A FAIXA LARANJA
Por recomendação do neurologista, meu filho, Fernando, autista leve,
começou a praticar karatê há três anos, a fim de melhorar sua coordenação
motora e a socialização. No início, o Mestre Wesly e sua filha, Isadora,
tiveram muito trabalho. Pois, Fernando era muito agitado e corria o tempo todo
na hora da aula. Isadora me disse que até pensou em desistir dele. No entanto,
pai e filha se dedicaram e conseguiram controlar bastante os impulsos do
garoto, até que ele conseguiu a faixa amarela.
Porém, algum tempo depois, Fernando se mostrou desleixado com as aulas.
Não levava os exercícios a sério e ficava só brincando. Por isso, o mestre
decidiu que ele não faria o exame para a próxima faixa. Atitude que eu e o Lui,
pai do Fernando, apoiamos imediatamente. Nessa mesma época, o meu sobrinho
também começou a praticar a arte marcial e, por ser mais velho e responsável,
rapidamente chegou à faixa amarela. Quando Fernando percebeu que o primo
passaria à sua frente, ficou desesperado.
Um dia, fomos buscá-lo após a aula de karatê e ele estava irritado e
choroso porque ele ainda estava na faixa amarela. Fomos passear de jipe pela
zona rural e ele choramingando:
_Eu quero ir embora do Itambé!
Não vou mudar de faixa! – e por aí foi...
Então eu disse a ele que nós não podemos fugir dos nossos problemas, mas
sim, encará-los e resolvê-los. E continuamos o passeio. Como o Fernando não
gosta muito de sítio, pediu para ir embora para a cidade. Então eu o pai dele
perguntamos:
_Ué, você não vai embora de Itambé?
Ele pensou um pouco e disse:
_ Tudo bem, vou resolver meus problemas.
Desse dia em diante, sua atitude em relação ao karatê mudou totalmente.
Ele não queria faltar às aulas de forma nenhuma. Fazia todos os exercícios sem
reclamar e falava da faixa laranja o tempo todo. Mas dizia que, depois de pegar
essa faixa, sairia do karatê.
Então chegou o grande dia. No exame, Fernando fez o melhor que pode
dentro de suas possibilidades. O fato de ficar em formação e obedecer aos
comandos é algo inacreditável para quem o conhece desde bebê. No momento em que
foi chamado para pegar a tão sonhada faixa laranja, ele comemorou muito e foi
aplaudido pelo público que assistia ao exame. Foi fantástico. Ele não é bom em
atividades físicas e sabe disso, talvez por esse motivo, tenha comemorado
tanto.
Na manhã seguinte, acordei com ele em pé ao lado da minha cama,
segurando a faixa e o certificado e dizendo que agora queria a faixa verde. Ou
seja, ele não vai parar de praticar karatê.
Apesar das dificuldades do nosso filho, não facilitamos as coisas para
ele. A vida não vai facilitar, por isso, sabemos que é preciso disciplina desde
agora. Ele enfrentará lutas bem mais difíceis na idade adulta e o karatê o está
preparando para isso.