sábado, 21 de janeiro de 2017

HISTÓRIA DE ITAMBÉ - PARTE 2

A COLONIZAÇÃO DO NORTE E NOROESTE DO PARANÁ


Barbosa Ferraz e sua ferrovia
Companhia de Terras Norte do Paraná
Os Curdos
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná
O Povo Sutil 

                                 BARBOSA FERRAZ E SUA FERROVIA
         O Norte Paranaense começaria a ser colonizado a partir da segunda metade do século XIX. Os cafeicultores de São Paulo, interessados na fertilidade das terras paranaenses, adquiriram propriedades e começaram o cultivo do café no Norte Pioneiro. Porém havia dificuldades no escoamento da produção pela falta de estradas ou ferrovias que ligassem esta região a São Paulo.

Major Antônio Barbosa Ferraz Jr.
Fonte: Google Imagens

         Então um fazendeiro de Ribeirão Preto chamado Antônio Barbosa Ferraz Junior plantou um milhão de pés de café entre Ourinhos e Cambará. Como havia uma estrada de ferro que passava por Ourinhos, a Sorocabana, Barbosa Ferraz e outros agricultores decidiram construir um ramal desta estrada que cortaria o Norte do Paraná até Guaíra e se prolongaria depois para Assunção, no Paraguai. Dessa forma, facilitaria o escoamento da produção para o Porto de Santos. Assim foi fundada a Estrada de Ferro Noroeste do Paraná, nome alterado depois para Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná. O início das obras do primeiro trecho entre Cambará e Ourinhos foi em 1923, com 29 quilômetros. Porém os custos da construção eram muito elevados para os agricultores. Por falta de recursos financeiros, a estrada não avançou por algum tempo. Era preciso atrair mais investidores para o projeto.
         Em 14 de janeiro de 1924, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma matéria sobre a ferrovia, a fertilidade das terras norte-paranaenses e dos lucros certos que elas trariam a investidores. A matéria atraiu a atenção de um certo Lord Lovat.
                                  BARBOSA FERRAZ E SUA FERROVIA
         O Norte Paranaense começaria a ser colonizado a partir da segunda metade do século XIX. Os cafeicultores de São Paulo, interessados na fertilidade das terras paranaenses, adquiriram propriedades e começaram o cultivo do café no Norte Pioneiro. Porém havia dificuldades no escoamento da produção pela falta de estradas ou ferrovias que ligassem esta região a São Paulo.
         Então um fazendeiro de Ribeirão Preto chamado Antônio Barbosa Ferraz Junior plantou um milhão de pés de café entre Ourinhos e Cambará. Como havia uma estrada de ferro que passava por Ourinhos, a Sorocabana, Barbosa Ferraz e outros agricultores decidiram construir um ramal desta estrada que cortaria o Norte do Paraná até Guaíra e se prolongaria depois para Assunção, no Paraguai. Dessa forma, facilitaria o escoamento da produção para o Porto de Santos. Assim foi fundada a Estrada de Ferro Noroeste do Paraná, nome alterado depois para Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná. O início das obras do primeiro trecho entre Cambará e Ourinhos foi em 1923, com 29 quilômetros. Porém os custos da construção eram muito elevados para os agricultores. Por falta de recursos financeiros, a estrada não avançou por algum tempo. Era preciso atrair mais investidores para o projeto.
         Em 14 de janeiro de 1924, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma matéria sobre a ferrovia, a fertilidade das terras norte-paranaenses e dos lucros certos que elas trariam a investidores. A matéria atraiu a atenção de um certo Lord Lovat.


Mapa publicado na Folha de São Paulo em 16 de janeiro de 1.924. (CORRÊA, 1.991, pág., 38)
http://maringahistorica.blogspot.com/2009/04/verdade-sobre-companhia-de-terras-norte.html
(site pesquisado em 2011)


                   COMPANHIA DE TERRAS NORTE DO PARANÁ
Lord Lovat. Fonte: Google Imagens

          Simon Joseph Lovat, o 16º Lord Lovat da Escócia, diretor da Sudan Cotton Plantation Syndicate, especialista em agricultura, estava no Brasil juntamente com uma missão inglesa. Tal missão, que desembarcou no Rio de Janeiro, chefiada por Edwin Samuel Montagu, tinha o objetivo de negociar a dívida brasileira com os bancos ingleses e fiscalizar o Tesouro Nacional. Já Lord Lovat, queria encontrar terras para o cultivo do algodão e atender as indústrias têxteis da Inglaterra, o que fizera no Sudão. Lovat visitou o território entre os rios Paranapanema e Tibagi, os quais tinham sido colonizados por Barboza Ferraz. Sabendo que estas terras e as que ficavam entre o Ivaí e o Piquiri eram devolutas, ou seja, devolvidas pela Coroa Espanhola por não terem sido colonizadas, e de grande fertilidade, os ingleses e Lovat decidiram investir no Paraná.
          As terras devolutas da bacia do Ivaí haviam sido adquiridas pela Companhia Marcondes de Colonização, que iniciara um projeto para colonizar o Norte do Estado. Mas como não conseguiu cumprir as metas do projeto de e estava sem recursos para continuar com o empreendimento, seus proprietários decidiram vender os lotes à Cia. de Terras, que também comprou terras de grileiros e posseiros para evitar conflitos. Artur Thomas e João Sampaio, encarregados da Cia., encontraram-se com o presidente do Estado do Paraná, o Senhor Bento Caetano Munhoz da Rocha, a fim de comprarem as terras do Norte do Estado. Além do aval de Munhoz da Rocha, seria preciso a aprovação da Câmara Legislativa Estadual. Em meados de 1925, João Sampaio viajou para a Inglaterra para reunir-se a Lovat e outros empreendedores a fim de planejar a colonização de todo o Norte e Noroeste paranaense. Então foi fundada a Paraná Plantation, empresa responsável por controlar de Londres a Companhia de Terras Norte do Paraná.

Sede da Companhia de Terras Norte do Paraná em Londrina
Fonte: Google Imagens

              Assim foi feito, a Companhia adquiriu o título de posse das terras dos grileiros, depois as comprou novamente do governo do Estado, ao qual pagava 20 mil réis o alqueire. A compra totalizou 515 mil alqueires escriturados. Em seguida, o plano era vender terras aos colonos por 400 mil réis o alqueire. A responsabilidade pela demarcação das terras, construção de estradas e ferrovia ficou para a Companhia.
             O modelo de colonização inglês previa que os lotes seriam de no máximo 15 alqueires paulistas, ou 36 hectares. Para subsidiar os agricultores, seria formada uma vila ou pequena cidade a cada quinze quilômetros e uma cidade polo a cada cem quilômetros. Assim como: Londrina, Maringá, Cianorte e Umuarama. Por este motivo a região Norte ficou com maior número de municípios do que o restante do Estado. As cidades foram projetadas aproveitando as características do relevo, com divisão de datas para construção de prédios comerciais e residenciais. As cidades seriam circundadas por chácaras para abastecer os moradores. Como as terras norte-paranaenses eram repletas de rios e afluentes, os lotes nos vales teriam acesso à água de um lado à estrada no outro. Assim as propriedades ficavam finas e compridas.
            Os planos de Lord Lovat eram incentivar o cultivo de algodão para abastecer a indústria têxtil. Mas, por sugestão de Barbosa Ferraz, a cultura foi trocada pelo café, por ser mais lucrativa e garantir a possibilidade de enriquecimento rápido dos agricultores, o que alavancaria a venda de terras.

Escritura das terras do Norte do Paraná
Fonte: Google Imagens

             Para “limpar” a área da densa floresta que chegava a 40 metros de altura, foi utilizado o fogo. As matas queimavam por semanas, de tanta fumaça, o dia parecia noite. O que a natureza levara centenas de anos para formar, as chamas devastavam em poucas horas, abrindo clareiras para a instalação de vilas que se transformariam em cidades. Um grande desastre ambiental, que dizimou até as matas ciliares, ocasionando o assoreamento dos rios e córregos, sem contar os problemas causados posteriormente pelo uso abusivo de agrotóxicos pelos agricultores. Outro problema deste rápido povoamento foi a falta de conservação do solo, sem curvas de nível, houve erosão em diversas áreas.
            Mesmo havendo uma cláusula no contrato com o Estado do Paraná que determinava a preservação de 10% da mata, tudo foi derrubado. Pois a regra valia para o proprietário da terra, quando esta era vendida, o novo dono deveria assumir a responsabilidade; o que ocorreu raríssimas vezes. Pois, a CTNP e o Governo do Estado não fiscalizaram os proprietários, deixando-os livres para desmatar. Somente nas terras pertencentes à Companhia, a cláusula foi respeitada.


Faixa vermelha: terras adquiridas pela Companhia de Terras Norte do Paraná

Fonte: Google Imagens


                Para estimular a venda dos lotes, uma ampla rede de propaganda divulgou a “fartura” do Norte do Paraná, como foi citado no site: http://www.fecilcam.br/revista/index.php/geomae/article/viewFile/204/196, (pesquisado em 28/3/2013). Em todo o país, a região ficou conhecida como “Nova Canaã”, “Eldorado”, “Terra onde se anda sobre o dinheiro”, “Terra da Promissão”. Palavras que convenceram imprensa e população. Muitas famílias vieram ao Paraná, crentes de que suas vidas iriam melhorar. Porém, algumas se depararam com picaretas que vendiam terras habitadas por posseiros e jagunços armados; além de, em alguns casos, adquirem lotes cheios de pedras, impróprias para o cultivo. Quando as famílias ludibriadas procuravam os responsáveis pela Companhia, suas reinvindicações eram ouvidas e prontamente atendidas, com a troca por outras terras. Mas muitos dos que acreditaram no sonho do “Eldorado” voltaram para seus estados de origem decepcionados, sem fortuna. Pois, a propaganda estava além da realidade. Mesmo assim, outras famílias tiveram melhor sorte, compraram bons lotes e permaneceram na região cultivando café.
Propaganda da Cia. para vender suas terras
Fonte: http://www.usinadesolucoes.com.br/contemporania3.html  
(site pesquisado em 2012)

               O prolongamento da estrada de ferro São Paulo-Paraná ficou a cargo do Engenheiro-chefe Dr. Willan Reid, contratado pela CTNP.  A obra era fundamental para o transporte dos colonos às suas terras e para o escoamento da safra até o Porto de Santos. A estrada iniciava-se em Ourinhos, no quilômetro 400 da Estrada de Ferro Sorocabana, e a concessão com os dois estados garantia o prolongamento até Guaíra, às margens do Rio Paraná e fronteira com o Paraguai. Este país, por sua vez, faria uma linha férrea ligando Guaíra a Assunção, garantindo uma via comercial entre os dois países. O trecho construído por Barboza Ferraz e outros fazendeiros, até 1926, terminava em Cambará/PR. Em 1932, a firma MacDonald Gibbs. & Co. Ltda. concluiu mais um trecho, chegando a Jacarezinho. Além disso, uma estrada de rodagem foi aberta até mais adiante, no Patrimônio de Três Bocas, que seria denominada posteriormente de Londrina. Com acesso ao Norte do Paraná, a Cia. deu início à venda das terras. A partir de 1933, iniciou-se o prolongamento da linha até Londrina. Em Jatahy, o contrato com a MacDonald acabou, então a obra foi transferida para Rangel Christoffel. Como a venda de terras estava sendo lucrativa, a própria Companhia São Paulo-Paraná concluiu o trecho até Londrina, em 1935. A ferrovia também foi feita com o dinheiro de alemães judeus que se interessavam em investir na CTNP e adquirir lotes neste Estado. O que acabou com o advento da II Guerra Mundial, em 1940. Mesmo assim, as obras continuaram, porque, a cada dia, mais gente chegava ao Norte paranaense. 

Composição da Ferrovia São Paulo - Paraná

Fonte:http://robertobondarik.blogspot.com.br/
(Site pesquisado em 28/3/2013)

                    PRÍNCIPES INGLESES NO NORTE DO PARANÁ

          De acordo com Roberto Bondarik, Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Edward Albert Christian George Andrew Patrick David, Príncipe de Gales e herdeiro do trono, seu irmão Albert Frederick Arthur George, Duque de York e segundo na sucessão real, vieram ao Brasil conhecer as terras do Norte do Paraná, pois eram acionistas da Paraná Plantation, proprietária das terras. Chegaram ao Rio de Janeiro a 25 de março de 1931, sendo recebidos pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas. Ali permaneceram por três dias, depois seguiram até São Paulo e de lá, tomaram o trem para o Norte do Paraná.
          Os trilhos da ferrovia os permitiram chegar até uma estação recém-inaugurada, onde uma cidade começava a se formar, hoje Cornélio Procópio. No local havia depósitos, pátio de manobras, alojamentos de engenheiros e funcionários que trabalhavam na construção da ferrovia que seguia em direção a Jataizinho.

Albert

Edward
Fonte: Prof. Me. Roberto Bondarik


            Para recepcionar os príncipes, foi feito um arco com a inscrição “Welcome”. Este seria iluminado com luzes elétricas, mas não funcionou. As onze horas da manhã, no final de março de 1931, os nobres chegaram ao Paraná acompanhados de Lord Lovat e Arthur Thomas. Depois da recepção, os príncipes seguiram ao escritório da Companhia para tratar de negócios. Após duas horas, decidiram ir a pé até o final da linha, a alguns quilômetros dali. Na volta, o Príncipe de Gales decidiu vir correndo, os acompanhantes precisaram vir de carro devido à distância e ao calor. Dali, seguiram até ao loteamento onde seria erguida a cidade de Londrina. À meia noite do mesmo dia, os príncipes voltaram a São Paulo.
           Anos mais tarde, o Príncipe Edward abdicou do trono para se casar com uma americana divorciada e seu irmão, Albert, assumiu a coroa. Recentemente Albert foi retratado no filme O Discurso do Rei, que ganhou prêmios Oscar em 2011.


Arco de boas vindas ao Principe de Gales 

e ao Duque de York em Cornélio Procópio em 1931

(Fonte: Blog Ferrovia São Paulo - Paraná)
Blog: Roberto Bondarik (site pesquisado em 2011)

                                                OS CURDOS

        Outro fato curioso da história do Paraná, relatada no blog do Professor Roberto Bondarik, foi a tentava dos ingleses de trocar as terras do Norte Paranaense pelas habitadas por curdos no Oriente Médio, um povo sem território definido. Quando Lord Lovat adquiriu estes lotes, os ingleses descobriram petróleo no norte do Iraque, onde vivia o povo curdo. A área era dominada pela Inglaterra, mas os curdos não se dobravam à dominação e, frequentemente, guerreavam contra os ingleses. Sendo assim, para explorar o petróleo do local, seria necessário remover este povo dando-lhe outro território.

Território habitado pelos curdos
Fonte: Google Imagens

        O Príncipe de Gales, acionista da Paraná Plantation, e Lord Lovat, numa tentativa de resolver o problema, decidiram entregar as terras do Norte do Paraná, sigilosamente, em forma de arrendamento no ano de 1933 aos curdos. Getúlio Vargas, presidente do Brasil na época, aceitou a proposta visto que nosso país estava endividado com os bancos da Inglaterra e quem deve perde a liberdade.
        Tudo estava acertado. Porém em 1934, a notícia tornou-se pública através dos jornais. Então várias entidades paranaenses se posicionaram contra a vinda dos curdos para cá, entre elas a imprensa curitibana, sindicatos, associações, professores universitários e a Ordem dos Advogados do Paraná.  A “Campanha contra a imigração dos Assírios” tinha várias motivações, desde a luta contra o imperialismo britânico até manifestações puramente racistas, comenta Bondarik.
        Frente à pressão popular, Getúlio Vargas não teve escapatória, voltou atrás de sua decisão e vetou a vinda dos curdos ao país. Até a Companhia de Terras Norte do Paraná, que possuía cerca de 515.000 alqueires, desistiu da imigração curda por acreditar que aquele povo bélico desvalorizaria suas terras. Então, a Companhia voltou ao seu antigo projeto de venda de pequenos lotes.
         Quanto ao povo curdo, ainda hoje se encontra sem território definido. Frequentemente, sofre com a discriminação e o massacre promovido pelos governos dos países onde vive.

Povo Curdo. Fonte: Google Imagens

             COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ

           Dois duros golpes puseram fim aos sonhos britânicos no Norte do Paraná: Lorde Lovat, o homem forte da Cia., morre de colapso cardíaco em 16 de fevereiro de 1933 e explode a Segunda Guerra Mundial em 1939. A Inglaterra precisava de dinheiro para financiar suas forças armadas e o Presidente Getúlio Vargas pressionava os britânicos a entregarem ao governo a Estrada de Ferro São Paulo-Paraná. Então, sem saída, o grupo de Lovat decide se desfazer da Cia. Neste período, é incorporado ao patrimônio da empresa o Norte Novíssimo do Estado, correspondente à região de Umurarama, um acréscimo de 300.000 alqueires.
           O que motivou o interesse dos brasileiros pelo negócio com os britânicos foi a grande riqueza advinda do café cultivado nas terras paranaenses. Principal produto brasileiro, o café tinha alta produtividade nas terras vermelhas. Além disso, a infraestrutura montada pelos ingleses com o desmatamento, construção de estradas, ferrovia, vilas, cidades, favorecia a venda de terras para imigrantes. A Cia., incluindo terras e ferrovia, foi vendida  no segundo semestre de 1944, ao grupo de Gastão Vidigal, Gastão de Mesquita Filho, Arthur Bernardes Filho e os irmãos Soares Sampaio. O valor da transação: 1 milhão e 520 mil libras esterlinas. Valor irrisório comparado aos lucros que a Cia. obteve depois.  A renda do negócio pouco ajudou no financiamento da guerra, como lamentou Arthur Thomas, pioneiro britânico no Paraná:

       "A venda ajudou a custear 10 segundos do esforço de guerra britânico".


        Posteriormente a estrada de ferro foi vendida ao governo brasileiro pelo grupo de Vidigal e outros. Apesar do acordo firmado entre Brasil e Paraguai para levar os trilhos até Assunção, até hoje, Cianorte é o ponto final da estrada.
         Na época da negociação, a Cia. vendera apenas um terço das terras, sendo assim, foram os brasileiros que colheram os maiores lucros do empreendimento britânico. A sede da Companhia foi mudada para Maringá.
      O Norte do Paraná tornou-se o maior produtor de café do planeta, produzindo 43% da produção nacional e 1/3 da mundial.  Chegando a colher 60% da produção mundial na década de 60. Londrina ficou conhecida durante décadas como a Capital Mundial do Café.

Anúncio veiculado em 1958 em jornais e revistas da época, este foi extraído da revista Anuário "Sul do Brasil" n° 21 -  após a Companhia Terras Norte do Paraná, inglesa, ser adquirida e nacionalizada com a denominação Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Acervo: J Cecílio.

(site pesquisado em 2011)

                                             O POVO SUTIL

         A colonização do Norte do Paraná decretou o fim de um povo chamado Sutil. De acordo com artigo do jornalista Airton Donizete, publicado na Revista Tradição, de Maringá/PR (Julho, 2010), este povo chegou ao Norte e Noroeste do Estado por volta de 1910 e aqui ficou até 1960. Eles descendiam de negros e índios, por isso, eram conhecidos como caboclos cafuzos. O nome Sutil deriva de um tropeiro chamado Benedito Subtil, que se juntou aos caboclos no sul do Paraná. De acordo com o professor Lúcio Tadeu Mota, há vestígios de sutis em toda a região de Maringá, Campo Mourão, no Vale do Ivaí, Cianorte e Japurá. Suas casas eram feitas de pau a pique com cobertura de embirra, eram criadores de porcos. A publicação afirma também que este povo descendia da mesma etnia de escravos muçulmanos, chamados Malês, que promoveram da “Revolta dos Malês”, em 1825, na Bahia. Segundo o engenheiro Marcos Luiz Wanke, membro do Instituto Histórico e Etnográfico Paranaense, os Sutis que vieram para o Paraná não participaram da revolta. Inicialmente, se estabeleceram em Castro, onde fundaram a “República da Sinhara”, hoje Fazenda Capão Alto. Depois viajaram por trilhas até Cianorte e chegaram às ruínas de Vila Rica do Espírito Santo, onde se estabeleceram formando vilas.
         De acordo com o pioneiro Antônio Rodrigues Machado, em Itambé, até o ano de 1946, havia ruínas de três aldeias sutis. Uma onde hoje é o sítio Nossa Senhora Aparecida, outra na Fazenda Monte Azul e a terceira na Gabirobeira. Tais ruínas eram compostas por casas feitas com palmitos e tabuínhas. No Sítio Nossa Senhora Aparecida havia um monjolo movido a animal, com cinco pilões, já em fase de apodrecimento. Na Gabirobeira, foi encontrado um cemitério com dezesseis túmulos, que eram feitos de terra e por cima havia samambaias. Todos os mortos das três aldeias eram sepultados ali, entre as árvores da floresta. O senhor Machado disse ainda que os sutis viveram aqui até 1940. Deixaram a região por imposição da Cia. De Terras, que via este povo como um obstáculo à colonização.
         No entanto, um deles mudou-se para o município de Marialva, na zona rural próximo ao distrito de Cambuí. Ele se chamada Benedito Valério Sutil, um senhor de pele morena clara. Ele falava a Língua Portuguesa e usava algumas expressões particulares. Antônio R. Machado e seu pai iam até o sítio do senhor Valério trocar sua produção por fubá, pois o sutil possuía monjolo e moinho. Os Machado também compraram dele mudas de cana e grama. Foi o senhor Valério que narrou a história dos sutis de Itambé ao senhor Machado. Entre outras coisas, o senhor Valério contou que seu povo ia até Apucarana a cavalo comprar mantimentos, eles seguiam por trilhas, já que não havia estradas.

Área habitada pelo povo Sutil em Itambé

Fonte: Google Mapas

          Em Itambé, nas três aldeias, moravam várias famílias. Elas viviam de pesca e caça e só plantavam milho e frutas em pomares, mas suas laranjas eram azedas. Essas laranjeiras deveriam ter dez anos quando o senhor Machado as encontrou em 1946. A mesma idade deveria ter o cemitério. Neste foi encontrado um cedro em forma de cruzeiro, o que evidenciava que os sutis eram cristãos. O braço do cruzeiro já havia caído e o cedro estava brotando.
          Para navegarem pelo Rio Ivaí, os sutis usavam jangadas feitas com uma árvore que secava e ficava leve, então os troncos eram amarrados com cipó. Foi em jangadas que os sutis deixaram Itambé, quando a Cia. Melhoramentos chegou aqui.

Fazenda onde havia uma aldeia Sutil e o cemitério dos Sutis

Fonte: Google Mapas

          Todavia, há indícios de que alguns deles permaneceram nessas redondezas. Segundo o Senhor Antônio Pelatti, um dos primeiros moradores de Itambé, região do Guerra, ele avistou caboclos no Rio Ivaí. Tudo aconteceu em 1950, Antônio acordou de madrugada para ir caçar paca com Firmino, seu vizinho. Os dois foram, com alguns cães, até às margens do rio, local hoje denominado Sítio Três Marcos. Eles se separaram para encurralar a caça, Antônio ficou ao lado de uma grande pedra. Na escuridão, ele ouviu vozes no meio do rio; quando clareou, conseguiu ver algumas moças baixinhas com os cabelos lisos e compridos e alguns rapazes de cabelos crespos. Todos estavam nus, tinham a pele escura e eram muito fortes, havia nove adolescentes de mais ou menos quinze anos.  Eles conversavam muito numa língua não compreendida por Antônio e corriam nas corredeiras de um lado para outro. Antônio ficou com medo, pois não sabia o que eles poderiam fazer se o vissem. Quando se aproximaram da margem onde estava, Antônio gritou por Firmino. Então os adolescentes mergulharam e desapareceram.  Nunca mais foram vistos por Antônio que não acreditava que eram seres humanos.  
Antônio Pelati, testemunha dos caboclos
Foto: Denizia Moresqui  

        Quando o vizinho chegou, perguntou o que ocorrera e ouvindo a história de Antônio, esclareceu que aquelas pessoas eram caboclinhos d’água. Firmino disse que já os tinha visto no Rio Paraná. Segundo este, eles não ofereciam muito perigo, a não ser se pegassem um bote para virá-lo.
         De acordo com Pelati, alguns dias depois, Firmino e seu irmão foram pescar no Ivaí. De repente uma mão segurou na beira do bote. Os dois não tiveram dúvidas: deceparam os dedos do caboclinho com um facão. Eventos como esses podem ter dado origem à lenda do Caboclinho D’Água, já mencionada anteriormente, segundo a qual, um menino que morava no Rio Ivaí virava os barcos dos pescadores.
           No artigo da Revista Tradição (julho, 2010) há referência ao livro JACUS E PICARETAS – A HISTÓRIA DE UMA COLONIZAÇÃO, de Ildeu Manso Vieira. O livro conta que, como os sutis não eram donos das terras onde viviam, tiveram que deixá-las em prol da Cia. De Terras. Alguns foram mandados por um diretor da Cia. para Roncador, onde uma parte morreu de infecção pulmonar devido ao frio, pois não possuíam agasalhos; outra parte morreu de lepra por falta de assistência médica.
Casa dos Sutis – Fonte: Revista Tradição: Julho/2010

          A Revista Tradição ainda traz outras curiosidades sobre este povo. Os sutis comemoravam por semanas as festas de São Pedro, Santo Antônio e São João. O cardápio dos festejos era carne de porco com bijus feitos à base de mandioca, batata, milho e banana, tudo socado em monjolos. No entanto, eles eram tímidos em relação a estranhos, não gostavam da aproximação. Só se casavam entre si, por isso tinham problemas consanguíneos, muitos nasciam albinos. A sua média de vida era de 45 anos, a causa de morte geralmente era lepra ou anemia. Os velórios eram feitos em casa, as próprias famílias faziam os caixões de madeira. Porém o corpo era sepultado no chão da cova, enrolado numa mortalha, o “banguê”, e o caixão era posto sobre o corpo. Os sutis eram criadores de porcos, galinhas e equinos. Para vender seus animais em outras localidades, abriam trilhas na mata. Apesar de serem cristãos, mantinham alguns ritos africanos.    












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