quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A roda gigante


                                                        A RODA GIGANTE


        Nós morávamos a muitos quilômetros de um parque de diversões. Nós éramos: eu, quatro irmãos, quatro primos, e uma dezena de filhos de moradores da Fazenda Anjo da Guarda. Criança era o que não faltava naquele lugar.
        Como eu estava dizendo... não havia possibilidade, devido a distância e ao número de crianças, de todos nós irmos a um parque de diversões. Mas  nem tínhamos este sonho. Porque isto não fazia parte do nosso mundo.
         Porém, havia o Tio Sérgio, que também não era desse mundo. Digo isto porque ele tinha ideias bem avançadas para aquele tempo e lugar. Tudo bem que ele morava na cidade de Itambé, mas a cidade era pequena e, pelo que eu soube, as pessoas de lá também não pensavam como ele.
         O tio amava as máquinas, motores e tudo o que era moderno para a década de 70. Ele voava com sua moto pelas estradas, levantando poeira; gostava também de dirigir carros, tratores e pilotava o avião que pulverizava as plantações da fazenda.
          E ele gostava  de inventar suas próprias máquinas. A que interessou a mim e às outras crianças foi a tal da roda gigante. O tio ficou dias e dias na produção de sua obra-prima. Cortou, soldou, montou... e finalmente nos apresentou seu invento. A máquina era movida por um motor, tinha uns quatro metros de altura e várias cadeirinhas onde as crianças poderiam se sentar. E não é que aquele trem funcionava mesmo. Só havia um problema: por uma questão de equilíbrio, cada cadeira deveria levar duas crianças e não poderiam restar cadeiras vazias.
          Geringonça pronta, vamos ao teste. Era preciso um voluntário, ou melhor, uma cobaia para isto. Sugeriram que fosse eu, por ser a mais magra da turma. Houve protestos, então decidiram colocar uma pedra no meu lugar (ufa). Quando a máquina foi ligada, a pedra voou longe. Ainda bem que foi a pedra e não eu. Então o tio fez alguns reparos e o brinquedo ficou seguro. Todas as crianças da fazenda subiram na roda gigante, uma de minhas irmãs ficou sem par para a cadeira, então colocam sucatas para ir com ela. Assim a  danada máquina foi ligada. Que sucesso! Nunca tinha visto nada parecido. A gente subia, rodava, descia, subia, rodava, descia... que alegria. O teste mostrou que tudo funcionava bem.
          No segundo dia de funcionamento do nosso grande brinquedo, nós subimos nas cadeiras novamente. Porém, havia uma menina que estrearia o invento naquele dia e estava com medo. Mas concordou em brincar assim mesmo. Meu tio ligou a roda gigante e foi trabalhar no barracão ao lado. Quando o brinquedo estava em pleno funcionamento, a tal menina pulou de sua cadeira. A roda gigante disparou, fazendo todo mundo gritar desesperadamente. Parecia que quanto mais nós gritávamos, mais aquele negócio rodava.
           Quando eu (e as 8 outras crianças do brinquedo) estavam a ponto de vomitar, tio Chico apareceu e desligou o motor que impulsionava o brinquedo. Fomos salvos.
           Depois disso, a roda gigante foi abandonada. Voltamos às velhas brincadeiras e deixamos de lado a modernidade. Mas... como aquele brinquedo deixou saudades... e o meu tio Sérgio também!
Tio Sérgio e Tia Jurema


            Denizia Moresqui
                  17/02/08

Um comentário:

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