A RODA GIGANTE
Nós
morávamos a muitos quilômetros de um parque de diversões. Nós éramos: eu,
quatro irmãos, quatro primos, e uma dezena de filhos de moradores da Fazenda
Anjo da Guarda. Criança era o que não faltava naquele lugar.
Como
eu estava dizendo... não havia possibilidade, devido a distância e ao número de
crianças, de todos nós irmos a um parque de diversões. Mas nem tínhamos este sonho. Porque isto não
fazia parte do nosso mundo.
Porém,
havia o Tio Sérgio, que também não era desse mundo. Digo isto porque ele tinha
ideias bem avançadas para aquele tempo e lugar. Tudo bem que ele morava na
cidade de Itambé, mas a cidade era pequena e, pelo que eu soube, as pessoas de
lá também não pensavam como ele.
O tio
amava as máquinas, motores e tudo o que era moderno para a década de 70. Ele
voava com sua moto pelas estradas, levantando poeira; gostava também de dirigir
carros, tratores e pilotava o avião que pulverizava as plantações da fazenda.
E
ele gostava de inventar suas próprias
máquinas. A que interessou a mim e às outras crianças foi a tal da roda
gigante. O tio ficou dias e dias na produção de sua obra-prima. Cortou, soldou,
montou... e finalmente nos apresentou seu invento. A máquina era movida por um
motor, tinha uns quatro metros de altura e várias
cadeirinhas onde as crianças poderiam se sentar. E não é que aquele trem
funcionava mesmo. Só havia um problema: por uma questão de equilíbrio, cada
cadeira deveria levar duas crianças e não poderiam restar cadeiras vazias.
Geringonça
pronta, vamos ao teste. Era preciso um voluntário, ou melhor, uma cobaia para
isto. Sugeriram que fosse eu, por ser a mais magra da turma. Houve protestos,
então decidiram colocar uma pedra no meu lugar (ufa). Quando a máquina foi
ligada, a pedra voou longe. Ainda bem que foi a pedra e não eu. Então o tio fez
alguns reparos e o brinquedo ficou seguro. Todas as crianças da fazenda subiram
na roda gigante, uma de minhas irmãs ficou sem par para a cadeira, então
colocam sucatas para ir com ela. Assim a
danada máquina foi ligada. Que sucesso! Nunca tinha visto nada parecido.
A gente subia, rodava, descia, subia, rodava, descia... que alegria. O teste
mostrou que tudo funcionava bem.
No segundo
dia de funcionamento do nosso grande brinquedo, nós subimos nas cadeiras
novamente. Porém, havia uma menina que estrearia o invento naquele dia e estava
com medo. Mas concordou em brincar assim mesmo. Meu tio ligou a roda gigante e
foi trabalhar no barracão ao lado. Quando o brinquedo estava em pleno
funcionamento, a tal menina pulou de sua cadeira. A roda gigante disparou,
fazendo todo mundo gritar desesperadamente. Parecia que quanto mais nós
gritávamos, mais aquele negócio rodava.
Quando
eu (e as 8 outras crianças do brinquedo) estavam a ponto de vomitar, tio Chico
apareceu e desligou o motor que impulsionava o brinquedo. Fomos salvos.
Depois
disso, a roda gigante foi abandonada. Voltamos às velhas brincadeiras e
deixamos de lado a modernidade. Mas... como aquele brinquedo deixou saudades...
e o meu tio Sérgio também!
Tio Sérgio e Tia Jurema
Denizia Moresqui
17/02/08
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