Quando eu ficava sozinha na Fazenda Anjo da Guarda, e isso acontecia com frequência, gostava de observar os animais. Sempre achei as vacas preguiçosas, mascando o dia todo e balançando o rabo. Os porcos eram meio bobos, fuçando de um lado para o outro. Às vezes havia ovelhas, lindas. Eu entendia todos eles pelo olhar.
Mas o animal que
eu mais admirava era o cavalo. Que elegância, que porte, que beleza e, principalmente,
que sensibilidade! Para mim, era absurdo um ser tão superior (se permitir a) puxar
carroça e servir de montaria para seres humanos. Uma ofensa à dignidade do
animal. E isso ficava bem claro no olhar dos equinos, sempre tristes,
indignados, sofridos. Um ou outro se revoltava às vezes tentando derrubar o
cavaleiro. No entanto, a maioria se resignava à sua triste sina.
Um dia, eu estava
colhendo rosas no quintal de casa. Eu gostava de comer rosas, principalmente as
vermelhas. Vi um potro marrom solto procurando pastagem no chão quase vazio.
Olhei a rosa, olhei o cavalinho tão digno, tão sensível. Não tive dúvidas, ele
merecia uma rosa. Mesmo tão jovem, ainda com seis anos, eu sabia que as pessoas
davam flores a quem admiravam e amavam. Aquele animal merecia um rosa, merecia
uma prova do meu respeito.
Colhi a flor e
segui ao seu encontro. Chegando perto dele, estendi a rosa para que ele
cheirasse: “É pra você.” Naquele momento, eu sabia que todo sofrimento que aquele
cavalinho ainda passaria na vida seria aliviado pelo meu gesto. Senti-me feliz,
importante.
Daí, o potro se
virou e me deu um coice. A pata do animal passou a centímetros de meu rosto. Se
tivesse acertado, eu teria outra cara hoje. Caí para trás com o coração
acelerado, quando consegui me levantar, corri o mais longe possível do cavalo.
E pensava: “Por que ele me deu um coice se é tão sensível?” A resposta já
estava na própria pergunta.
Não tive coragem de
contar para ninguém, iriam pensar que eu era idiota em querer dar flores a
cavalos. Mas o tempo passou, eu cresci, evoluí... aí você pode pensar: “Então
ela não cometeu mais esse erro.”
É claro que cometi.
Até hoje ofereço flores a cavalos e levo muitos coices. Mas não vou desistir,
não podemos perder a esperança. Nunca se sabe quanta sensibilidade se esconde
por trás de uma cara animal.
11/04/2014
11/04/2014
2016
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