Acordei bem
cedo naquela manhã, tentei abrir os olhos mas eles estavam grudados pela
remela. Depois de esfrega-lo, consegui abrir. Minha irmã me acordou porque era
um dia especial: dia de ir a escola pela primeira vez.
Eu ainda
estava com seis anos, mas como já sabia ler, meus irmãos decidirem que eu
deveria ir a escola também. Como toda criança gosta de novidades, resolvi
tentar. Após o café, partimos, eu e mais três irmãos, rumo à Escola Isolada
Anjo da Guarda, que ficava a uns cem metros de nossa casa.
Já havia
muitas crianças no local, todas uniformizadas. Os meninos de camisa branca e
calça azul marinho, as meninas de saias de pregas. Era bonito de se ver. A
escola só contava com duas salas de aula, onde duas professoras lecionavam para
as quatro séries iniciais; havia também um pequeno pátio entre as salas e, é
claro, os banheiros, ou melhor, privadas: uma para os meninos e outra para as
meninas, construídas de parede e meia.
As
professoras chegaram de Kombi, ambas moravam na cidade de Itambé e eram
transportadas até a zona rural pelo motorista da prefeitura. Eles traziam a
merenda em grandes potes de alumínio.
Foi dado o
sinal de entrada. Os alunos que estavam correndo no pátio logo formaram fila.
Meus irmãos me empurraram na fila da 1ª série. A professora perguntou a minha
idade e, antes que eu respondesse, meu irmão disse que era sete. Pois, pelas
leis da educação da época, eu só poderia cursar a primeira série com sete anos.
Entramos na
sala de aula, tinha um cheiro estranho, cheiro de coisa envelhecida. Havia um
quadro negro, e era negro mesmo; carteiras duplas enfileiradas e alguns
armários. Sentei-me onde a professora mandou. Fiquei olhando as paredes e todas
as crianças sentadas, comecei a não gostar muito daquilo. Senti-me presa, para
quem passava os dias andando e correndo sem direção, aquilo era uma tortura.
Mas resignei-me momentaneamente.
A professora
não tinha engolido bem a mentira do meu irmão. Eu sempre fui aniquilada, a
menor e a mais magra da família. Então era difícil mesmo acreditar que eu tinha
sete anos. Após alguns minutos de aula, ela chegou perto de mim e me perguntou:
“Quantos anos você tem?”
Bem, eu
sabia que a resposta seria decisiva para minha permanência na escola. Então, o
tempo parou e pensei: Se eu mentir, continuo na escola, mas estarei cometendo
um pecado. Se eu disser a verdade, terei que deixar a escola, porém fico bem
com minha consciência. Na real mesmo, eu queria mais um ano livre. Sendo assim:
“A verdade vos libertará.”
Denizia Moresqui
20/04/2014
muito bom parabéns !
ResponderExcluirObrigada
Excluirobrigada por ler
ResponderExcluirEu fui aluno desta escola assim que ela foi construída lembro das professoras aí vai o nomes de algumas Iraci zucoli Cleonice Viturino Marilene Parucci Riroco a Toninha sua prima e mais outras que não me recordo
ResponderExcluirA primeira escola, a gente nunca esquece.
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