Tutti
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé
Paulo queria construir uma venda de
secos e molhados com uma casa nos fundos; então perguntou a José se ele
conhecia algum carpinteiro. José respondeu que ele era carpinteiro. Então Paulo
Tutti o contratou para o trabalho: construir a primeira casa de Itambé. O
prédio de madeira, que abrigou o primeiro morador e a primeiro comércio do Patrimônio,
resistiu até outubro de 2003, quando foi destruído num incêndio. Além deste
prédio, José também construiu outras casas, como a que existe até hoje no
endereço: Rua São Pedro, nº 340; uma pensão, a venda de João Noé, na Avenida
São João esquina com Rua XV de Novembro, onde atualmente há uma sapataria.
Seta: José Noé da Silva, construtor da primeira casa e comércio de
Itambé
Fonte: Francisca Cardoso Rosa
Infelizmente, um acidente mudou para sempre a
vida do casal. José, na época com 38 anos, estava construindo um alambique de
hortelã na Fazenda São Sebastião. Então, uma viga de madeira de 30 cm. de
diâmetro e 6 m. de comprimento, que era puxada por um trator, caiu em cima de José quebrando-lhe a coluna.
Após muitos meses de tratamento em Maringá e Curitiba, voltou para casa e ficou
para sempre na cama, pois não aceitou a cadeira de rodas. Mesmo nesta situação,
continuou a trabalhar, construindo brinquedos de madeira e consertando
utensílios domésticos. Dez anos após o acidente, José faleceu.
O Senhor João Naujalis também
chegou a Itambé em 1947, com sete anos de idade, acompanhando seu pai, Antônio
Naujalis, imigrante da Letônia. Segundo João, havia aqui apenas duas casas de
madeira, uma era o armazém do Paulo Tutti e outra era a pensão do Senhor Paulo
Xavier, onde ficavam os picadeiros. Havia também casas de palmito e tabuinha, a
cidade era composta por seis quadras desmatadas e cercadas pela densa floresta.
Nesse ano, família Lopes já administrava a serraria.
Caminhão sendo carregado de toras para a Serraria da Família Lopes
Fonte: João Naujalis
O senhor Antônio Naujalis adquiriu
a pensão de Xavier e passou a receber os pioneiros que vinham a Itambé desmatar
suas terras. A família Naujalis administrou o negócio de 1947 até 1953, quando
mudou-se daqui por causa de uma geada seguida do incêndio nas lavouras.
Em junho de 1948, um
estudante de farmácia visitou o distrito de Itambé, o jovem Mauro Nakamura. Ele
lembra que encontrou a área urbana já desmatada e com os lotes demarcados.
Moradores de Itambé
Fonte: Mônica Osvaldo do Nascimento
Aqui, Mauro conheceu o Sr.
Antônio Naujalis. Conheceu também a família do Sr. Augusto Fernandes Cumbar,
que fazia as refeições para os visitantes, o Sr. Paulo Tutti, o Sr. Paulo
Xavier, descendente de africanos, que era empreiteiro e administrava a
derrubada das matas, o Sr. Paulo Bogenschneider, que tinha um bar no Patrimônio,
o Sr. Luís Lopes, dono da serraria, entre outros. Apesar da geada e das
dificuldades que enfrentou nesta primeira visita, Mauro Nakamura gostou muito
do lugar. Então, quando recebeu seu diploma de farmacêutico em dezembro de
1948, decidiu vir trabalhar em Itambé. Morou em Marialva até 1950, depois
construiu sua casa neste distrito e mudou-se definitivamente para cá.
CULTIVO DE
HORTELÃ MENTA
Agricultores cultivando hortelã menta
Fazenda Jan
Fonte: Ademar Adão Rodrigues
Apesar de todas as dificuldades
enfrentadas pelos moradores, Itambé crescia devido à fertilidade da terra e a
cultura do café. Também eram cultivados o milho e o feijão. Mas a lavoura que
apresentou uma grande riqueza para o Patrimônio foi a hortelã menta. Imigrantes
japoneses que viviam em São Paulo vieram para cá, desmataram as terras,
plantaram o hortelã e montaram alambiques. Depois a família Schlatter aderiu a
esta cultura e também montou um alambique.
Transporte da colheita da hortelã menta. 1959
Fonte: Família Linhares Monteiro
A hortelã dava corte a cada noventa
dias, uma produção elevada. Outro fator positivo desta lavoura para o avanço
populacional da região era a necessidade de mão de obra. Numa propriedade de
dez alqueires de terras, havia trabalho para cinco ou seis famílias. Pois era
preciso uma família para cuidar de dois alqueires de hortelã. Até nos terrenos
vazios da zona urbana, havia plantações, devido a sua rentabilidade. Tanto no
cultivo como na transformação da hortelã em óleo nos alambiques, o trabalho
humano era essencial. Itambé chegou a ter mais de quarenta alambiques.
Almabique de hortelã
Fonte: Família Lemos
Quando o óleo estava pronto, era vendido por
um alto preço. O Senhor Osvaldo Henrique dos Santos era produtor de óleo de
hortelã e representante da Brasway e da Brasmentol em Itambé e região. Osvaldo
comprava o produto dos agricultores e os transportava até a empresa em Maringá.
Na cidade de Itambé havia um entreposto de coleta do produto. As empresas
usavam o óleo na fabricação de creme dental eoutros produtos de higiene e
limpeza. Além disso, o óleo era usado também na produção de medicamentos, como
pomadas e cremes para machucados.
Pipas de hortelã do Sr. Bernardino de Oliveira
Fonte: João Naujalis
A hortelã itambeense também era
exportada para Estados Unidos e Japão. Porém o tempo de produtividade desta
cultura é curto. Após a derrubada da mata, cultiva-se a hortelã de quatro a
oito anos, depois há uma queda nas colheitas. Mas quando isto aconteceu, Itambé
já alavancara seu desenvolvimento. O Senhor Osvaldo ainda comercializou hortelã
até 1977, buscando-o em outras regiões do Paraná.
Transporte do óleo de hortelã
Fonte: Família Lemos
O CAFÉ
O café foi descoberto na Etiópia e difundido
para o mundo por meio do Egito e da Europa. De acordo com a Wikipédia, a
palavra café vem de qahwa,
que em árabe quer dizer vinho. A planta teria sido descoberta por um pastor de
ovelhas. Ele observou que os animais ficavam mais espertos quando comiam as
folhas e frutos do cafeeiro. Então, sabendo do fato, um monge teria feito
infusões com as folhas da planta para ficar acordado nas madrugadas durante
suas orações. Em 1727, o sargento-mor Francisco de Melo Palheta trouxe da
Guiana Francesa, clandestinamente, a primeira muda de café para o Brasil. E,
como já foi mencionado, o primeiro grande produtor de café no Paraná foi
Antônio Barbosa Ferraz. Na colonização,
todo o Norte do Paraná produzia café e Itambé seguiu a mesma linha.
Cafezais de Itambé, Fazenda Primavera
Fonte: Zilda Mancine
Com o fim da era da hortelã menta, o
café tornou-se uma monocultura, cobrindo todas as propriedades rurais
itambeenses. Como sua produção necessitava de muita mão de obra, várias
colônias formaram-se nas fazendas. Famílias de diversas partes do Brasil
migravam para cá a fim de fazer a vida trabalhando com o café.
O Senhor Argentino Bianchessi, em
entrevista às professoras Elisabete Aparecida Moreno e Maria Helena Zampar dos
Santos, relatou que o café era cultivado da seguinte forma: plantava-se a
semente no solo, numa cova com uns 30 centímetros de profundidade e depois a
cobria com lenha. As covas eram feitas a quatro metros de distância uma da
outra. Quando a planta nascia, fazia-se a limpeza ao redor dela. A primeira
colheita viria quatro anos após o plantio.
Café secando no terreirão. Ao fundo, secador de café
Fonte: Família Moreschi
Inicialmente, tanto o café quanto
outros produtos agrícolas eram vendidos a negociantes vindos de fora. De acordo
com o relato do Sr. Alcides Benossi, dois deles eram os Senhores Severino e
Ernesto Valério que compravam os produtos dos agricultores de Itambé para
revendê-los. Gibson Linhares Monteiro e Milton Linhares também compravam feijão
e milho, os transportavam pela estrada da Ponte Preta até Maringá e Mandaguari,
onde revendiam os grãos. Massakasso Honda comprava a produção dos agricultores,
as revendia em Londrina e, de lá, trazia mercadorias para seu armazém de secos
e molhados.
Estrada da Ponte Preta, por onde a produção agrícola era escoada
Fonte: Família Meyer.
O senhor Antônio Pelatti relata que a produção
dos cafezais era tão grande que os galhos quebravam pelo peso das cargas. Um
vizinho de Pelatti produzia café em oito alqueires, como os galhos já estavam
quase quebrando, ele comprou um caminhão cheio de rolos de corda para
prendê-los. Pelatti brinca: “Quanta corda nós roubamos para
amarrar cabrito!”
Transporte de café, caminhão da Família Lopes
Fonte: Zilda Mancine
Porém, frequentemente, havia eventos climáticos
que atrapalhavam a vida dos agricultores. Em 1953, depois da geada, houve um
grande incêndio nos cafezais que ameaçava a todos.
Vera Eloísa de Melo Assis relatou que, após uma geada que queimou toda lavoura cafeeira,
Itambé foi vitima do fogo, em 24 de agosto de 1953.
Um grande e terrível incêndio tomou conta da lavoura cafeeira, que iniciava sua
primeira colheita. Estas chamas começaram, provavelmente, na região da Água
Bonina e se alastrou por diversas propriedades. Como não existiam bombeiros na
região, os agricultores se organizaram e foram ao encontro do fogo, nem água
havia, a não ser a mina da serraria e dos rios. O
fogo foi vencido pelos homens que se dispuseram a combatê-lo, batendo galhos de
árvores, na tentativa de apagar. Tudo foi queimado e as chamas ainda invadiram
a pequena cidade. Só havia três carros carros, portanto era impossível retirar
rapidamente todos os moradores da cidade. O gado e animais de toda espécie
morreram.
Neste dia, estava acontecendo um baile na cidade, chamado Baile das
Bolas. As famílias desesperadas reuniram algo que possuíam de mais importância
e ficaram prontas para sair. O fogo durou três dias, enquanto havia uma folha
seca, ele se arribava. No terceiro dia, a chuva caiu trazendo alento à
população.
Maria Conceição Maldonado dos Santos
conta que seu pai, João Maldonado Sanches, morador do Sítio São João, próximo
ao Porto Figueira, juntou-se a outros agricultores para tentar conter as
chamas. Durante este trabalho, não pôde ver o nascimento de sua filha Maria.
Essa tragédia destruiu quase todos os
cafezais do Patrimônio e região. O Senhor Olímpio Bianchessi se recorda que,
naquele ano, ele trabalhava de meeiro, seus cafezais estavam com três anos e
dariam a primeira produção no ano seguinte. Mas a geada queimou tudo e foi
preciso cortar todos os pés de café e começar tudo de novo.
O ex-vereador Jovânio Pereira dos
Santos era criança na época e lembra que durante o dia não enxergava quase nada
por causa da fumaça, mas a noite ele subia nas árvores para ver a claridade
produzida pelos incêndios. Ele disse: “Parecia que o mundo
todo estava se acabando em fogo.” Algumas pessoas chegaram a acreditar que já
era o fim do mundo anunciado na Bíblia. Com o fim dos incêndios, os
agricultores voltaram a cultivar café sem perder a esperança. E a cada dia mais
gente chegava a esta região.
A maior produção de café no Paraná
aconteceu na safra de 1961\62. Segundo publicação do jornal O Diário do Norte
do Paraná (22-04-2012, pág. E4). O café era o assunto mais falado na região
Norte do Estado. Pois a economia de todas as cidades dependia desta lavoura.
Nestes anos, o Paraná foi o produtor de mais de um quarto do café mundial. A
produção foi de 21,3 milhões de sacas de 60 quilos, o que correspondia a 28% da
safra mundial. Porém, em 3 de agosto 1963, houve outra geada, que quebrou a
produção. Depois, os cafezais ficaram secos e, no mês de setembro, mais um
grande incêndio se alastrou por toda a região.
Safra de café, década de 60
Fonte: Aline Broio Rodrigues Vitorino
De
acordo com o ex-prefeito Antônio Rodrigues Machado e o ex-vereador Alcir
Roberto Bianchessi, o fogo durou vários dias, queimando até casas. As chamas que provinham do município de
Doutor Camargo, avançaram por Itambé até além do Rio Keller, devastando tudo
pela frente. Um duro golpe para os agricultores. Em 65 e 66 a produtividade também não foi
boa, além disso, a infestação de uma praga, denominada Praga Mineira, estragava
as folhas dos cafezais e outra praga atacava os grãos. Com a exigência de café
de boa qualidade para a exportação, surgiram os provadores da bebida. Como o
café do Norte do Paraná era reprovado nos testes, ele ficava retido nos portos
do Brasil. Isto desestimulou os agricultores a continuar nesta lavoura. Outros
fatores para o desinteresse, ainda segundo o jornal O Diário do Norte do
Paraná, foram os preços oscilantes, a produção desorganizada e a geada. Pelo
Brasil correu a notícia de que o Paraná não era um bom lugar para investir e
uma frase traduzia o desânimo dos pioneiros, publicada no O Diário, na data já
referida: “O Paraná é só enganação. Quando não é geada, é
poeirão.”
O Governo Federal, através do
Ministério da Agricultura, percebendo que não compensava comprar este café, já
que não haveria um consumidor para ele, fez uma campanha incentivando os cafeicultores
a eliminar os cafezais e partir para outras culturas.
Mesmo assim, muitos agricultores
permaneceram com o café. Alguns deles entregavam sua produção na Cooperativa de
Cafeicultores de Mandaguari, COCARI, até o ano de 1973 aproximadamente. Para facilitar o transporte da safra, nesta
época, a cooperativa alugou um barracão na cidade, para onde eram levados os
grãos. Depois foi construído um cilo para a instalação de um entreposto em
Itambé, com recursos do Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A e do Banco
Central do Brasil. Sua inauguração foi efetuada em 5 de março de 1975, (mas na
placa de inauguração a data que conta é dia 3 de abril de 1976) com a presença
do Governador Jaime Canet Junior e o Ministro da Agricultura Alisson
Paulinelli. A instalação da COCARI em Itambé gerou grandes benefícios para os
produtores rurais, especialmente para os associados que puderam contar com o
auxílio de técnicos agrícolas na lavoura.
Inauguração da COCARI
Fonte: Família Moreschi
Inauguração da COCARI, 5 de março de 1975
Fonte: Família Moreschi
CRIAÇÃO DE ANIMAIS
A pecuária não se desenvolveu
muito nos primeiros anos de Itambé, o número de animais era considerado
pequeno. Pois, a fertilidade e o relevo do solo incentivaram os proprietários a
investirem mais na agricultura. A maioria criava animais apenas para o consumo
próprio. Entre as criações estavam: gado (leite e corte), suínos, ovinos e
galináceos.
Criação de gado
Fonte: Família Moreschi
De acordo com o ex-vereador Jovânio
Pereira dos Santos, os maiores criadores de gado eram os proprietários das
fazendas São Sebastião, Santa Margarida, Santo Cecília e Ouro Verde. Na Fazenda
São Sebastião havia criação de boi búfalo e na Fazenda Ouro Verde, gado
holandês. Além de gado, o Senhor Guilherme Meyer também criava suínos Durok,
animais que causavam admiração por serem de grande porte.
Havia também a criação de gado
leiteiro em pequenos sítios para a comercialização na cidade, como o de Kuinto
Grigoletto. Ele mudou-se para Itambé em 1951, com sua esposa Jovelina
Castaldelli Grigoleto e adquiriu um sítio na Água Ibiúna, denominando-o Sítio
Santa Bárbara. Na mudança, ele trouxe dezoito porcos, mas a peste suína matou
tudo. Inicialmente tentou cultivar café, devido às geadas, desistiu dessa ideia
e decidiu fazer pasto. Começou um rebanho com duas vacas leiteiras e passou a
vender leite no Bar do Paulo e em bairros rurais, e assim, trabalhou por vinte
e cinco anos.
Sítio da Família Grigoletto
Fonte: Família Grigoletto
Dona Líbera Bassi Lopes, esposa do
ex-prefeito Rafael Lopes, era grande comercializadora de galinha caipira. Ela
comprava galinhas dos proprietários de sítios de Itambé e as revendia para o
Rio de Janeiro.
SINDICATO DOS
TRABALHADORES RURAIS
Nem sempre as relações entre
proprietários de terras, meeiros ou empregados eram pacíficas. Há, na história
de Itambé, inúmeros relatos de desrespeito aos direitos dos trabalhadores
rurais. Num caso em especial, um fazendeiro deixou os empreiteiros derrubarem
toda a mata e, quando eles começariam a cultivar hortelã, o dono das terras
exigia que eles saíssem de sua propriedade sem nenhum tipo de pagamento. Houve
uma grande revolta entre os trabalhadores, que cercaram a casa do fazendeiro
cobrando seus direitos. Mas ele conseguiu fugir, vendeu as terras e não pagou
ninguém.
Há relatos também de trabalho escravo
e maus tratos. Sendo assim, havia a necessidade de um órgão que defendesse os
direitos dos trabalhadores rurais, como um sindicato.
Sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itambé
Foto: Denizia Moresqui
De acordo com Solange Ferreira de
Lima, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itambé surgiu em 1968 com o
objetivo de amparar esta categoria. Em 1972, conseguiu a Carta Sindical e
passou a ser filiado a Fetaep, Federação dos Trabalhadores da Agricultura. Este
órgão fazia e faz a mediação entre patrões e empregados nas divergências
trabalhistas. Quando não era possível fazer um acordo amigável, o caso era
encaminhado para a justiça e acompanhado pelo advogado Dr. Eli Denis, de
Maringá.
O primeiro presidente foi o saudoso
Sr. João Cristino de Freitas, depois assumiu o Sr. Lucindo Ferreira de Lima,
que ocupou o cargo por quinze anos. Lucindo era mineiro de Bueno Brandão,
chegou a Itambé em 1959 e trabalhou na lavoura, Bairro Catarinense. Ele
participou ativamente na criação do Sindicato, foi também vereador.
Além de atendimento jurídico, havia o
odontológico no prédio do próprio sindicato, com o Dr. Luís Tadame Tadashi, que
trabalhou por 30 anos no local e faleceu em 2011. O prédio, que era o antigo
hospital do Dr. Antônio Godinho Machado, foi adquirido pelo sindicato em 1968 e
funciona neste local até os dias atuais.
Cadeira em que o dentista Luís T. Tadashi atendeu os trabalhadores
rurais por 30 anos
Foto: Denizia Moresqui
No primeiro ano de funcionamento, o
sindicato contava com 1.000 associados. No fim da década de 70, chegou a 3.800.
Segundo Eurípedes Mariano do Silva, a Sindicato tinha até um time de futebol,
comandado pelo Sr. Lucindo F. de Lima, com ajuda do Sr. Assis e Antônio
Vertuan. Mesmo após a Geada Negra, o número de sindicalizados era grande, pois
através do Funrural, Fundo Rural, todo o atendimento à saúde passava pelo
sindicato. Segundo Solange F. da Silva, quando o Funrural foi substituído pelo
SUS, Sistema Único de Saúde, em 1990, houve uma queda brusca no número de
associados, hoje são 400, entre trabalhadores e pequenos agricultores.
Equipe do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itambé
Fonte: Eurípedes Mariano da Silva
Atualmente, além de análise de
contratos e mediações, a instituição oferece serviços dentários, corte de
cabelo, auxílio para aposentadoria, atendimento com médico oftalmologista
mensalmente. Na época desta pesquisa, o presidente era o Sr. Alcir Roberto
Bianchessi que faleceu em 2012. Solange Ferreira de Lima assumiu o cargo.
Olá Denizia!
ResponderExcluirParabéns!!!
Pode passar seu email?
Abraços!
Este comentário foi removido pelo autor.
Excluirdeniziamoresqui@hotmail.com
ResponderExcluirObrigada pela visita ao blog