Revista Tradição. Ano XXXV
Nº 390 - Julho/2015, páginas 26, 27 e 28
Maringá-PR
Abaixo os links dos vídeos sobre a história de Itambé
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Escrito por Nayara Spessato
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Qua, 05 de Junho de 2013 00:00
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Imagine uma pessoa que passou toda a sua infância na fazenda, estudou
em escolas do campo e na adolescência mudou-se para uma pequena
cidadezinha do norte paranaense, Itambé, onde vive até hoje. E que neste
fim de semana, voou para o Rio de Janeiro para dar uma entrevista ao
Canal Futura, sobre o filme dirigido e produzido por ela “A Galinha ou
Eu”. Esta é Denizia Moresqui atual chefe de divisão municipal de cultura
de Itambé, formada em Letras pela Universidade Estadual de Maringá
(UEM), e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional, começou a
lecionar em 1995 atuando como professora por 12 anos até assumir o cargo em
que está hoje. Denizia ficou conhecida pelos grandes trabalhos em prol
da disseminação da cultura e educação.
1. O DIÁRIO NA
ESCOLA: Sua bagagem cultural é bastante ampla, desenvolve ao mesmo tempo
projetos que envolvem teatro, cinema e música. De onde surge a criatividade
para suas produções?
DENIZIA: Nunca me
mudei de Itambé, estudei em escolas públicas que sempre motivaram os alunos a
participarem de eventos artísticos, como: apresentações musicais, teatros,
gincanas, entre outros. Minha infância foi muito rica, na fazenda, junto com
muitas crianças podíamos brincar o dia todo e em qualquer lugar. Como não
havia brinquedos prontos, nós mesmos os confeccionávamos, o que ajudou a
estimular minha criatividade. Além disso, quando cursei Letras, os
professores me ensinaram a entender e a amar a arte, inicialmente a
literária. Comecei a desenhar e pintar por entender a arte como expressão
máxima da linguagem. Depois, interessei-me pela música e fui estudar violino.
O interesse pela fotografia veio em 2009, quando utilizei pela primeira vez
uma máquina fotográfica digital, e pelo cinema surgiu através da televisão.
Mas a vontade de fazer cinema só surgiu, em 2010, com o concurso Revelando os
Brasis, antes dele, eu jamais havia pensado em produzir um filme.
2. A vocação para
trabalhar com educação apareceu em que momento da sua vida? E a paixão pela
área da cultura, teve alguém que te inspirou?
O interesse pela
educação surgiu quando eu tinha 14 anos e estava na 8ª série. Minha prima
cursava o Magistério e foi fazer estágio no intervalo do Colégio Olavo Bilac.
Eu fui com ela e fiquei brincando com as crianças. Quando tocou o sino, nos
despedimos dos alunos e uma menina me chamou de “senhora”. Eu fiquei tão
feliz com o respeito com que fui tratada que decidi: seria professora! Foi
uma grande escolha. A maior inspiradora para que eu me tornasse artista foi a
professora da UEM, Leid Luiza Carvenalli. Após eu apresentar um dos trabalhos
da disciplina que ela lecionava, a professora me disse: “Você é uma artista.
Eu achei que você era uma menina avoada que caiu de paraquedas neste curso.
Nunca me enganei com alguém, mas com você sim”. Eu não acreditei, é claro.
Mas ela falou a mesma coisa para mim durante dois anos em todas as aulas de
literatura, levava livros e gravuras de grandes pintores para que eu os
conhecesse e explicasse as obras. E assim, ela me convenceu.
3. Há pouco tempo
você desenvolveu o projeto “Tem Teatro” no qual alunos de 11 à 14 anos
apresentaram fábulas de Monteiro Lobato. Com a era digital em que vivemos e
os adolescentes sempre rodeados pelas tecnologias, como você consegue
cativá-los para apresentações teatrais?
Em 2009, o
Governo do Estado instituiu o Programa Viva Escola, de incentivo a atividades
artísticas, esportivas e outras, em contraturno. Então montei o Projeto Tem
Teatro, que visa ensinar alunos do 6º ao 9º ano a arte de representar e
produzir textos teatrais. O projeto foi aplicado o ano todo. Em 2011, o novo
governo também incentivou as atividades extraclasse e, novamente montei o
projeto teatral, que está ativo até hoje. Gosto de encenar peças
infanto-juvenis, pois vejo a necessidade de fazer as crianças serem crianças
por mais tempo. Apesar de toda a tecnologia que os alunos têm acesso hoje, o
teatro é milenar e vai continuar encantando a humanidade sempre. Pois tudo
acontece ao vivo e, por mais simples que sejam os recursos utilizados, as histórias
são irresistíveis. As próximas peças que encenaremos serão “A Comédia do
Cheiro” e a “Formiguinha e a Neve”.
4. O filme produzido
por você “A galinha ou Eu” é uma divertida história de uma galinha que caiu
na privada. Como surgiu a inspiração para esta produção?
A história
aconteceu de verdade. Eu a mantive em segredo por trinta anos. Um dia,
resolvi escrevê-la para trabalhar com meus alunos sobre lembranças da
infância. Nunca pensei que iria virar filme. Quando soube do Concurso
Revelando os Brasis, acreditei que a história teria chances de ser escolhida
e enviei ao Instituto Marlim Azul, que promove o concurso. Quando eu fui ao
Rio de Janeiro fazer o curso de cinema, percebi que as outras histórias
escolhidas eram bem culturais e a minha, uma travessura de criança. Fiquei
até meio envergonhada, mas quando a narrei para todos os outros Revelandos, a
gargalhada foi tão grande que a vergonha passou.
5. Como foi sua
participação no concurso “Revelando os Brasis” promovido pela Petrobrás? No
sábado, inclusive, você deu uma entrevista para o canal Futura sobre o filme
que produziu. Em algum momento da sua vida imaginou que seus trabalhos teriam
destaque nacional?
Eu sempre amei o
meu trabalho, mesmo sabendo que era simples. Mas era o melhor que eu poderia
fazer. Mesmo assim, me surpreendo com o destaque que alcançou. Durante o
curso que fiz na Rio Filme, a Petrobrás escolheu apenas uma história das
quarenta para acompanhar o trabalho de filmagens e edição, e fazer um
documentário intitulado Raio X Petrobrás, para assim poder divulgar o projeto
Revelando os Brasis em todo o país. Como meu filme envolvia galinhas e
crianças, foi o escolhido. O que foi uma grande honra para mim. O filme “A
Galinha ou Eu” já foi apresentado em vários festivais de cinema pelo Brasil,
divulgando nossa cultura e nossas paisagens. Minha intenção é destacar todo o
norte do Paraná, porque esta terra é maravilhosa, tem uma história fantástica
e merece ser reconhecida e admirada por todos.
6. O livro “História
de Itambé” foi escrito por você, após três anos de muita pesquisa. Como foi a
produção desta obra?
Foi um trabalho
exaustivo, porque envolveu a digitalização de todo o material pesquisado.
Contei com a ajuda de muitas pessoas que vivem e que viveram em Itambé.
Estamos nos programando para o lançamento da obra, e também, um reencontro
nas festividades do aniversário da cidade, no último final de semana de julho,
para o lançamento da “História de Itambé”. Virão pessoas até de outro país.
7. Depois de tantos
anos trabalhando com educação e cultura, em especial direcionado a crianças e
adolescentes, você acredita que tem auxiliado no processo de formação
cultural do cidadão?
As palmas ao
final de cada peça teatral, quando um aluno fala do meu filme, ou de algum
quadro que pintei, quando se emocionam com meus textos, ou ainda com a música
que toco ao violino, quando vejo que eles estão se interessando pela arte,
pela cultura, pela nossa história, pela fotografia, quando eles dizem que
também querem ser artistas… Sinto que tudo valeu a pena! Eu me entreguei à
arte como quem se entrega à uma grande paixão, sem medo, sem reservas, sem
grandes pretensões. E o que recebi de volta foi muito mais do que dei. A
alegria que sinto de fazer com que crianças, adolescentes, adultos e idosos
apreciem o que de mais belo um ser humano pode fazer, que é a arte, não tem
preço. Nunca pretendi ficar rica com a arte, mas a riqueza que ela me deu é
maior do que ouro ou prata: é a felicidade da realização profissional. A vida
é curta demais para ficarmos o tempo todo correndo atrás de dinheiro.
http://www.asc.uem.br/uemnamidia/index.php?option=com_content&view=article&id=6505:-apaixonada-por-educacao-e-cultura&catid=13:o-dio-do-norte-do-paran&Itemid=2
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