ÊXODO RURAL
Imagem meramente ilustrativa
Com o
fim dos cafezais e o advento das lavouras mecanizadas, os bairros rurais foram
se esvaziando, fenômeno que recebeu o nome de êxodo rural. De acordo com dados
dos Censos Demográficos recolhidos pela Professora Lúcia de Melo e transcritos
em sua monografia:
O Êxodo Rural Enquanto Reflexo da Modernização Agrícola – O Município de
Itambé: Um Estudo de Caso. (1997), a população de Itambé em 1970 era de 15044
pessoas, sendo que 2815 moravam na zona urbana, ou seja, 18,71%; na área rural
viviam 12229 pessoas, 81,29%. Depois da Geada Negra, o censo de 1980 registrou
a população de Itambé em 6555 habitantes, destes 3356 pessoas viviam na área
urbana, 51,20%; na área rural, 3199 pessoas, 48,80%. Uma perda de 8489
habitantes, a maioria da zona rural. Em 1991, o número de moradores na área
urbana cresceu para 4710, 76,44%, e da zona rural caiu para 1452, 23,56%,
totalizando 6112 habitantes.
Isto
aconteceu porque era preciso plantar uma área maior de soja para obter uma
rentabilidade compatível com a do café. Ou seja, se antes, muitas famílias
poderiam viver do cultivo em pequenas propriedades, com o advento da soja, elas
perderam seu sustento, precisaram vender suas terras e sair em busca de outros
meios de vida. Em 1970, as propriedades rurais de Itambé estavam dividias em
1366 estabelecimentos, este número caiu para 838 estabelecimentos em 1975, ano
de Geada Negra, 448 estabelecimentos em 1980 e 402 estabelecimentos em 1985,
uma diminuição de 78,18%. Além disso, o número de colheitadeiras era de 31 em
1970 e subiu para 105, em 1985; o número de tratores era de 146, em 1970 e
subiu para 429, em 1985, dados de Melo (1997).
O vice-prefeito, Benedito dos Santos,
conta que, em 1976, trabalhava na empresa Castro Máquinas Agrícolas, como
vendedor de insumos. Então foi informado pelo senhor Jair Silgail que a Pismel,
empresa que comercializava automóveis, máquinas e implementos agrícolas da
marca Ford, estava contratando vendedores. Benedito, ou Dito Bó, como é mais
conhecido, mandou um currículo para a empresa e foi contratado no mês de
setembro daquele ano.
Benedito dos Santos em treinamento de vendas
Fonte: Benedito dos Santos
Antes da geada, a soja santa rosa era
plantada entre os cafezais, colhida de forma artesanal, batida com trilhadeira
à mão e vendida às cerealistas do Matsumoto e do Armando Lima. Nesta época
havia muito trator pequeno, das marcas Walmet e o Massey Fergusson, que davam
conta do serviço. Mas com o crescimento da produção, se tornaram necessários
tratores mais potentes. Para tanto, Dito Bó atenderia aos Municípios de Itambé,
Floresta e Ivatuba.
Trator da Família Honda, um dos primeiros do Município
Fonte: Paulo Tadashi Honda
Na Festa da Igreja Matriz Nossa Senhora
das Graças de 1976, Dito pediu ao Padre Pedro Canísio Drapper e à comissão
responsável a permissão para expor um trator da Ford durante o evento. O Padre
permitiu que ele trouxesse, além do trator, um implemento agrícola. Após o
almoço, foi feita uma demonstração do trabalho do trator na região do Guerra,
assistida por cerca de trinta agricultores. O senhor Alberto Mesquine, que já
encomendara uma máquina de outra marca, cancelou o pedido e foi o primeiro
cliente de Dito. De outubro a dezembro, foram vendidos, só em Itambé, doze
tratores. O jovem vendedor viu sua vida se transformar. Em meio à crise causada
pela geada, ele prosperou vislumbrando uma nova fonte de renda. Ele brinca:
“Quem vivia, até o
momento, comendo marmita, já podia almoçar em restaurante. Porque eu tive umas
comissões boas, graças a Deus.”
Houve
muitas vendas após estas. Então Dito foi promovido, a chefe de vendas em Campo
Mourão, na década de 80, mas continuou morando em Itambé. A família conseguiu
comprar seu primeiro sítio, porque, até então, trabalhava de meeira. Benedito
ingressou na vida política e foi eleito vereador.
Desfile da Festa da Soja, destaque para o grande número de tratores
Fonte: Família Moreschi
Nem todos tiveram o mesmo destino do
jovem vendedor. Sem trabalho para manter o próprio sustento, os meeiros foram
deixando o campo, rumando para a zona urbana de Itambé e para as grandes
cidades à procura de emprego. Muitos se tornaram trabalhadores diaristas e
foram denominados boias-frias, porque a maioria deles morava na cidade e saía
de casa, em cima de caminhões, ainda de madrugada com a comida pronta em
marmitas de alumínio; quando chegava a hora do almoço, a “boia” já estava fria.
Os fatores que contribuíram para o êxodo rural segundo Lúcia de Melo (1997)
foram: o Estatuto de Trabalhador Rural, de 1963, que amplia os direitos dos
trabalhadores rurais e impõe encargos trabalhistas aos patrões, e a mecanização
da agricultura incentivada pelo Governo Federal nas lavouras de soja, trigo,
milho e algodão.
Dona Sebastiana Batista Aparecido
Florão conta que sua família trabalhava com empreiteira de café há dezoito anos
em Itambé, na fazenda Monte Alto da família Honda. Mas os proprietários das
terras onde vivia decidiram que seria melhor para o futuro da fazenda erradicar
aos poucos os cafezais. De uma grande colônia, restaram apenas três famílias e
poucos pés de café, que não garantiam o sustento de todos. Dona Sebastiana diz
que sentiu uma profunda tristeza, pois gostava do seu trabalho e teria que
abandonar o lugar onde viu seus filhos crescerem. Sem outra opção, vendeu seus
cabritos, porcos e galinhas, recebeu uma indenização dos donos das terras e
comprou uma casa na cidade de Itambé, onde vive até hoje. Ela lembra que um dos
filhos, Eduardo, recusava-se a subir no caminhão da mudança, chorando, dizia
que não queria ir embora da fazenda. A família Florão foi para a cidade e
Eduardo só chegou à nova casa horas depois. Então Dona Sebastiana e os filhos
começaram a trabalhar como diaristas na lavoura da mesma propriedade onde
viveram.
Dona Sebastina, com 100 anos de idade, em 2010, ao
lado dos pés de café que cultiva até hoje no quintal
Foto: Denizia Moresqui
Uma grande parte da população de
Itambé rumou para Tupãsi, Assis Chatobriand, Nova Aurora, Jesuítas, Formosa do
Oeste, Goioerê, Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia
e alguns foram viver clandestinamente no Paraguai, denominados depois de
brasiguaios. Muitos itambenses rumaram para Foz do Iguaçu, onde trabalharam na
construção da Usina Hidroelétrica de Itaipu. O Senhor Jovânio Pereira dos
Santos estima que cerca de 26 mil pessoas deixaram o município, número não
oficial.
Então, os proprietários que ainda
permaneceram na zona rural foram ficando isolados. Os vizinhos, cada vez mais
longe, já não podiam proteger uns aos outros, o que abriu espaço para a
violência. A família Fedrigo gostava muito da vida no campo. Porém, após um
assalto em 1984, Paulo Fedrigo decidiu ir embora para a cidade. Os onze
bandidos fizeram a família refém e roubaram um trator e um Fusca. Vitor Fedrigo
lamenta que, se não fosse por causa dos ladrões, sua família não teria se
mudado, porque todos gostavam da criação de animais, algo difícil de fazer na
cidade. Um vizinho da família foi assassinado por ladrões e o trator dos Niere
foi roubado, o que também desestimulou as famílias de permanecerem no campo.
Reportagem sobre assaltante que teria participado do roubo
ao sítio dos Fedrigo
Fonte: Família Fedrigo
Aos poucos, os agricultores
desmancharam casas, tulha, paióis e rumaram para a zona urbana. Aqui, eles
construíram vários barracões para guardar tratores, máquinas e implementos
agrícolas, algo que incomodou uma parcela da população, devido ao barulho já
nas primeiras horas do dia e ao cheiro de defensivos agrícolas, e foi motivo de
um plebiscito em 2008, no qual se decidiu pela permanência destes.
O aumento da violência também motivou
o Governo Estadual a incentivar a criação de conselhos de segurança nos
municípios. No início da década de 80, foi criado em Itambé o Conselho Comunitário
de Segurança, tendo como primeiro Presidente o Sr. Wilson Capocci. Segundo
Capocci, o Conselho é um elo de ligação entre a população e as polícias civil e
militar. O povo procura o Conselho para fazer sugestões, reclamações sobre a
segurança que são encaminhadas aos policiais, além disso, o órgão atua junto ao
Governo do Estado para pleitear melhoria das condições de trabalho do
profissionais. O Conselho também faz promoções, como almoços de porco no tacho
e porco no rolete, com o intuito de arrecadar verbas para a manutenção de
viaturas, compra de rádio e armas, entre outros. A atual Presidente do Conselho
Comunitário de Segurança de Itambé é a Senhora Lourdes Martinenghi Messias.
MUDANÇAS NOS
SÍMBOLOS MUNICIPAIS
A Geada Negra provocou mudanças até
nos Símbolos Municipais: a Bandeira e o Brasão de Armas de Itambé. Na gestão do
Prefeito Antônio Rodrigues Machado e Mário Forastieri, foram instituídos os
novos símbolos, através da Lei 465 de 28/10/1987. As mudanças foram feitas pelo
heraldista e vexilologista Senhor Reynaldo Valaski, seguindo os padrões da
Enciclopédia Heráldica Municipalista. De acordo com a Heráldica e
Vexilologia do Município de Itambé (1987), o Brasão de Armas é inspirado na
cultura portuguesa, principal formadora da colonização do Brasil. A Coroa Mural
sobre o Brasão é o Símbolo Universal de Domínios, da glória, esplendor, riqueza
e soberania, em cor ouro, com oito torres, pela perspectiva, apenas cinco ficam
visíveis, dá a cidade a classificação de terceira grandeza, já a luminária
vermelha simboliza os pioneiros, desbravadores e dirigentes de Itambé. O
esmalte preto representa a prudência, moderação, austeridade e firmeza de
caráter. A coroa abaixo da Coroa Mural simboliza a Padroeira do Município,
Nossa Senhora das Graças. Depois há uma divisão em seis partes do campo abaixo
e os dois quartéis do centro são subdivididos em triângulos retângulos. No
primeiro quartel, à esquerda há o mapa do Paraná, um Globo Terrestre, um livro,
uma caneta e um tinteiro sobre uma mesa, simbolizando o Ensino e a Cultura, as
maiores riquezas de todos os municípios. Já no segundo quartel, há símbolos do
antigo Brasão: o Cruzeiro do Sul, que era a bússola guiadora dos exploradores,
e as montanhas, abismos e penhascos que ajudaram a nomear Itambé. No triângulo
retângulo à esquerda, se vê o início da mecanização das terras, simbolizado por
um trator, logo acima, há a abelha representando o trabalho. Ao lado,
encontram-se mais dois triângulos retângulos: um representando o trabalho nos
canaviais e no outro, há um agricultor com uma enxada nas mãos, um instrumento
de trabalho primitivo, mas que ainda hoje é usado. No quinto quartel, há a
soja, a lavoura que veio substituir o café. Ao lado, o trigo, outra cultura que
traz riqueza ao Município. O Rio Ivaí está representado por duas linhas
sinuosas abaixo do Brasão. As terras avermelhadas e o arado, instrumento de
trabalho presente no antigo Brasão, completam a cena. Do lado exterior do
Brasão, à direita há ramos de café e algodão, duas das primeiras culturas do
Município; à esquerda, um ramo de milho e outro de feijão, outras lavouras que
trazem riqueza a Itambé. Nos listéis em vermelho, cor que simboliza a
dedicação, amor à Pátria, audácia, intrepidez, coragem e valentia, estão
inseridos o nome do Município, a frase “Solo Rico do Vale do Ivaí”, além das
datas de criação, 25-7-1960, e emancipação política de Itambé, 31-11-1961.
Novo Brasão de Armas de Itambé
Fonte: Heráldica e Vexilologia do Município de Itambé
Como a antiga Bandeira de Itambé era
representada em azul com o Brasão ao centro, com a mudança do Brasão, era
inevitável mudar a bandeira. A autoria também é do heraldista e vexilologista
Senhor Reynaldo Valaski. Segundo o autor, a parte azul da Bandeira simboliza as
riquezas, o céu infinito, as propriedades rurais do Município, a serenidade e
calma do povo de Itambé. O Brasão de Armas no centro simboliza o Governo
Municipal e o lugar onde foi posto o Brasão simboliza a Cidade, sede do
Município.
Bandeira do Município de Itambé
Fonte: Heráldica e Vexilologia do Município de Itambé
Bandeira do Município de Itambé
Enviada por Ronaldo Neves Hirata
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