sábado, 11 de fevereiro de 2017

HISTÓRIA DE ITAMBÉ - PARTE 12

MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Cinema


         O primeiro cinema de Itambé foi feito dentro de um armazém com sacaria, na Avenida São João, no local onde hoje há uma padaria. Era o Cine Brasil do Sr. Dalcides Michellato. Havia projetor, telão e cadeiras para o público que lotava as sessões. Os filmes exibidos eram do Mazzaropi, Gordo e Magro, bang-bangs.
              Segundo Eurípedes Mariano, havia uma pequena sala de cinema num terreno da Família Coneglian, que depois virou moradia de uma família de descendentes de japoneses.
        Outro cinema da cidade de Itambé foi do Sr. Gibson Linhares Monteiro. Ele construiu um prédio próprio para cinema, no local onde hoje é a residência da família Bortolasci. Era o Cine Ouro Verde, um grande barracão feito de madeira, com capacidade para mais de 200 pessoas, a energia ainda era a motor. Às vezes, no meio do filme, o motor enguiçava e todos iam embora sem ver o fim da história e voltavam no dia seguinte para continuar a sessão. Outro inconveniente enfrentado pelos frequentadores do cinema era a fumaça de cigarro. Nesta época, fumar em ambiente fechado era habitual. Sábados, domingos e quartas-feiras havia sessões. Famílias inteiras compareciam para se divertirem juntas. Muitos casais de namorados também se encontravam lá. Os filmes eram guardados em grandes latões redondos, trazidos de Maringá por ônibus. Em época de muitas chuvas e estradas enlameadas, não havia filme.

Interior do Cine Itambé em noite de formatura.
Fonte: Eurípedes Mariano da Silva

          O Sr. Alcides Benossi lembra que, por volta de 1961, passaram um filme para adultos; os meninos se dependuraram nas janelas do lado de fora para tentar assisti-lo. A polícia ficou de plantão para impedir que os menores de idade tentassem entrar. A sessão lotou de curiosos que nem tinham ideia do que era um filme para adultos. Alguns já saíram logo no início da exibição. Mesmo quem permaneceu até o final, ficou espantado com o que viu. Foi a única vez que este tipo de película foi exibida pelo cinema.
         O espaço também era usado para shows. Num deles, Sérgio Reis se apresentou no início de sua carreira. O Senhor Jovânio Pereira dos Santos lembra que, por haver poucas pessoas na plateia, o cantor teria se recusado a cantar. Mas diante dos protestos dos presentes, ele mudou de ideia.

Ao fundo Cine Ouro Verde. Fonte: Família Claro

         Depois, Gibson vendeu o cinema e o novo proprietário o nomeou de Cine Itambé. Este cinema inspirou um menino a se tornar ator, produtor e cineasta. Otalício Sirino nasceu em Itambé, a 25 de setembro de 1958. Ainda garoto trabalhou no Cine Itambé, como ele mesmo conta:
  
        “Quando menino eu limpava o Cine Itambé, na cidade onde nasci, a 300 quilômetros de Cascavel. O cinema nem existe mais, virou uma igreja. Mas eu era fascinado, assitia a todos os filmes e sonhava em me tornar um dia um artista de cinema. Então fui me preparando para isso, procurando os caminhos que me aproximavam do meu ideal.”
Site pesquisado em 25/2/2014


Cine Itambé. Fonte: Família Claro

        Ele mudou-se para Cascavel, onde aprendeu artes marciais, estudou História e fez especialização em cinema. Passou a usar o nome artístico de Talício Sirino, criou junto com a esposa, Salete Machado, a Tigre Produções Cinematográficas e desde 1993 tem se dedicado a produzir filmes de ação com artes marciais. Na década de 2000, foi entrevistado por Jô Soares, onde falou sobre a origem do seu sonho em Itambé. Dentre seus filmes estão: Fronteira Sem Destino, Acerto Final, A História do Fogo e do Fogão, A Filha do Chefe, Conexão Brasil, Conexão Japão, Curitiba Zero Grau, Operação Rapina, A Tímida Luz de Vela das Últimas Esperanças, Operação Paraguai e Carreras. Em 2013, recebeu o título de Cidadão Honorário de Cascavel por seu trabalho que ajudou a divulgar a cidade como pólo cinematográfico.

Cartaz do filme Conexão Japão
Site pesquisado em 25/2/2014

           As pessoas que viviam na zona rural contavam ainda com um cinema itinerante. De acordo com José Carlos Nardi, José Luís levava o equipamento de projeção e som numa Kombi até as propriedades rurais onde havia muitas famílias. Lá, ele montava este equipamento em escolas ou barracões, vendia ingressos e exibia filmes, geralmente de Mazzaropi. As sessões ficavam lotadas, José Carlos lembra que, na Gabirobeira, onde morava, cerca de duzentas pessoas compareciam à escola para ver o filme. Assim acontecia em todos os bairros e comunidades rurais aonde o cine itinerante chegava.
           Com o advento da televisão, as sessões foram se esvaziando, até que não compensava mais manter cinemas. Então, praticamente todas as salas de pequenos municípios foram fechadas.

                                                   Televisão

            Os aparelhos de televisão chegaram a Itambé em meados dos anos 60, eles eram bem grandes e só transmitiam a TV Coroados de Londrina e ainda com muito chuvisco. A loja que vendia os aparelhos e eletrodomésticos era a Casa das Novidades, instalada na Avenida São João. Os proprietários, da família Nakamura, colocaram um televisor ligado para chamar a atenção dos consumidores e alavancar as vendas. Mas o valor era alto e poucas pessoas podiam comprá-lo.
            Então, no bar do Pedro Custódio foi instalado um aparelho que, além de permitir o acesso deste meio de comunicação a todos, as vendas  aumentavam. O bar ficava lotado à noite para a exibição da novela Irmãos Coragem. As famílias que contavam com o aparelho também abriam suas casas para a vizinhança. Até que a Prefeitura, na gestão de Gibson Linhares Monteiro, instalou um televisor na Praça Rui Barbosa para a população ter acesso às novelas e aos jogos da Copa do Mundo de 1970. 

Aparelho de TV que foi instalado na praça
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé


                                                 Telefone

            De acordo com o ex-vereador Jovânio Pereira dos Santos, as primeiras linhas telefônicas foram instaladas em Itambé no início dos anos 60, gestão de João Antônio Claro. O Vereador Severino Waller conseguiu a instalação de serviços telefônicos na cidade junto ao Diretor do Sistema Telefônico Paranaense, Sr. Ardinal Ribas. O próprio Vereador promoveu uma campanha para vender 26 linhas, pois era a quantidade mínima exigida pela companhia para instalar o serviço em Itambé. O preço era bem alto, com o mesmo valor daria para comprar um carro usado ou uma moto. O serviço era precário, a ligação dentro do município era direta, mas no caso de interurbanos, era preciso pedir à telefonista em Floresta para fazer as chamadas. Se o pedido fosse feito pela manhã, a ligação só seria completada à tarde. Assim, a pessoa perdia o dia todo na espera. A companhia telefônica era privada, de propriedade do senhor Agnaldo Ribas, de Maringá. Já no fim dos anos 70, foi autorizado o aumento de linhas, em torno de 40, e foi instalado o DDD, Discagem Direta à Distância, por intermédio da Câmara dos Vereadores, facilitando as ligações, não era mais preciso usar o posto de serviço de Floresta. 

                                                    Correio

           A Srª. Ida Besler Mantovani conta que Itambé passou a ter o serviço postal por volta de 1958. Não havia agência de correio, o Sr. Paulo Bogenschneider tinha um bar na cidade, alugou a caixa postal número 36 na agência de Marialva e divulgou o serviço em Itambé. Então, quando os moradores se correspondiam, colocavam como endereço a caixa postal 36. Duas vezes por semana, o ônibus que fazia a linha Itambé-Marialva trazia as cartas e encomendas até o bar do Sr. Paulo. Sua sobrinha, Clara, separava a correspondência em prateleiras em ordem alfabética e as entregava aos destinatários. O serviço era gratuito, as pessoas pagavam apenas quando precisavam enviar cartas, pois havia o custo dos selos.

Bar onde funcionava o posto do correio.
Fonte: Prefeitura M. de Itambé

          Em 1971, o prefeito Misdei Moreschi resolveu destinar uma sala da Prefeitura para instalar o posto de correio. Convidou a Srtª. Ida Besler, que trabalhava na agência de rendas, para assumir o posto, este seria mantido pelo município. Então em novembro de 1971, as correspondências foram retiradas do bar e levadas para a Prefeitura. Mas a caixa postal 36 ainda foi usada por muitos anos. Com o tempo, as cartas e encomendas destinadas à Itambé começaram a vir de Maringá. No posto de Itambé, foram colocadas caixas postais que, inicialmente, não eram pagas. Quem quisesse podia escolher uma e usá-la gratuitamente.

Bar onde funcionava o posto do correio.
Fonte: Prefeitura M. de Itambé

                Em março de 1978, Ida foi nomeada funcionária dos Correios, quando esta empresa instalou-se na cidade. Ela lembra que o volume de correspondência não era tão grande quanto hoje porque não havia envio de propagandas, apenas cartas de parentes e amigos. Também não havia carteiro, então ela mesma saía as terças e quintas-feiras para entregar os pacotes. O ônibus que fazia a linha Itambé-Maringá trazia as cartas, quando chovia muito não era possível transitar pelas estradas de terra e Itambé ficava sem sua correspondência.

Agência dos Correios na Avenida São João, 1978
Fonte: Prefeitura Municipal de Itambé

         Nesta época, a agência dos Correios ganhou sede própria, que ficava no local onde hoje está a agência do Banco do Brasil, depois foi transferida para o prédio da rodoviária, em seguida para o prédio onde hoje está o destacamento policial. Os prédios usados eram públicos e a Prefeitura não cobrava aluguel dos Correios. Isto só mudou na década de 90, quando o município precisou do imóvel e a Empresa se mudou para a Avenida São João e passou a pagar as despesas das instalações.

Rodoviária, local onde funcionou a agência dos Correios. Fonte: Família Claro

         Como gerente dos Correios, Ida recebia cartas de pessoas à procura de familiares desaparecidos. Ela foi responsável pela reunião de muitas famílias, algo que lhe proporcionava muita alegria.


                                                    Rádio
                  Outro meio de comunicação que faz parte da nossa história é o rádio. Segundo o Sr. José Dolce, quase todas as família possuíam um aparelho destes. Pois, os rádios funcionavam a pilha e podiam ser ouvidos em qualquer lugar, tanto no campo quanto na cidade. Um dos meios de vida do Sr. Dolce foi consertar este tipo de aparelho.
          Tanto era o acesso da população às ondas sonoras, que Itambé ganhou uma emissora de Rádio, denominada Porta Voz. Sua sede ficava na Avenida São João, próxima à Rua Luís Lopes. Ela foi montada por dois técnicos em eletrônica, João Barbosa e Pedro Cirilo. O primeiro foi de carona até Brasília para tentar conseguir a concessão da rádio. José Costa também ficou sócio do empreendimento. Os locutores eram o Nho Xadrez, o Nho Braga, Nho Braga, Nascimento, Sebastião de Souza e Gilberto Bonora. Bonora fazia um programa de humor, conhecido hoje com “Stand Up”, e, junto com Sebastião de Souza, apresentava o Programa Os Brotos Comandam. Outro programa de Souza era A Viola e o Violeiro. Havia um pequeno auditório no prédio da rádio onde o público podia assistir aos seus cantores ao vivo, como João Granero e seu filho Serginho, Lúcia Gouveia, a dupla Jovenil e Jovenal, entre outros.
        Além de músicas populares, a rádio também transmitia programação religiosa. Dona Judite Maria Lopes lembra que, na década de 60, as congregações das igrejas evangélicas Missionária, Assembleia de Deus e Avivamento Bíblico se uniam e faziam um culto ao meio dia, todos os domingos, que era transmitido para Itambé e região. O grupo denominava-se Jovens do Arauto. Eles pregavam a Palavra de Deus e cantavam com acompanhamento de violão.
          Aos domingos, a rádio também promovia uma festa com a participação de vários cantores da região e transmitia a programação ao vivo. Um dos cantores era o Senhor José Zamberlan, que formava dupla sertaneja com Durval Negri. Eles até gravaram uma música juntos. José escreveu diversas canções, mas nunca conseguiu recursos para gravar o próprio disco.

José Zamberlan
Fonte: Família Zamberlan

         Outro cantor a se apresentar na Rádio foi José Alves dos Santos, o José Rico, que mudou-se para Itambé em 1966 e formava dupla com um policial. O Sr. Dolce tornou-se amigo de José Rico e conta que, nesta época ele passava por dificuldades financeiras, pois estava no início de sua carreira. Como a música ainda não lhe rendia dinheiro, ele chegou a trabalhar de saqueiro numa cerealista da cidade para sobreviver. Em 1970, José Rico foi embora para São Paulo tentar fazer sucesso como cantor, conheceu Romeu Januário de Matos, com quem formou a dupla: Milionário e José Rico. Até hoje, já gravaram vinte e nove álbuns e venderam cerca de 35 milhões de exemplares. São conhecidos como “As Gargantas de Ouro do Brasil”.

José Rico com seu amigo José Dolce em show após cerimônia
de entrega do título de Cidadão Honorário ao cantor (2007)
Fonte: Hirata Produções

           Em 2007, a Câmara de Vereadores concedeu ao cantor o título de Cidadão Honorário de Itambé, em reconhecimento à sua história. Além da solenidade na Câmara, foi realizado um show na rua.

Vereadores, Prefeito João Cabrera e José Rico em solenidade na Câmara
Fonte: Hirata Produções

          A Rádio Porta Voz funcionou até 1968, quando o Padre Aldo L. Matias comprou os equipamentos de José Barbosa, único dono na época, para usar nas missas. Depois o equipamento foi descartado pelo Padre Pedro Canísio Dapper. 



Um comentário:

O circo no Moreschi

 Bairro Moreschi (Fazenda Anjo da Guarda), local onde, possivelmente, o circo fora montado                                           ...