quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Aprendiz de cientista



Minha mãe me disse que, desde muito pequena, sempre fui curiosa. Ao nascer, eu já olhava para todo lado a fim de conhecer o mundo. Quando aprendi a falar, disparava perguntas infinitas que ninguém queria responder. Eu queria saber o porquê de tudo, não havia limites para o desejo de saber.
“Mãe, água quente apaga o fogo? Por que chove e depois tem arco-íris? O que significa famigerado? Quem criou Deus?” E assim, sucessivamente, as perguntas brotavam da minha boca e faziam todos correrem quando eu chegava. Eu era uma verdadeira “espalha rodinhas”. Então decidi investigar algumas coisas por conta própria.
Um dia, o fogão à lenha estava acesso. Encontrei uma corda de nylon e pensei: O que acontece se eu botar fogo na ponta da corda e rodá-la? Como todo cientista que se preze, parti ao meu experimento. Enfiei a corda na boca do fogão e quando acendeu comecei a rodar para ver o que acontecia. Encantador, a luz girando em minha mão me deixou maravilhada.
Até que... a ponta da corda derreteu, soltou-se e grudou bem na minha cara. Ai que dor! Que coisa terrível. Comecei a chorar e pular, então fui ver o estrago no espelho. Uma grande mancha vermelha se formava na minha bochecha esquerda. As lágrimas escorriam, enquanto eu tentava arrancar a mancha e os pedaços da corda com os meus toquinhos de unhas. Mas não teve jeito. Precisei pedir socorro à minha mãe. Entretanto ela pouco pôde fazer para aliviar a dor e diminuir as consequências da minha curiosidade. Meu rosto ficou com uma grande mancha vermelha, que parecia o mapa do Brasil.
Poucos dias depois quando o machucado já estava com casca de ferida, decidi brincar mais ao invés de tentar desvendar os mistérios do universo. Eu era criança e deveria agir como tal. Meus irmãos e primos estavam brincando no terreirão de café. Fui até lá tentar interagir. Eles queriam brincar de peixinho. O negócio que era assim: pegava-se uma criança leve, todas as outras ficariam de duas a duas de braços unidos e estendidos, umas ao lado das outras, fazendo uma grande corrente por onde a criança leve passaria por cima até chegar ao final.
Adivinhem quem foi a criança leve escolhida. Então me colocaram nos braços das duas primeiras da fila e foram me passando pelos outros braços. Até que aquilo era divertido, me senti uma estrela levitando. Foram passando, passando... No final da fileira, continuaram me passando, só que não havia mais ninguém para me segurar. Caí de cara no chão áspero de concreto. Ah! Caí com o lado direito do rosto no chão. Resultado: fiquei com um mapa do Brasil vermelho na bochecha esquerda e o Monte Everest roxo na direita. Pelo menos em geografia, eu estava bem.
                                                        Denizia Moresqui
                                                           11/04/2014



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