quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A escola





Acordei bem cedo naquela manhã, tentei abrir os olhos mas eles estavam grudados pela remela. Depois de esfrega-lo, consegui abrir. Minha irmã me acordou porque era um dia especial: dia de ir a escola pela primeira vez.
Eu ainda estava com seis anos, mas como já sabia ler, meus irmãos decidirem que eu deveria ir a escola também. Como toda criança gosta de novidades, resolvi tentar. Após o café, partimos, eu e mais três irmãos, rumo à Escola Isolada Anjo da Guarda, que ficava a uns cem metros de nossa casa.
Já havia muitas crianças no local, todas uniformizadas. Os meninos de camisa branca e calça azul marinho, as meninas de saias de pregas. Era bonito de se ver. A escola só contava com duas salas de aula, onde duas professoras lecionavam para as quatro séries iniciais; havia também um pequeno pátio entre as salas e, é claro, os banheiros, ou melhor, privadas: uma para os meninos e outra para as meninas, construídas de parede e meia.
As professoras chegaram de Kombi, ambas moravam na cidade de Itambé e eram transportadas até a zona rural pelo motorista da prefeitura. Eles traziam a merenda em grandes potes de alumínio.
Foi dado o sinal de entrada. Os alunos que estavam correndo no pátio logo formaram fila. Meus irmãos me empurraram na fila da 1ª série. A professora perguntou a minha idade e, antes que eu respondesse, meu irmão disse que era sete. Pois, pelas leis da educação da época, eu só poderia cursar a primeira série com sete anos.
Entramos na sala de aula, tinha um cheiro estranho, cheiro de coisa envelhecida. Havia um quadro negro, e era negro mesmo; carteiras duplas enfileiradas e alguns armários. Sentei-me onde a professora mandou. Fiquei olhando as paredes e todas as crianças sentadas, comecei a não gostar muito daquilo. Senti-me presa, para quem passava os dias andando e correndo sem direção, aquilo era uma tortura. Mas resignei-me momentaneamente.
A professora não tinha engolido bem a mentira do meu irmão. Eu sempre fui aniquilada, a menor e a mais magra da família. Então era difícil mesmo acreditar que eu tinha sete anos. Após alguns minutos de aula, ela chegou perto de mim e me perguntou: “Quantos anos você tem?”
Bem, eu sabia que a resposta seria decisiva para minha permanência na escola. Então, o tempo parou e pensei: Se eu mentir, continuo na escola, mas estarei cometendo um pecado. Se eu disser a verdade, terei que deixar a escola, porém fico bem com minha consciência. Na real mesmo, eu queria mais um ano livre. Sendo assim: “A verdade vos libertará.”
                                                                                Denizia Moresqui

                                                                                   20/04/2014

5 comentários:

  1. Eu fui aluno desta escola assim que ela foi construída lembro das professoras aí vai o nomes de algumas Iraci zucoli Cleonice Viturino Marilene Parucci Riroco a Toninha sua prima e mais outras que não me recordo

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