sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Rio de Janeiro



Nunca pensei em visitar a capital fluminense, pelo que eu via na TV, achava uma cidade perigosa. Mas participei de um concurso de histórias, o Revelando os Brasis, e tive que ir até lá para fazer um curso de cinema, com duas semanas de duração. Amei, realmente uma cidade maravilhosa, quebrei meus preconceitos.

O concurso selecionava textos de quarenta pessoas de cidades com menos de vinte mil habitantes. As histórias eram transformadas em filmes e estes, além de serem exibidos em um circuito nacional, também fariam parte da grade de programação do Canal Futura. Então, os participantes precisavam dar uma entrevista ao canal, após o circuito. Sendo assim, fui ao Rio duas vezes, em 2010 e 2013. 

Na segunda vez, encontrei meus amigos do concurso se encontraram: Keila, de Treze Tílias-SC, Carlos, de São Borja-RS e Arthur, de Quixeré-CE. Eles eram bem jovens, poderiam ter sido meus alunos. Nós, quatro moradores do interior, deslumbrados novamente com tanta beleza e tantas ruas da cidade grande. Como ficaríamos quatro dias por lá, decidimos fazer alguns passeios, mas ninguém conhecia bem o Rio de Janeiro. 

A Keila, jornalista, sugeriu visitarmos uma exposição de fotojornalismo, na Caixa Cultural. Resolvemos pegar um táxi de Copacabana, onde estávamos hospedados, até o destino escolhido. Pra ir, foi beleza, Informamos o local desejado e o taxista nos levou até lá. 

As fotos da exposição eram tristes, de guerras, confrontos e algumas curiosidades humanas. O lugar era bem grande, imponente, com escadarias, várias salas para exposição e havia cinemas. Tudo lindo. Pensei: "Será que meu filme um dia estará aqui?" Mas logo caí na real: "Até parece que vão querer passar o filme de uma galinha caipira que caiu na privada num lugar tão majestoso!"

Depois da exposição, fomos à Cinelândia, que fica bem próxima à Caixa Cultural. Lá revimos o Teatro Municipal e outros prédios históricos. Era um encantamento sem fim para mim, que vivo num lugar onde tudo é tão novo, ver construções centenárias. Nos esquecemos das horas e da vida. 

No momento de ir embora, chamamos outro táxi. Quando o taxista perguntou: "Pra onde?" Surpresa! Ninguém se lembrava do endereço nem do nome do hotel. O deslumbramento nos deixou fora da casinha, ou melhor, do hotel.

O Arthur disse que era em Copacabana. O que não ajudou muito. Mas o motorista seguiu viagem enquanto tentávamos nos lembrar do nome da avenida. Eu e o Carlos só ríamos. Como disse o sábio Frejat: "rir de tudo é desespero." 

A Keila então se lembrou de algo importantíssimo, o hotel ficava perto de uma pracinha. O taxista disse que a informação não ajudaria, havia muitas praças no Rio. O Carlos então argumentou que na cidade da Keila deveria haver só uma, por isso ela teria achado a informação crucial.

Eu já estava pensando em qual viaduto nós iríamos dormir. Porque além de perdidos, estávamos duros. Além disso, por ser mais velha, eu me sentia responsável pela trupe.

"É numa avenida depois da praia!" - eu disse. 

"Deve ser Nossa Senhora de Copacabana"-emendou o taxista. 

Então a Keila, se lembrou de um detalhe fundamental: "Eu não sei onde é, mas pra chegar lá de táxi, custa R$ 23,85."

Todo mundo olhou pra ela, inclusive o taxista, que quase bateu o carro num poste. Realmente essa informação ajudou muito. Podíamos rodar até o taxímetro marcar 23,85, aí era só descer que estaríamos no hotel, não importando em que direção seguíssemos. Por que ao invés de decorar o preço da corrida, ela não decorou o nome do hotel? 

"Tinha um supermercado perto." Disse um.

"E um cinema de filmes para adultos." 

"Aquilo não é cinema, é outra coisa." Alguém retrucou.

"Tinha uma barraquinha de cachorro quente." Eu disse, porque de comida, eu me lembro. Mas nada do nome do hotel. Eu já me via procurando jornal na rua pra dormir na sarjeta.

Por um instante iluminado, um de nós se lembrou que havia dois leões de metal na frente do hotel. O motorista sabia qual era, Mar Palace. Aleluia! Nunca mais me esqueço desse nome. Ele foi nos conduzindo até lá. Quando estávamos bem próximos, a Keila falou: "Pode parar aqui na esquina mesmo, já estamos perto, conheço esse lugar."

Ao que o taxista protestou: "Mas no taxímetro ainda não deu R$23,85!!!!"



                                                       Na Caixa Cultural


Obs.: Um ano depois, o filme A Galinha ou Eu foi exibido na Caixa Cultural do Rio e de Fortaleza, num festival promovido pela mesma curadora da exposição de fotojornalismo. 

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