terça-feira, 31 de janeiro de 2017

HISTÓRIA DE ITAMBÉ - PARTE 6

INFRAESTRUTURA

ESTRADAS E MEIOS DE TRANSPORTE


Meios de transporte mais utilizados nos primeiros anos
de Itambé: equinos
Fonte: Mônica Osvaldo do Nascimento

                 A falta de estradas no distrito de Itambé era um dos maiores problemas enfrentados pela população. Durante os primeiros anos de colonização, os moradores precisavam percorrer a pé grandes distâncias para fazer compras, ir à igreja e visitar parentes. Oswaldo Bianchessi e sua família foram de Itambé à Mandaguari a pé para o casamento da irmã. Eles saíram do Bairro Catarinense às duas horas da manhã e chegaram ao destino às vinte e duas horas. No dia seguinte, após a cerimônia, a família voltou para Itambé no Jeep de José Bianchessi.
              Com estradas ruins, o meio de transporte mais eficiente e acessível então eram equinos. Pois, além de mais baratos que automóveis, passavam por obstáculos que nem Jeeps conseguiam transpor. Quem não possuía montaria, precisava andar a pé mesmo. Em frente às primeiras casas de comércio de Itambé, havia até estacionamento para os animais, com locais para amarrá-los. Mas em algumas situações, como no caso do transporte de enfermos, a tração animal deixava a desejar, por ser lenta e desconfortável. As carroças também ajudavam. Atreladas aos animais, era possível transportar mais pessoas e mercadorias, mas as viagens eram demoradas.

Carroça usada pela família Fedrigo
Fonte: Família Fedrigo

              A bicicleta foi outro meio de transporte que serviu aos itambeenses, principalmente aos que moravam na zona rural. A primeira bicicletaria da cidade pertenceu ao Senhor Yoshio Ikeda.

Bicicletaria do Ikeda
Fonte: Ayrton Rocha

             O atual Vice-prefeito, Benedito dos Santos, quando morava na região da Moóca, vinha estudar na cidade com este meio de transporte. Ele percorria cerca de seis quilômetros. Numa noite, voltando para casa levou um susto perto da Fazenda Perobal e decidiu, então, dormir na cidade e só voltar para casa pela manhã. Seu abrigo era a boleia de um caminhão que ficava estacionado no Posto Atlantic. Benedito, ainda menor de idade, chegou a montar um bicicletaria na Avenida São João, pois a utilização deste meio de transporte estava crescendo.

Dito Bó e seu meio de transporte: a bicicleta
Fonte: Benedito dos Santos

               Onório Perin comprou um sítio no Patrimônio Guerra e outro em Paiçandu. Aqui seus filhos mais velhos tomavam conta da terra e, para se locomoverem e ajudarem o restante da família no trabalho em Paiçandu, Lacídio Perin e seus irmãos também usavam bicicletas. A viagem demorava cerca de cinco horas em dias de sol. Quando chovia, era preciso empurrar o veículo nos locais mais lamacentos, o que atrasava os ciclistas. Mesmo assim, fizeram o percurso inúmeras vezes, pois era o único meio de transporte possível para os Perin naquela época.
                O ex-vereador Jovânio Pereira dos Santos lembra que, entre 1947 e 1951, quando Itambé pertencia a Mandaguari, a vida era muito difícil por não haver médicos ou farmácias. Quando alguém ficava doente, precisava ser levado à Mandaguari. Em caso de morte, o corpo também deveria ser levado lá para ser sepultado.  Mas não havia transporte exclusivo para isso. Então o Sr. Paulo Tutti e o Sr. Paulo Bogenschneider, que vinham à Itambé de caminhão buscar toras, faziam este transporte. Tanto os doentes quanto os mortos viajavam sobre as toras no caminhão.

Tipo de caminhão usado para o transporte de toras, passageiros, enfermos e falecidos
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

               O Dr. Mauro Nakamura lembra que as condições das estradas eram péssimas. Quando o tempo estava bom, a viagem entre Itambé e Londrina durava um dia. Em épocas de chuva, não havia previsão de chegada. Na estrada entre Itambé e Cambuí, na altura da Fazenda Suíça, pertencente à família Schlatter, havia um trecho estivado com palmito. Qualquer quantidade de chuva transformava esse local em um lamaçal intransponível. Se chovesse vários dias seguidos, Itambé ficava isolado. Para comprar alimentos e medicamentos nas cidades próximas, era preciso viajar a pé ou a cavalo. A pioneira Francisca Cardoso Rosa lembra que ela e o esposo saíam, a pé, a uma hora da manhã de Itambé e chegavam às duas da tarde em Mandaguari. Quem morava à margem esquerda do Rio Keller sofria mais ainda. Além de a distância ser maior, era preciso atravessar o rio cheio. O local mais fácil para fazer a travessia era na foz, onde havia corredeiras.
             Em 1948, Lacídio Perin, ainda criança, morava com os pais à margem direita do Rio Marialva. A família ficou sabendo que, à outra margem, havia um novo patrimônio.  Onório Perin, pai de Lacídio, decidiu conhecer o lugar e, junto com o vizinho Pedro de Souza, abriu uma picada. Então chegaram à Fazenda Três Minas, uma das primeiras a ser habitadas. Depois da fazenda, já havia uma estrada para chegar ao Patrimônio de Itambé. No local, só existiam três casas comerciais: do Paulo Tutti, do Paulo Xavier e uma venda de José e Antônio Donaire, além de poucas residências. Como o povoado era próximo do sítio de Perin, ele decidiu fazer uma ponte sobre o Rio Marialva a fim de facilitar a travessia. Onório e Pedro cortaram duas perobas, colocaram lado a lado sobre o leito do rio e pregaram tábuas sobre elas. A pinguela ficava a uns cinquenta metros abaixo da ponte atual. Assim era possível que seus filhos estudassem e que as famílias fizessem compras em Itambé. Tempos depois, a Prefeitura de Marialva construiu uma ponte de madeira no lugar da pinguela; a primeira chuva elevou as águas do rio e a esta foi destruída.

Venda de Antônio Donaire (detalhe: bicicleta e carro antigo)
Fonte: Família Linhares

             Outra dificuldade era o escoamento da safra. O meio de transporte mais usado pelos colonizadores eram as carroças, o Sr. José Barbosa, por exemplo, tinha uma carroça com seis burros. Ele transportava a safra de outros agricultores do fundo das propriedades até a estrada mais próxima. A falta de estradas e transporte fazia com que os produtores vendessem seus grãos a aventureiros que se diziam cerealistas. Estes vinham até a localidade trazendo a sacaria, compravam a produção dos agricultores, carregavam o caminhão e, simplesmente, iam embora sem pagar pelo produto.
                Mais tarde, para acabar com este problema, os agricultores resolveram fazer as estradas para escoar a produção até Mandaguari. Nos bairros rurais, sempre havia um líder que convidava os colonos para o trabalho. Cada um levava sua própria ferramenta: machado, trançador, marreta, cunha. Quem tinha cavalo, levava o animal e um couro de boi para carregar terra e piçarra, a fim de fechar os trechos com brejos. E assim foi feito até onde hoje se encontra o posto de pedágio entre Marialva e Mandaguari. As estradas estaduais que dão acesso a Itambé foram feitas pela Cia. Melhoramentos, mas a conservação das mesmas coube aos agricultores.
                Depois se mudou para cá a família Lopes, que adquiriu uma serraria próxima à nascente Água Ipacaraí. A família possuía Jeep e caminhão de puxar toras. Com estes veículos, o povo ganhou mais meios de transporte. Quando uma mulher ia dar à luz e precisava buscar a parteira, ou quando alguém estava muito doente e era necessário ir à Mandaguari para receber atendimento médico, o Sr. Rafael Lopes gentilmente fazia o transporte.

Jeep da Família Lopes
Fonte: Zilda Mancine

               Em seguida, veio para cá a família Moreschi para abrir a Fazenda Anjo da Guarda. Esta família possuía vários veículos, como caminhões e Jeeps, e também passou a transportar a população.
              Como já fora mencionado, a família Bindewald, dos irmãos João, Alberto e Henrique, além do cunhado Paulo Bongenscheneider, trabalhavam com a extração e o transporte de madeira. Como, muitas vezes, precisavam levar passageiros em cima das toras, por volta de 1947, decidiu adaptar um caminhão para este transporte, que passou a fazer a linha Itambé-Cambuí-Mandaguari. O percurso era de 40 quilômetros, percorridos em três horas nos dias secos e doze horas em dias de chuva. Em 1950, a família adquiriu a primeira jardineira, depois a frota foi ampliada para cinco ônibus. Anos mais tarde, a empresa foi vendida.

Jardineira que transportava os itambeenses
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

               O Sr. Jonas, da família Paruche, também trabalhou com transporte coletivo. Os ônibus demoravam o dia todo para ir até Marialva e Mandaguari e voltar a Itambé. A empresa foi vendida a uma empresária de Mandaguari que ampliou o negócio com a compra de mais veículos, o que melhorou o transporte dos passageiros.

Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

           Depois, a empresa foi vendida para o Sr. Lourival Lopes, conhecido como Jú. A frota era composta por três ou quatro veículos. Com o tempo, apenas um veículo fazia o transporte da população. O motorista era conhecido como Zé Bigode, além de circular pelas cidades vizinhas, o ônibus também levava romeiros à Aparecida do Norte. A Princesa de Ivaí, de Jandaia do Sul, comprou a empresa do Jú. Isto foi um grande avanço para Itambé, pois os ônibus passavam pelos bairros rurais e levavam o povo até Bom Sucesso e São Pedro do Ivaí. Além disso, o número de pessoas que possuía veículo próprio aumentou. 

Ônibus de Lourival Lopes
Fonte: Zilda Mancine

           Como a população crescia rapidamente, a demanda por transporte fez com que a cidade tivesse dois pontos de táxi, com dez veículos cada, um na Praça Rui Barbosa e outro na Avenida São João, próximo à Rua Ver. Antônio Belasque Garcia.

Ponto de Táxi em frente à Praça Rui Barbosa, ao fundo,
construção da Igreja Matriz Nossa Senhora da Graças de Itambé
Fonte: Família Santana

               Em 1951, Marialva é emancipado a município e Itambé passa a ser um de seus distritos. Aqui foi criada uma subprefeitura de Marialva num prédio próximo ao local onde hoje está instalada a Prefeitura M. de Itambé. Um parente do prefeito de Marialva, chamado Antônio Garcia foi nomeado subprefeito e tentava atender aos anseios da população. Então a cada dois ou três anos, o prefeito de Marialva mandava uma máquina para arrancar os tocos do meio das ruas da área urbana de Itambé.
               Para tentar melhorar o Distrito, seus moradores se lançaram na política. Rafael Lopes, João Claro e Dr. Lafayete Grenier se candidataram a vereadores em Marialva. Os três foram eleitos, mas antes do fim do mandato, Dr. Lafayete renunciou ao cargo. Rafael Lopes foi o vereador mais votado de todo o Município. Com isto, Itambé passou a ser bem representado junto à Prefeitura de Marialva. Estes vereadores requeriam, entre outras coisas, a conservação de estradas. Mesmo assim, o serviço era precário, feito com apenas uma moto niveladora e uma esteira. O trabalho era completado com o auxílio braçal.

Transbordamento do Rio Keller
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

         Outro obstáculo enfrentado pelos agricultores era a transposição de córregos e rios para se locomoverem. Nos casos de córregos, pontes de madeira resolviam a questão. Mas Itambé é cortado pelo Rio Keller, os agricultores que viviam na margem esquerda do rio enfrentavam um grande problema quando precisavam ir ao distrito, visto que não era possível transpor as águas de carro e pontes feitas exclusivamente de madeira não aguentavam as enchentes. Pois, a margem do rio foi desmatada e as árvores derrubadas ficavam nas barrancas. Quando chovia, os troncos desciam o rio e enroscavam nos pilares da ponte, forçando-os até cederem. Os troncos também represavam a água e o rio transbordava, chegando a alcançar dois metros acima do nível normal. A primeira ponte construída sobre o Rio Keller foi feita pelos agricultores que moravam na margem esquerda do rio com madeira bruta. Na primeira enchente, foi destruída. Depois se construiu uma pinguela para que as pessoas pudessem atravessar a pé. Mas a chuva a levou. 

Primeira ponte de madeira construída sobre o Rio Keller
(Os ônibus de Lourival Lopes foram postos sobre a ponte para
comprovar resistência da obra)
Fonte: Fátima Moreschi Passareli

Inauguração da segunda ponte sobre o Rio Keller
Fonte: Wilson Prado

          A segunda ponte foi feita com madeira aparelhada com vão no meio, mais alta que o leito do rio, mas também não resistiu à força da água. Então foi feita uma barca que só transportava veículos de pequeno porte. Quando Itambé se emancipou politicamente, uma ponte de madeira foi construída pelo Prefeito João Antônio Claro.
          Anos depois, devido às fortes chuvas, a ponte construída por Claro não resistiu. Então este trecho da estrada voltou a ser um problema. Na gestão do Prefeito Misdei Moreschi e Sócrates da Veiga, foi firmado um convênio com o Governo do Estado, que possibilitou a construção da ponte de concreto que resiste até hoje. A assistência de engenharia ficou por conta do DER, Departamento de Estradas e Rodagem, o mestre de obras foi o Sr. Osmar Barboza. A obra foi inaugurada na gestão de Gibson Linhares Monteiro e Paulino Orlandini.

Construção da nova ponte sobre o Rio Keller
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

                  Em 2012, chuvas torrenciais de mais de 200 milímetros nos mês de junho voltaram a provocar o transbordamento do Rio Keller. A água cobriu a ponte que liga Itambé a São Pedro do Ivaí. Ônibus escolares não puderam transitar, os agricultores precisaram dar a volta por outros caminhos para ter acesso às suas terras. Houve muitas dificuldades durante uma semana. Mas nada comparado ao que viveram os pioneiros. 


Transbordamento do Rio Keller, 2012
Fonte: Geraldo Marcos de Brito

                  A ponte que liga Itambé a Bom Sucesso também passou pelos mesmos problemas da outra. Em 1978, rodou e durante quatro meses o local ficou intransponível, então o prefeito Rafael Lopes, tendo como vice Miguel Jorge Nauffel, construiu uma ponte de madeira com as cabeceiras de concreto, que foi demolida na década de 80 quando saiu a ligação de asfalto até Bom Sucesso,  uma nova ponte de alvenaria foi feita pela companhia contratada pelo governo do Estado e resiste até hoje.

Primeira ponte sobre o Rio Keller entre Itambé e Bom Sucesso
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

            Na década de 60, a Prefeitura M. de Itambé adquiriu uma patrola e abriu a Estrada da Paineirinha, que passava pelo Ribeirão Bonina, Fazenda Moema, Bairro Jaguaruna e saía na Estrada Velha entre Maringá e Floresta. Depois foi feita a estrada que liga Itambé a Floresta, como relatou José Antônio dos Santos, Zé da Mota, funcionário da Prefeitura de Itambé que ajudou neste trabalho. Na gestão de Misdei Moreschi e Sócrates da Veiga, foi construída também uma ponte de madeira sobre o Rio Marialva, já que a ponte anterior, construída por João Claro pegou fogo.

Ponte sobre o Rio Marialva
Fonte: Fátima Moreschi Passaneli

             Nesta mesma gestão, foi feita a estrada entre Itambé e Floresta. Para fazer a ponte de concreto sobre o Ribeirão Pinguim, os funcionários da Prefeitura cavaram uma vala e desviaram as águas do rio para construí-la em terra seca. Pronta a obra, as águas voltaram ao leito do rio e as valas foram fechadas.  

Abertura de estradas com uso de máquinas
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

            No governo de Jaime Canet Jr., o Prefeito Misdei Moreschi acompanhado dos vereadores: Antônio R. Machado, Miguel Jorge Nauffel, Bruno Ossucci e o autor do projeto, Jovânio P. dos Santos, foram até Curitiba, onde tiveram uma audiência com o Governador. Junto à comitiva estava o Deputado Jorge Sato. Nesta audiência, as autoridades itambeense solicitaram a ligação de asfalto entre Itambé e Floresta. Então o Estado asfaltou o trecho e construiu a ponte de concreto sobre o Rio Marivalva dando mais rapidez às viagens. A obra, PR 546, foi inaugurada da gestão de Rafael Lopes e Miguel Jorge Nauffel. Após a morte de Misdei Moreschi, a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná decretou pela Lei nº 7196, de 10 de setembro de 1979, sancionada pelo Governador Ney Braga, que o trecho da rodovia entre Itambé e Floresta fosse denominada Estrada Misdei Moreschi.

Prefeito e Vereadores de Itambé em audiência com
o Governador Jaime Canet Jr.
Fonte: Jovânio Pereira dos Santos

           Depois foram asfaltadas as estradas que ligam Itambé a Bom Sucesso, obra iniciada por José Richa. Como este trecho é uma extensão da PR 546, em 13 de janeiro de 1986, foi sancionada, pelo Governador José Richa, a lei que denominou todo o trajeto, de Floresta a Bom Sucesso, de Rodovia Misdei Moreschi. Já a rodovia entre Itambé e São Pedro do Ivaí, PR 457, foi feita no governo de Álvaro Dias, gestão do Prefeito Antônio R Machado e vice Mário Forestiere. O trecho entre Itambé e o Distrito de Mariza, levou o nome de Rodovia João Batista Paixão, pela Lei Estadual nº 8888, de 6 de outubro de 1988; sancionada pelo Governador Álvaro Dias.
           Mas a primeira estrada que deu acesso a Itambé, a Estrada Keller, até hoje não foi asfaltada, mesmo sendo este município Comarca de Marialva.

Primeira estrada asfaltada de Itambé, Estrada Misdei Moreschi
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé


                                      ABASTECIMENTO DE ÁGUA
        
         Até a década de 60, a água que abastecia os moradores de Itambé era retirada de poços por meio de caçambas. A Senhora Aparecida Trevisan dos Santos conta que na Rua 15 de novembro, esquina com a Rua Santana, hoje Rua Dr. Lafayete Grenier, havia um poço de uso comunitário, o povo fazia fila para retirar água. Para lavar roupas, era preciso ir até outros poços, como o que ficava onde hoje é o terreno da Horta Municipal, Rua José Joaquim Pereira. Aparecida disse que lavava roupa num poço entre a Rua 15 de Novembro e a Rua Santo Indalécio. Lembra ainda que, assim que pendurava a roupa úmida na cerca, vinha um vento e enchia tudo de pó.
        Vera Eloísa de Melo Assis conta que, por volta de 1952, João Cortez Cappel fez uma rede de água e instalou três torneiras públicas. Uma ficava em frente à Farmácia Confiança, do Senhor Otto Ramos Breta, atual Bar do Nego; outra em frente à Farmácia Nakafarma, do Senhor Mauro Nakamura, que antes ficava na esquina; e a última num terreno vazio na esquina da Avenida São João com a Rua Ver. Antônio Belasque Garcia, atualmente endereço do Edifício Pioneiro. Depois, Cortez fez ainda instalação de água para todas as casas, poucas na época, com poço artesiano e uma grande caixa d’água que existe até hoje no terreno da Sanepar, a água chegava às torneiras com ajuda de motor. Porém, este estragou e as famílias ficaram três anos sem o benefício.

Mulheres lavando roupas perto da nascente, Rua José Joaquim Pereira
Fonte: Mônica Osvaldo do Nascimento

         Durante a administração de João Antônio Claro, em 1964, o Governador Ney Braga concedeu a Itambé todo o encanamento necessário para fazer a instalação de redes de água. Esta era trazida da nascente Água Ipacaraí, ou Água da Serraria. Lá havia um poço com um motor, feito por João Cortez Cappel. Além do poço, Cortez também instalou uma caixa d’água próxima ao campo de futebol. Então, havendo o encanamento e a fonte de água, os funcionários da prefeitura fizeram a instalação da rede. 

Chegada dos canos fornecidos pelo Governo do Estado
Fonte: Família Claro

Início dos trabalhos para instalação da rede de água
Fonte: Família Claro

         O sucessor de Claro, Misdei Moreschi, assumiu a Prefeitura e um grande problema em relação ao abastecimento. O povo deveria pagar a conta de água para a Prefeitura. Mas isto geralmente não acontecia. Apenas 20% da população honrava o compromisso. Desta forma, não havia recursos para fazer a manutenção do serviço. Outro problema é que a maioria das famílias possuía um poço d’água no quintal e preferia usá-lo a pagar pelo abastecimento público.
        O problema persistiu no mandado de Gibson Linhares Monteiro, Gigi. Além da falta de pagamento, a falta de água também incomodava o povo. Então Gigi comprou bombas e começou a puxar água de minas próximas ao perímetro urbano. Mas o problema não foi totalmente resolvido.

Equipamento para cavar poço artesiano
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

        Terminado o mandato de Gigi, Misdei Moreschi volta a ser prefeito e a assumir o problema. Ele fez estudos para verificar a possibilidade de trazer água da Fazenda Três Minas. Depois furou um poço na Horta Municipal e construiu uma grande caixa d’água. O que amortizou o problema, mas não o resolveu.
          Então Rafael Lopes assumiu a prefeitura, no Governo do Estado, toma posse Jaime Canet Junior. Este governador fazia o deslocamento do poder, viajava até outras regiões do Estado do Paraná e instalava nelas o governo. Quando Canet instalou-o em Maringá, Rafael Lopes e o presidente da Câmara de Vereadores, Jovânio Pereira dos Santos, foram falar com ele para tentar resolver a questão da água em Itambé. Mas o governador não quis assumir o problema e prometeu dar apenas um poço ao município, que foi construído na chácara da família Brás. Como ainda não foi suficiente, outros poços foram construídos. Mas a solução só viria quando a Prefeitura e a Câmara conseguiram passar a responsabilidade do abastecimento para a Sanepar. 
        Agora quem tinha um problema eram os cidadãos que estavam acostumados a não pagar a conta de água. A prefeitura, por ter caráter político, evitava cortar o abastecimento dos inadimplentes. Mas a Sanepar exigia o pagamento, caso contrário, a água era cortada. Como não havia outro jeito, a maioria da população habitou-se a pagar por esta conta.
       Mas ainda não havia rede de esgoto. Nas casas, eram construídas fossas para o armazenamento da água do banheiro e da cozinha. Quando estas enchiam, um caminhão pipa com mangueira era usado para esvaziá-las.
       Já o lixo doméstico era recolhido e queimado nos quintais, depois a Prefeitura passou a recolhê-lo com trator e carreta. Este era levado para um terreno na Estrada Keller, a poucos metros da cidade, e despejado a céu aberto, sem nenhum tipo de separação ou tratamento.

                                               ENERGIA ELÉTRICA
        Assim que começou a vender lotes em Itambé, o Senhor João Cortez Capel instalou um motor estacionário com gerador de energia para o abastecimento da cidade, na Rua São Pedro, e iluminou com postes a Avenida São João. Mas o motor foi pouco utilizado, pois por volta das vinte e uma horas, ele era desligado para economizar óleo diesel e a cidade ficava no escuro. Então, a iluminação das casas e estabelecimentos comerciais era feita por meio de lampiões a gás, como o Colimã e o Lampião Aladim. O barulho provocado por eles parecia de turbina de avião, como conta o ex-vereador Jovânio P. dos Santos. A luz dos lampiões era muito forte e prejudicial à visão. José Antônio dos Santos, o Zé da Mota, lembra que, nas casas, a luz era obtida com o uso de velas e lamparinas. Sem geladeira, os alimentos mais perecíveis, como carne e peixe, deveriam ser consumidos em pouco tempo. A carne de porco era cozida e armazenada em latões de gordura. Sem televisão, a maioria das pessoas dormia cedo.  A energia também era fornecida com a ajuda de motores particulares, mas estes só funcionavam até às vinte horas. A serraria e as algodoeiras também contavam com geradores próprios.
          Quem mais sofria com a falta de energia elétrica eram os responsáveis pela saúde, como o farmacêutico Dr. Mauro Nakamura e o médico Dr. Lafayete de Almeida Grenier. Lafayete até instalou em sua casa um motor para gerar energia.  Gilherme de Almeida Grenier conta que o irmão de seu pai, João Grenier, trabalhava como diretor da Eletrobrás, Centrais Elétricas Brasileiras S.A.. Em meados da década de 60, João veio a Itambé, de carro Itamaraty, visitar o Dr. Lafayete e percebeu o problema da falta de energia no Município, então prometeu resolvê-lo. Ele encaminhou um pedido à Eletrobrás para que fossem instalados postes e fiação da subestação mais próxima. O que foi uma grande ajuda para que Prefeito João Antônio Claro pudesse levar energia aos moradores de Itambé.

Prefeito João Antônio Claro na inauguração
da rede elétrica de Itambé
Fonte: Família Claro

            Então, com o pedido de João Grenier e de João Antônio Claro, a Copel, Companhia Paranaense de Energia Elétrica, fez instalações de rede de alta tensão. Mas esta rede foi estendida a algumas ruas, como a Avenida São João, Rua São Pedro, Rua Santana, hoje denominada Rua Dr. Lafayete de A. Grenier, e a Rua Santo Indalécio, o que correspondia de 30 a 40 por cento da área urbana. As outras ruas, assim como a zona rural, ainda ficaram no escuro.
           Tempos depois, João Grenier voltou a Itambé e constatou que faltava energia toda vez que chovia. Então ele solicitou melhoria no sistema. Depois de várias tentativas de sanar o problema, este foi resolvido quando a Copel construiu uma subestação em Itambé, o que só aconteceu nos anos 80, por solicitação dos vereadores Jovânio Pereira dos Santos e Ferdinando Bianchessi.

Subestação da Copel em Itambé
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

             A primeira localidade rural a receber energia elétrica foi a Fazenda Ouro Verde, de propriedade de Guilherme Meyer. Por ser um homem próspero e organizado, ele conseguiu levar energia da cidade de Itambé até sua propriedade com seus próprios recursos. Depois, doou suas instalações à Copel para que a empresa fizesse a manutenção da rede. A maioria das comunidades  rurais  recebeu energia elétrica no governo José Richa, com a implantação do Click Rural, um sistema que contava com apenas um fio de transmissão, ideia trazida do Oriente Médio, terra dos ancestrais de Richa. Mas nem todas as propriedades alcançaram o benefício. O Sr. Paulo Fedrigo disse que até hoje a eletricidade não chegou às propriedades da Água Bonina, o mesmo aconteceu à Água Marialva, como relatou o Sr. Pedro Denardo.

Fazenda Ouro Verde, a primeira área rural a receber energia elétrica
Fonte: Família Meyer

4 comentários:

  1. Bom dia. Meu é Adriano Rausch Souto e gostaria de entrar em contato com meus primos da Fazenda Ouro Verde, os filhos de Guilherme Meyer. Poderia me passar o telefone ou e-mail deles, caso os tenha.
    Meus e-mails são: adriano@iapar.br ou h2orausch@gmail.com
    Obrigado pela atenção
    Adriano Eausch Souto

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Adriano. Tenho o endereço do facebook da Marilena Meyer.
      https://www.facebook.com/marilena.meyer

      Excluir
  2. Boa noite Denizia. Gostaria de saber se vc descende dos Moreschi que habitaram na região de Felonica - mantova - Italia e aqui no Brasil em São Paulo começando por São Lourenço do Turvo, Matão. Eu faço a nossa árvore genealógica e minha triavó era Moreschi.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu não conheço bem a história da minha família. Sei que sou descendente de Nicola Moreschi, vindo da Itália, seu bisneta do seu filho, Humberto Moreschi.

      Excluir

O circo no Moreschi

 Bairro Moreschi (Fazenda Anjo da Guarda), local onde, possivelmente, o circo fora montado                                           ...