quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

HISTÓRIA DE ITAMBÉ - PARTE 15


                                  GEADA NEGRA

  O FENÔMENO QUE MUDOU A HISTÓRIA DE ITAMBÉ      


Cafezais queimados pela Geada Negra, 1975
Fonte:http://www.srp.com.br/noticias/?id=5697%7Ca-geada-que-dizimou-os-cafezais-no-parana (Site pesquisado em 23/4/2013)                         
                                           
            O café impulsionou o crescimento populacional e econômico de Itambé até a década de 70. A população da área rural correspondia a mais de 80% dos moradores do Município. Não faltavam emprego e renda para quem aqui vivia, pois a fertilidade da terra vermelha garantia a produtividade da lavoura. Assim acontecia em todo o Norte do Paraná, que era o maior produtor mundial de café. Mas se o solo contribuía, o clima deu um duro golpe em todos os cafeicultores do Estado. Na madrugada de 18 de julho de 1975, uma terrível geada pintou de branco todo o Paraná, chegando a nevar em Curitiba. A beleza da paisagem verde dos cafezais foi destruída pelo fenômeno conhecido como Geada Negra, que dizimou 850 milhões de pés de café. A geada queimou a plantação desde as folhas até a raiz. Naquele ano, a safra paranaense havia correspondido a 48% da produção nacional de café, ou seja, 10,2 milhões de sacas. Na safra posterior à geada, a produção caiu para 3,8 mil sacas, ou 0,1% da produção nacional. O governador do Estado na época, Jaime Canet Junior, sofreu duplamente com esta catástrofe: como produtor de café, perdeu sua lavoura, como governador, teve que administrar o Paraná com 20% a menos de receita.

Jaime Canet Junior diante dos cafezais destruídos
(site pesquisado em 2011)

           Antônia A. Moreschi lembra que a produtividade de café em 1975 era muito grande, trazendo prosperidade a todos, donos de terras e empreiteiros. Porém na noite de 17 de julho, o frio prenunciava o fim de uma era. A manhã do dia 18 revelou os cafezais negros cobertos de gelo. A tristeza tomou conta dos moradores, pois o trabalho de muitos anos estava perdido. Os pés de café foram cortados rente ao tronco e voltaram a brotar. Mas as intempéries fizeram Misdei e Álvaro Moreschi tomarem a decisão de erradicar a lavoura e plantar soja e milho, culturas que poderiam ser mecanizadas e não necessitariam de muita mão-de-obra.
          O Dr. Mauro Nakamura lembra-se que um agricultor frente à tragédia climática lhe disse: “Sr. Mauro, este Itambé é assim mesmo, a gente dorme milionário e acorda pobre.” Esta frase traduz o que aconteceu também a inúmeros produtores de café em todo o Estado do Paraná.

Jornal que noticiou a Geada Negra
Fonte: O Estado do Paraná. (19-07-75)

            Só havia uma certeza naquele momento: desse dia em diante, tudo seria diferente. A vida com que estavam acostumados agricultores e demais cidadãos se abacara. Era preciso encontrar outros caminhos, novas formas de manter o sustento das famílias. Esse foi o fim da era do café no Norte do Paraná.
            A recém-inaugurada Cocari não contava mais com produção para receber já que os cafezais foram dizimados. Mas os agricultores começaram a produzir algodão. Dessa forma, a cooperativa adequou-se aos novos tempos e passou a receber o produto, que era enfardado, armazenado no pátio da empresa e depois transportado para Mandaguari, onde era desencaroçado nas algodoeiras.
            Como o algodão dependia de muita mão de obra para ser produzido, as famílias ainda puderam permanecer no Município sobrevivendo do trabalho na lavoura. Porém as pragas e o baixo preço do produto tiraram o incentivo dos agricultores, que precisaram buscar novas alternativas para permanecerem na terra. 

Plantação de algodão na Fazenda Monte Alto
Fonte: Paulo Tadashi Honda

          A geada negra voltou a atingir o Paraná em julho de 2013. Novamente nevou em Curitiba e as poucas plantações de café do Norte do Paraná foram queimadas. Em Mandaguari, todos os 350 cafeicultores sofreram perdas por causa deste fenômeno. Os cafezais de Itambé também foram atingidos, revelando que a monocultura do café ainda continua inviável para o Município.

                    ADAPTAÇÃO À NOVA REALIDADE

                                                   A soja
          Com o fim dos cafezais, era preciso encontrar outra cultura que se adaptasse às condições climáticas de Itambé. Então, os agricultores se depararam com a soja.
         Segundo publicação intitulada “A Soja, História, Tendências e Virtudes” no site:http://www.insumos.com.br/funcionais_e_nutraceuticos/materias/76.pdf                  ,
(pesquisado em 2011) os primeiros registros sobre a soja são atribuídos ao imperador chinês Shennong ou Shen-nung, que incentivava o consumo de ervas ao invés de carne. De acordo com a mitologia chinesa, este imperador viveu há cerca de 5.000 anos atrás. Seu nome significa Fazendeiro Divino e ele é considerado o pai da agricultura chinesa, também é atribuído a ele a descoberta do trigo, arroz, cevada e milheto. Inicialmente, a soja era uma planta rasteira, mas a partir de cruzamentos de duas plantas, feito por um cientista da antiga China chegou-se à planta cultivada hoje. Com a navegação europeia até a Ásia, a soja foi levada ao Ocidente. Por causa do clima, o seu cultivo cresceu mais na América. O Brasil passou a produzir soja em 1901, na Estação Agropecuária de Campinas. Mas a lavoura foi cultivada com maior intensidade a partir de 1908 devido à imigração japonesa. Em 1914, a soja chegou ao Rio Grande do Sul. O grande avanço aconteceu a partir da década de 1970, com o crescimento da indústria de óleo e o aumento da demanda internacional.
           A soja chegou a Itambé por volta de 1955, por intermédio de uma família de portugueses, cujo chefe era Manuel Ambrunhosa da Carvalho e seus filhos Francisco e Antônio. Eles trouxeram pouca quantidade de sementes que plantaram e usavam a produção para a fabricação de sabão. O processo era simples, colocava-se a soja na água, onde permanecia por três dias, depois ela era esmagada num pilão ou monjolo, por fim era cozida com soda num tacho até dar o ponto.

Primeira grande plantação de soja de Itambé e região, abril de 1975
Fonte: Família Meyer

            A primeira grande plantação de soja de Itambé e região foi cultivada na Fazenda Ouro Verde. Em 1974, houve um vendaval que atingiu as propriedades das margens do Rio Ivaí. A Sr.ª Marilena Meyer lembra que o vento chegou a arrastar casas. Os cafezais, que estavam em época de colheita foram dizimados. Então o Sr. Guilherme Meyer decidiu erradicar o café e mudar de cultura. Em 1975, quando houve a Geada Negra, a Fazenda Ouro Verde estava coberta por plantações de soja. Também foi da família Meyer uma das primeiras colheitadeiras de soja da região. As máquinas eram importadas pelo governo do Estado, sorteadas e vendidas para os produtores rurais.
        
Ao fundo, uma das primeiras colheitadeiras de Itambé e região
Fonte: Família Meyer

              Em estudos de novas culturas como alternativas aos associados para permanecerem na agricultura, a Cocari acreditou na soja. A cooperativa fez diversas reuniões e viagens levando os agricultores a regiões onde a cultura da soja estava estruturada como incentivo para que esta cultura substituísse o café e o algodão. Apesar dos altos investimentos que precisariam ser feitos na terra, como arrancar e queimar todos os troncos dos pés de café, além da comprar máquinas adequadas a esta lavoura, a Cocari conseguiu convencer os seus associados a aderir à soja, pois seria o negócio do futuro. 


Um dos primeiros carregamentos de soja a sair de Itambé
Caminhão da família Possobon
Fonte: Iride Tieppo

             Os primeiros tratores do Município eram importados da Inglaterra, como o de Massakasso Honda, um Valmet 33, que não tinha muita potência. Após este, muitos outros vieram mecanizar as lavouras. Além disso, era possível contar com máquinas de outros municípios e estados para fazer a colheita. Então Itambé passou a produzir muita soja e fez até uma festa para comemorar este êxito, na qual foi escolhido como “Rei da Soja” o Senhor Alberto Schlatter.

Desfile da Festa da Soja
Fonte: Família Moreschi
      
          A soja e o algodão subsistiram por algum tempo, já que nem todos os proprietários de terras dispunham de recursos para a compra ou aluguel de máquinas. Porém, aos poucos, o algodão foi sendo erradicado, o que diminuiu a necessidade de mão-de-obra e gerou o êxodo rural. 


Um comentário:

O circo no Moreschi

 Bairro Moreschi (Fazenda Anjo da Guarda), local onde, possivelmente, o circo fora montado                                           ...