terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O urubu da Thea


                                  
                                             Shwarz na Avenida São João fugindo do cachorro

A amizade entre seres humanos e animais é muito frequente. Somos amigos de gatos, cachorros, tartarugas, peixinhos... Mas aqui em Itambé, uma amizade entre uma senhora e uma ave foi ainda mais inusitada. Tudo aconteceu há muito anos.

Thea era descendente de alemães, comerciante, dona de sorveteria e amava animais. Sempre cuidava e brincava com os bichos. Um dia, um de seus fregueses, o menino José Caeiro, morador da zona rural, encontrou um filhote de urubu. A ave erá frágil, com poucas penugens, magrinho de dar dó. O menino acreditou que a mãe do bichinho o havia abandonado. Então teve a ideia de dá-lo de presente à Thea, pois sabia do seu amor por animais.

A mulher ficou muito feliz com o presente e deu-lhe o nome de Schwarz, que em alemão significa preto. A nova mãe da ave o alimentava com polenta, o que fortaleceu o urubu e o fez crescer saudável. Quando o bicho se tornou adulto, passou a viver no quintal, junto às galinhas. Assim como suas amigas, o urubu não alçava altos voos. Geralmente, voamos até a altura que nos fazem acreditar que podemos. Ele perseguia os donos por cima dos telhados. Em certa ocasião, foi atrás de Thea até à cidade de Floresta, a 10 km de Itambé. Thea de Kombi e Schwarz voando de árvore em árvore. Mônica, filha de Thea, lembra que a ave a seguia até a escola, como um cachorrinho. Os meninos então jogavam pedras nele para espantá-lo. 

                            
                                                              Schwarz sobre o telhado

Apesar de morar com as galinhas, ele não comia milho não. Não dá pra seguir a massa em tudo. Seu cardápio era diferenciado, gostava de carne crua. Sendo assim, para ele, o que era da cor vermelha era carne e então dá-lhe bicada. Atacava roupas vermelhas no varal, brinquedos, objetos, parecia um touro bravo.

Acontece que o vizinho de Thea comprou um lindo sofá. Adivinhem a cor. Sim, vermelho. Ele colocou o móvel na sala e passou a admirar a sua nova aquisição. Schwarz estava todo inocente passeando no terreiro junto às amigas galinhas. De repente, pela janela do vizinho, ele viu aquele maravilhoso e imenso pedaço de carne. Não pensou duas vezes. Deu uma esvoaçada e entrou pela janela sorrateiramente. Diante da imensa iguaria, o sofá, tacou-lhe o bico com toda força, rasgando o corvim. Estava se divertindo quando o vizinho o surpeendeu em flagrante delito. O homem sacou a vassoura e partiu pra cima do bicho. Schwarz voou desesperado à procura de Thea e o vizinho atrás. Foi aquela gritaria.

Quando encontrou a dona, ela o defendeu contra o agressor. Amigo que e amigo defende a gente. Mas todos foram parar na delegacia, porque o vizinho deu queixa. Para acabar com a quizumba, o delegado determinou que Thea pagasse pelo prejuízo. Não adiantou explicar que o urubu confundiu o sofá com carne. 

Mesmo pagando caro pela bagunça do urubu, Thea continuou a cuidar da ave. Amigo que é amigo perdoa nossos erros. Schwarz viveu com a família Osvaldo por três anos. Um dia, ele pegou uma doença de galinha. Thea cuidou muito dele, mas o urubu veio a falecer. Viveu como galinha e morreu como galinha. Mas a ave nunca foi esquecida. Porque amigo de verdade, a gente nunca esquece.

Schwarz no quintal


Fotos de Mônica Osvaldo do Nascimento
História baseada nos relatos de Mônica


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