sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

HISTÓRIA DE ITAMBÉ - PARTE 16

                                   ÊXODO RURAL

Imagem meramente ilustrativa

               Com o fim dos cafezais e o advento das lavouras mecanizadas, os bairros rurais foram se esvaziando, fenômeno que recebeu o nome de êxodo rural. De acordo com dados dos Censos Demográficos recolhidos pela Professora Lúcia de Melo e transcritos em sua monografia: O Êxodo Rural Enquanto Reflexo da Modernização Agrícola – O Município de Itambé: Um Estudo de Caso. (1997), a população de Itambé em 1970 era de 15044 pessoas, sendo que 2815 moravam na zona urbana, ou seja, 18,71%; na área rural viviam 12229 pessoas, 81,29%. Depois da Geada Negra, o censo de 1980 registrou a população de Itambé em 6555 habitantes, destes 3356 pessoas viviam na área urbana, 51,20%; na área rural, 3199 pessoas, 48,80%. Uma perda de 8489 habitantes, a maioria da zona rural. Em 1991, o número de moradores na área urbana cresceu para 4710, 76,44%, e da zona rural caiu para 1452, 23,56%, totalizando 6112 habitantes.
        Isto aconteceu porque era preciso plantar uma área maior de soja para obter uma rentabilidade compatível com a do café. Ou seja, se antes, muitas famílias poderiam viver do cultivo em pequenas propriedades, com o advento da soja, elas perderam seu sustento, precisaram vender suas terras e sair em busca de outros meios de vida. Em 1970, as propriedades rurais de Itambé estavam dividias em 1366 estabelecimentos, este número caiu para 838 estabelecimentos em 1975, ano de Geada Negra, 448 estabelecimentos em 1980 e 402 estabelecimentos em 1985, uma diminuição de 78,18%. Além disso, o número de colheitadeiras era de 31 em 1970 e subiu para 105, em 1985; o número de tratores era de 146, em 1970 e subiu para 429, em 1985, dados de Melo (1997).
           O vice-prefeito, Benedito dos Santos, conta que, em 1976, trabalhava na empresa Castro Máquinas Agrícolas, como vendedor de insumos. Então foi informado pelo senhor Jair Silgail que a Pismel, empresa que comercializava automóveis, máquinas e implementos agrícolas da marca Ford, estava contratando vendedores. Benedito, ou Dito Bó, como é mais conhecido, mandou um currículo para a empresa e foi contratado no mês de setembro daquele ano. 

Benedito dos Santos em treinamento de vendas
Fonte: Benedito dos Santos  

         Antes da geada, a soja santa rosa era plantada entre os cafezais, colhida de forma artesanal, batida com trilhadeira à mão e vendida às cerealistas do Matsumoto e do Armando Lima. Nesta época havia muito trator pequeno, das marcas Walmet e o Massey Fergusson, que davam conta do serviço. Mas com o crescimento da produção, se tornaram necessários tratores mais potentes. Para tanto, Dito Bó atenderia aos Municípios de Itambé, Floresta e Ivatuba. 

Trator da Família Honda, um dos primeiros do Município
Fonte: Paulo Tadashi Honda

        Na Festa da Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças de 1976, Dito pediu ao Padre Pedro Canísio Drapper e à comissão responsável a permissão para expor um trator da Ford durante o evento. O Padre permitiu que ele trouxesse, além do trator, um implemento agrícola. Após o almoço, foi feita uma demonstração do trabalho do trator na região do Guerra, assistida por cerca de trinta agricultores. O senhor Alberto Mesquine, que já encomendara uma máquina de outra marca, cancelou o pedido e foi o primeiro cliente de Dito. De outubro a dezembro, foram vendidos, só em Itambé, doze tratores. O jovem vendedor viu sua vida se transformar. Em meio à crise causada pela geada, ele prosperou vislumbrando uma nova fonte de renda. Ele brinca:

      “Quem vivia, até o momento, comendo marmita, já podia almoçar em restaurante. Porque eu tive umas comissões boas, graças a Deus.”

       Houve muitas vendas após estas. Então Dito foi promovido, a chefe de vendas em Campo Mourão, na década de 80, mas continuou morando em Itambé. A família conseguiu comprar seu primeiro sítio, porque, até então, trabalhava de meeira. Benedito ingressou na vida política e foi eleito vereador. 

Desfile da Festa da Soja, destaque para o grande número de tratores
Fonte: Família Moreschi

           Nem todos tiveram o mesmo destino do jovem vendedor. Sem trabalho para manter o próprio sustento, os meeiros foram deixando o campo, rumando para a zona urbana de Itambé e para as grandes cidades à procura de emprego. Muitos se tornaram trabalhadores diaristas e foram denominados boias-frias, porque a maioria deles morava na cidade e saía de casa, em cima de caminhões, ainda de madrugada com a comida pronta em marmitas de alumínio; quando chegava a hora do almoço, a “boia” já estava fria. Os fatores que contribuíram para o êxodo rural segundo Lúcia de Melo (1997) foram: o Estatuto de Trabalhador Rural, de 1963, que amplia os direitos dos trabalhadores rurais e impõe encargos trabalhistas aos patrões, e a mecanização da agricultura incentivada pelo Governo Federal nas lavouras de soja, trigo, milho e algodão.
             Dona Sebastiana Batista Aparecido Florão conta que sua família trabalhava com empreiteira de café há dezoito anos em Itambé, na fazenda Monte Alto da família Honda. Mas os proprietários das terras onde vivia decidiram que seria melhor para o futuro da fazenda erradicar aos poucos os cafezais. De uma grande colônia, restaram apenas três famílias e poucos pés de café, que não garantiam o sustento de todos. Dona Sebastiana diz que sentiu uma profunda tristeza, pois gostava do seu trabalho e teria que abandonar o lugar onde viu seus filhos crescerem. Sem outra opção, vendeu seus cabritos, porcos e galinhas, recebeu uma indenização dos donos das terras e comprou uma casa na cidade de Itambé, onde vive até hoje. Ela lembra que um dos filhos, Eduardo, recusava-se a subir no caminhão da mudança, chorando, dizia que não queria ir embora da fazenda. A família Florão foi para a cidade e Eduardo só chegou à nova casa horas depois. Então Dona Sebastiana e os filhos começaram a trabalhar como diaristas na lavoura da mesma propriedade onde viveram. 

Dona Sebastina, com 100 anos de idade, em 2010, ao
lado dos pés de café que cultiva até hoje no quintal
Foto: Denizia Moresqui

           Uma grande parte da população de Itambé rumou para Tupãsi, Assis Chatobriand, Nova Aurora, Jesuítas, Formosa do Oeste, Goioerê, Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e alguns foram viver clandestinamente no Paraguai, denominados depois de brasiguaios. Muitos itambenses rumaram para Foz do Iguaçu, onde trabalharam na construção da Usina Hidroelétrica de Itaipu. O Senhor Jovânio Pereira dos Santos estima que cerca de 26 mil pessoas deixaram o município, número não oficial.
          Então, os proprietários que ainda permaneceram na zona rural foram ficando isolados. Os vizinhos, cada vez mais longe, já não podiam proteger uns aos outros, o que abriu espaço para a violência. A família Fedrigo gostava muito da vida no campo. Porém, após um assalto em 1984, Paulo Fedrigo decidiu ir embora para a cidade. Os onze bandidos fizeram a família refém e roubaram um trator e um Fusca. Vitor Fedrigo lamenta que, se não fosse por causa dos ladrões, sua família não teria se mudado, porque todos gostavam da criação de animais, algo difícil de fazer na cidade. Um vizinho da família foi assassinado por ladrões e o trator dos Niere foi roubado, o que também desestimulou as famílias de permanecerem no campo.

Reportagem sobre assaltante que teria participado do roubo
ao sítio dos Fedrigo
Fonte: Família Fedrigo

           Aos poucos, os agricultores desmancharam casas, tulha, paióis e rumaram para a zona urbana. Aqui, eles construíram vários barracões para guardar tratores, máquinas e implementos agrícolas, algo que incomodou uma parcela da população, devido ao barulho já nas primeiras horas do dia e ao cheiro de defensivos agrícolas, e foi motivo de um plebiscito em 2008, no qual se decidiu pela permanência destes.
          O aumento da violência também motivou o Governo Estadual a incentivar a criação de conselhos de segurança nos municípios. No início da década de 80, foi criado em Itambé o Conselho Comunitário de Segurança, tendo como primeiro Presidente o Sr. Wilson Capocci. Segundo Capocci, o Conselho é um elo de ligação entre a população e as polícias civil e militar. O povo procura o Conselho para fazer sugestões, reclamações sobre a segurança que são encaminhadas aos policiais, além disso, o órgão atua junto ao Governo do Estado para  pleitear  melhoria das condições de trabalho do profissionais. O Conselho também faz promoções, como almoços de porco no tacho e porco no rolete, com o intuito de arrecadar verbas para a manutenção de viaturas, compra de rádio e armas, entre outros. A atual Presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Itambé é a Senhora Lourdes Martinenghi Messias.

           MUDANÇAS NOS SÍMBOLOS MUNICIPAIS

           A Geada Negra provocou mudanças até nos Símbolos Municipais: a Bandeira e o Brasão de Armas de Itambé. Na gestão do Prefeito Antônio Rodrigues Machado e Mário Forastieri, foram instituídos os novos símbolos, através da Lei 465 de 28/10/1987. As mudanças foram feitas pelo heraldista e vexilologista Senhor Reynaldo Valaski, seguindo os padrões da Enciclopédia Heráldica Municipalista. De acordo com a Heráldica e Vexilologia do Município de Itambé (1987), o Brasão de Armas é inspirado na cultura portuguesa, principal formadora da colonização do Brasil. A Coroa Mural sobre o Brasão é o Símbolo Universal de Domínios, da glória, esplendor, riqueza e soberania, em cor ouro, com oito torres, pela perspectiva, apenas cinco ficam visíveis, dá a cidade a classificação de terceira grandeza, já a luminária vermelha simboliza os pioneiros, desbravadores e dirigentes de Itambé. O esmalte preto representa a prudência, moderação, austeridade e firmeza de caráter. A coroa abaixo da Coroa Mural simboliza a Padroeira do Município, Nossa Senhora das Graças. Depois há uma divisão em seis partes do campo abaixo e os dois quartéis do centro são subdivididos em triângulos retângulos. No primeiro quartel, à esquerda há o mapa do Paraná, um Globo Terrestre, um livro, uma caneta e um tinteiro sobre uma mesa, simbolizando o Ensino e a Cultura, as maiores riquezas de todos os municípios. Já no segundo quartel, há símbolos do antigo Brasão: o Cruzeiro do Sul, que era a bússola guiadora dos exploradores, e as montanhas, abismos e penhascos que ajudaram a nomear Itambé. No triângulo retângulo à esquerda, se vê o início da mecanização das terras, simbolizado por um trator, logo acima, há a abelha representando o trabalho. Ao lado, encontram-se mais dois triângulos retângulos: um representando o trabalho nos canaviais e no outro, há um agricultor com uma enxada nas mãos, um instrumento de trabalho primitivo, mas que ainda hoje é usado. No quinto quartel, há a soja, a lavoura que veio substituir o café. Ao lado, o trigo, outra cultura que traz riqueza ao Município. O Rio Ivaí está representado por duas linhas sinuosas abaixo do Brasão. As terras avermelhadas e o arado, instrumento de trabalho presente no antigo Brasão, completam a cena. Do lado exterior do Brasão, à direita há ramos de café e algodão, duas das primeiras culturas do Município; à esquerda, um ramo de milho e outro de feijão, outras lavouras que trazem riqueza a Itambé. Nos listéis em vermelho, cor que simboliza a dedicação, amor à Pátria, audácia, intrepidez, coragem e valentia, estão inseridos o nome do Município, a frase “Solo Rico do Vale do Ivaí”, além das datas de criação, 25-7-1960, e emancipação política de Itambé, 31-11-1961.

Novo Brasão de Armas de Itambé
Fonte: Heráldica e Vexilologia do Município de Itambé

            Como a antiga Bandeira de Itambé era representada em azul com o Brasão ao centro, com a mudança do Brasão, era inevitável mudar a bandeira. A autoria também é do heraldista e vexilologista Senhor Reynaldo Valaski. Segundo o autor, a parte azul da Bandeira simboliza as riquezas, o céu infinito, as propriedades rurais do Município, a serenidade e calma do povo de Itambé. O Brasão de Armas no centro simboliza o Governo Municipal e o lugar onde foi posto o Brasão simboliza a Cidade, sede do Município.

Bandeira do Município de Itambé
Fonte: Heráldica e Vexilologia do Município de Itambé

Bandeira do Município de Itambé
Enviada por Ronaldo Neves Hirata


Um comentário:

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