quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

O AMOR É CEGO - peça teatral

                                                        



                                                             
                                                               O AMOR É CEGO

NARRADOR: Lá nos confins do sertão nordestino, vivia um coronel arretado e sua patroa. Eles queriam ter um
                         bacurizinho. Mas o tempo passava e a patroa nada de embuxar. Até que um dia...
                      
PATROA: (chorando escandalosamente) Buá, Buá... eu quero ter um fio, todo mundo tem, só eu que não.Buá.

ERNESTINA: Qual é a zica, Dona Patroa? Por que todo esse auê?

PATROA: Eu quero ter um fio, mas não consigo engravida. Buá, Buá.

ERNESTINA: Num se avexe, não. Conheço uma simpatia infalível pra embuxar. Eu fiz e tenho 10 fio.

PATROA: Credo!!!

ERNESTINA: Qué sabê ou não?

PATROA: Quero, né. Mas só vou fazer uma vez. Não vou encher a casa de remelentos, dá muita briga.

ERNESTINA: Negócio é o seguinte, na noite de lua cheia, a senhora vai na beira da lagoa seca e grita bem alto:
                       Eu quero um fio!

PATROA: E dispois?

ERNESTINA: É só isso, deixa que do resto o tempo se encarrega.

PATROA: Ta bem, vou fazer isso.

NARRADOR: Então na noite de lua cheia, Dona Patroa, toda esperançosa, foi a beira da lagoa.

PATROA: Ai que mico, espero que ninguém me veja berrando na beira da lagoa, vão pensa que to surtano. Mas
                 Vamos à luta. EU QUERO UM FIO!!!!

MENINA: Aqui to eu, mamãe. Seu pedido foi atendido.

PATROA: Mas já.

ERNESTINA: Comigo é assim. A simpatia é instantâna.

PATROA: Mas eu pedi um fio e não uma fia. Além do mais, ela já é grande, eu queria um bebezinho. E essa
                 Menina é bem feinha.

MENINA: Choquei!! Mamãe.

ERNESTINA: Ó, patroa, a senhora num ta na posição de escolhe muito não. É melhor pegá essa memo, antes que o
           O coronel arrume outra mulhé pra dá fio pra ele. E ela ta feia assim por causa de uma catiça que uma dessas
           Muié invejosa jogou na senhora.
           Mas quando essa menina recebê o premero bejo de amor, ela vai ficar linda.

PATROA: Ai, será?

MENINA: É pegá ou largá.

PATROA: Ta bom, eu pego. Seu nome será Clara Bela, minha fia.

MENINA: Que Clara Bela, o quê? Eu já me chamo Eufrazina.

PATROA: Credo!!! Que nome horríve. Mas como é que você já nasceu com nome?

ERNESTINA: Fio de simpatia é assim memo, já nasce até com nome.


PATROA: Tudo bem, eu te aceito assim memo. Mas vou ter que inventá uma história pro coronel acreditá que
                  Essa menina é nossa fia. Ele nunca boto muita fé em simpatia.
                      (todas saem)

NARRADOR: Dona Patroa foi para casa toda feliz com sua fia, para apresentá a menina ao Coronel. Chegando lá..

CORONEL: Onde se enfiou Dona Patroa, justo hoje que eu queria tentar ter um fio. Já estou ficando veio, daqui há  
                    Poço, num dá mais pra ela pegá cria.

PATROA: Oh, meu rei eu tenho uma surpresa pro cê.

CORONEL: Eu adoro surpresa, o que é?

PATROA: Feche o zóio e só abra quando eu manda.

CORONEL: Ta bem, mas me mostre logo, estou ansioso.
           ( Ela traz Eufrazina)

PATROA: Pode abrir o zóio, meu rei.

CORONEL: (assustado) Ai, chuta que é macumba!!!!

EUFRAZINA: Macumba o escambáu, eu sou sua fia.

CORONEL: Eu não fiz isso!!

PATROA: Fez sim.

CORONEL:  Quando?

PATROA: Naquela noite dispois do velório do Coronel Teodoro. Ocê bebeu muito, lembra?

CORONEL: Só se eu bebi gazulina!!

EUFRAZINA: Eu vou ficar traumatizada!

PATROA: Ela é feinha assim por causa de uma catiça lançada em mim quando eu embuxei. Então eu escondi nossa
                  Fia de todo mundo até hoje.
                  Mas ela vai crescer, poderá receber o premeiro beijo de amor e voltar a ser linda.

CORONEL: E quem vai quere encarar esse tramboio?

PATROA: Esquenta não, tem louco pra tudo neste mundo.

NARRADOR: Os anos passou, Eufrazina foi crescendo e ficando cada vez mais feia. Então, preocupados, seus
                       Pais decidiram encontrar um doido, quer dize, um marido para se apaixona por ela e quebrar a
                       Tar da catiça.
ERNESTINA: E aí, Eufrazina, como vai a vida boa?

EUFRAZINA: Oh, mãe, ta supimpa. A senhora me descolou um vidão. Num faço nada o dia inteiro, a não ser
                       Come e dormi.

ERNESTINA: Mas fica esperta, ninguém pode sabe que sou sua mãe, senão a gente ta na roça.

EUFRAZINA: Pode deixar, coroa. Não perco esse vidão por nada.

RAINHA: Eufrazina, cadê você, fiinha?

ERNESTINA: Lá vem a patroa, disfarça.

EUFRAZINA: To aqui, mainha,  que foi?

PATROA: Seu pai decidiu que tá na hora de ocê se casar.

EUFRAZINA: Oba!

PATROA: Então ele distribuiu seu retrato por todas as vilas da redondeza. Assim virão muitos cabra macho vai
                   Vim te pedi em casamento.

ERNESTINA: Né que eu quero falá não, mas se os tar cabra macho vê o retrato dela, num vão vim aqui de jeito                     
                        Manera.

PATROA: O rei pensou nisso, então contratou um pintor porreta e ele caprichou no retrato. Veja como ficou.
                   ( mostra uma foto da Angelina Jolie)

EUFRAZINA: Eu fiquei linda, como rearmente sô, é claro.

PATROA: Então vamos, ocê percisa se arruma pra receberseus pretendentes.

ERNESTINA: (para o público) Então chama a equipe do lata-velha.

EUFRAZINA: Vá indo, mainha, que eu já vou.

PATROA: Ta, mas não demore.
                       (sai)

EUFRAZINA: Eu to lascada!!

ERNESTINA: Pru quê? Num que si casá?

EUFRAZINA: Mãe, a senhora inventa as coisas e dispois esquece.

ERNESTINA: Que foi que eu inventei?

EUFRAZINA: A senhora disse pra rainha que eu era feia por causa de uma catiça, que o premeiro beijo de amor
                       Quebraria o encanto e eu ia fica linda.

ERNESTINA: Misericórdia. É memo.

EUFRAZINA: E agora, o que vou fazer?

ERNESTINA: Né que eu quero fala não, mas quem em sã consciênça vai se apaixonar por você e ainda por cima,
            Quere te beijá?

EUFRAZINA: Vai que aparece um loco?

ERNESTINA: Ce vai faze o seguinte. Diz pra patroa que oce qué conversa cus rapais em particulá. Aí então....
             (as duas cochixam e entra o narrador)


NARRADOR: Com um plano secreto armado, Eufrazina foi se arruma, se é que isso é possível, para recebe seus
                      Pretendentes. Será que ela será desmascarada, veja nos próximos capítulos desta peça emocionante.
                       (entram em cena Eufrazina, o coronel e a patroa.)

CORONEL: Finarmente chego o grande dia, a minha fia vai se recebe o premero beijo de amo e fica linda.

PATROA: Marido, não deixe nossa fia nervosa.

EUFRAZINA: Mainha e painho, eu gostaria de cunversá cos rapais em particula.

CORONEL: (bravo) Pru quê?

EUFRAZINA: É que eu sô tímida e num quero que tudo mundo fique oiando eu cunversá cos moço.

PATROA: É verdade, meu rei, vamo deixa a nossa fia suzinha. Fica lá na salinha de visita e nóis recebe os moço
                  Aqui na varanda.

EUFRAZINA: Brigada, mainha.

JUVENAL: Batarde, coronel. Recebi o retrato de sua fia e vim conhecê aquele poço de furmusura.

CORONEL: Oh, coitado.

PATROA: Disfarça, homi.

CORONEL: Que dize, se achegue, Juvenal. Ela está esperando por ocê la dentro de casa.
                     ( Juvenal entra na casa)

CORONEL: Seja o que Deus quise.

JUVENAL: (gritando) SOCORRO! O boitatá engoliu a fia do ceis.

PATROA: Como ousa chama nossa fia de boitatá. Suma daqui seu fio duma égua.

JUVENAL: Sumo memo, eu é que num quero casá cum aquele tramboio.

CORONEL: O negócio vai sê mais dificir do que eu pensei.

TERÊNCIO: Licença, coronel.

CORONEL: Chega mais, Terêncio. Veio conhecê mia fia.

TERÊNCIO: Vim sim, coronel, já ta na hora de um homi como eu constitui famia e sua fia deve de sê muito linda.

CORONEL: Ela é insuperave. Pode entra que ela ta lhe esperando.
                      ( Terencio entra e o coronel e a patroa tapam os ouvidos. Terencio grita de dentro da casa)

TERÊNCIO: Meu Jesus Cristinho, me sarve. Socorro, larga eu coisa ruim. Socorro.
                     ( sai correndo e nem conversa com o coronel)

PATROA: (chorando) Ai que desgosto, ninguém qué a nossa fia.

CORONEL: Pra ela casá, só um milagre.
                     (Os dois saem abraçados e chorando. Aparecem Eufrazina,vestida horrivelmente, e Ernestina.)

EUFRAZINA: Mãe, seu prano deu certo. É só os rapais me vê que eles sai correndo.

ERNESTINA: Num sô fraca não, mia fia. Ocê já é feia, mas com um toque especiar fico horríver. Assim num há
                        Homi que tenha corage de lhe encará.
                          (as duas saem rindo. Então aparecem dois forasteiros, um malandro e um míope)

LUIZÃO: (falando com sotaque carioca) Podes crê, Creosvaldo, aqui tem uma gata rica querendo se casar. E o seu
                Mano velho vai se dá bem.

CREOSVALDO: Mas o pai dela qué que ela se case cum moço rico e ocê é pobre que nem qui eu.

LUIZÃO: Deixa disso, meu irmão, sô pobre mais tenho cultura. Já morei no Rio de Janeiro, esqueceu?

CREOSVALDO: Mas do Rio, ocê só conhece a favela.

LUIZÃO: E favela também é cultura. Eu vô jogá um migué na cabeça do coronel. Vem, vamo chegá na casa dos             
                 Magnata.
                 ( Creosvaldo tropeça e cai)

CREOSVALDO: Ai!!

LUIZÃO: Cuidado, Creosvaldo, esqueceu que você não enxerga bem.
                  (aparece o coronel e a patroa)

LUIZÃO: Boas tardes, senhor coronel e dona patroa.

O CASAL: Batarde, moço.

CORONEL: Quem é o sinhô e seu amigo?

LUIZÃO: Eu sou Luiz Bragança e Silva e esse aqui é meu criado Creosvaldo.

CREOSVALDO: O que?

LUIZÃO: (cochixando para Creosvaldo) Cala a boca que a gente vai se dá bem.

LUIZÃO: Como eu dizia, eu sou um rico fazendeiro lá do sul do país. Vim aqui à passeio e ouvi falar da formosura
                De sua filha. Então decidi conhecê-la.

PATROA: Nem tudo ta perdido.

CORONEL: Eu faço muito gosto que ocês se conheça. Vai lá chama ela Dona Patroa. Enquanto isso, eu vô leva o
                  Creosvaldo pra tomá água de poço.
                   ( sai a patroa, o coronel e creosvaldo. Entra Eufrazina)

EUFRAZINA: Que é que ocê qué, seu porquera?

LUIZÃO: (fingindo) Que flor de formosura, que delicadeza de donzela.

EUFRAZINA: Tu ta ficando loco?

LUIZÃO: Assim que te vi, meu coração disparou num ápice de amor.

EUFRAZINA: Ocê bebeu querosene?

LUIZÃO: Eu quero me casar com você, meu amor!
                 (ele tenta abraçá-la, mas ela corre)

EUFRAZINA:  To fora!!

LUIZÃO: Isso, me despreza que eu gamo.

EUFRAZINA: Eu não vou me casar com ocê de jeito manera.

LUIZÃO: (num tom ameaçador) Ah, vai sim. Eu sei que seus pais querem que você case de todo jeito e que não
                Há mais nenhum pretendente disposto a te encarar. Então eu serei seu esposo e herdeiro da fortuna do
                Coronel.

EUFRAZINA: Seu porco, fio de uma jumenta, eu vou te...

LUIZÃO: Calma, meu amor, seus pais vem vindo.
                  (entra a patroa, o coronel e creosvaldo)

LUIZÃO: Coronel, eu quero pedir a mão de sua filha em casamento.

CORONEL: Num leva só a mão não, leva tudo de uma vez.

PATROA: (emocionada) Coronel, nossa fia finarmente encontro o amor de sua vida.

EUFRAZINA: To ralada.

CORONEL: Então eu vo aprepará o casório antes que o noivo desista. Vem comigo Doto Luiz.
                     (sai a patroa, luizão e o coronel)

EUFRAZINA: Buá, buá, eu num quero casá cum esse safado.

CREOSVALDO: Carma, moça, o que qui foi?

EUFRAZINA: Esse safado do seu patrão que dá o gorpe do baú ni mim. Eu sô tão feia, mas ele qué casa pra botá
                       As pata no dinheiro do meu painho.

CREOSVALDO: Eu num acho ocê feia.

EUFRAZINA: Qué me dá o gorpe tamém.

CREOSVALDO: Não, eu nasci pobre e hei de morre assim. Essa é a sina da minha famia. Eu num enxergo direito
                          E só vejo a beleza de uma pessoa pela personalidade e não pela sua cara.

EUFRAZINA: E daí?

CREOSVALDO: Ocê é dispachada e eu gosto de muié assim.

EUFRAZINA: (apaixonada) como é seu nome?

CREOSVALDO: Creosvaldo, as suas orde.
 
EUFRAZINA: Ocê se casaria cum eu?

CREOSVALDO: Eu... eu...
                            ( voltam o coronel, a patroa, luizão e ernestina e interrompem a conversa)

CORONEL: Minha fia, ta tudo pronto pro casório, amanhã cedo ocê desencaia e recebe o premero beijo de amo.

PATROA: Aí, adeus catiça.

EUFRAZINA: Mainha e painho, eu me apaixonei por outro homi, num quero me casá cum esse Doto ai não.

LUIZÃO: (dando uma de macho) Eu mato o infeliz!

ERNESTINA: (fala só para eufrazina) Ocê ta doida, vai arruma mais cunfusão ainda pra tua cabeça?

EUFRAZINA: Eu to apaixonada pelo Creosvaldo e vou me casá cum ele.

ERNESTINA: Fia, mais se ocê beijá ele, ocê vai continuá feia e vão discubri que esse negócio de catiça é mentira.
                        Ocê vai vortá a ser pobre.

EUFRAZINA: Vale a pena ser pobre se é pra ser amada.

LUIZÃO: Então, quem é o suíno que se atreveu a buli na minha amada.

CREOSVALDO: (todo tímido) Fui eu primo.

TODOS: OH!

CREOSVALDO: Eu me apaixonei por Eufrazina assim que ouvi a voz dela.

CORONEL: Ninguém queria a feiosa, agora tem dois quereno.

ERNESTINA: Eu tenho uma solução pra acaba com a pendenga.

TODOS: Qual?

ERNESTINA: Aquele que beijá a moça e quebra a catiça gosta dela de verdade e será seu esposo.

CORONEL: Feito! Quem vai se a primera vítima?

LUIZÃO: Eu! Não deixarei outro homem beijar a minha amada. Não há catiça que resista ao meu beijo.
               ( Luizão se aproxima de Eufrazina, ela faz um bico bem feio e ele faz cara de nojo, quando ele está a
                Ponto de beijá-la começa a chorar e dizJ

LUIZÃO: Eu não consigo. Ela é muito feia, eu desisto. Pode fazer bom proveito, Creosvaldo.
                   (luizão sai)
CORONEL: Sua veis, Creosvaldo.

CREOSVALDO: Chega mais, minha potranca.
                          (Ele abraça Eufrazina, a deita pra trás e dá um grande beijo nela).

TODOS: OH! Credo!

EUFRAZINA: Meu amor.

PATROA: Mas a catiça não se desfez. Ela ainda é horrorosa.

CREOSVALDO: Pois pra mim, ela é a mais linda das muié.

ERNESTINA: Eu não disse que a catiça ia se quebra com o premero beijo de amo?

CORONEL: Mas ela ainda é feia.
ERNESTINA: Feia pro senho. Mas pro futuro marido dela, ela é linda e é isso que interessa.

CORONEL: Ta bom. Quem vai te que encará o trubufú todo dia é ele mesmo.

PATROA: Sorte que ele enxerga mal.

ERNESTINA: Que que ocês tão esperando. Vai logo chamá o juiz pra faze o casório.

PATROA: Vamo logo, Coronel. Vamo Creosvaldo.
                  ( os três saem)

EUFRAZINA: Mainha, a senhora sarvo minha pele. Como sabia que o Creosvaldo ia me acha bonita.

ERNESTINA: Fia, dizem quando a gente ama fica cego. Imagina um homi que já é meio cego quando fica
                        Apaxonado. Ele encara quarque parada.

EUFRAZINA: Choquei, mainha!

                                                                O AMOR É CEGO

NARRADOR: Lá nos confins do sertão nordestino, vivia um coronel arretado e sua patroa. Eles queriam ter um
                         bacurizinho. Mas o tempo passava e a patroa nada de embuxar. Até que um dia...
                      
PATROA: (chorando escandalosamente) Buá, Buá... eu quero ter um fio, todo mundo tem, só eu que não.Buá.

ERNESTINA: Qual é a zica, Dona Patroa? Por que todo esse auê?

PATROA: Eu quero ter um fio, mas não consigo engravida. Buá, Buá.

ERNESTINA: Num se avexe, não. Conheço uma simpatia infalível pra embuxar. Eu fiz e tenho 10 fio.

PATROA: Credo!!!

ERNESTINA: Qué sabê ou não?

PATROA: Quero, né. Mas só vou fazer uma vez. Não vou encher a casa de remelentos, dá muita briga.

ERNESTINA: Negócio é o seguinte, na noite de lua cheia, a senhora vai na beira da lagoa seca e grita bem alto:
                       Eu quero um fio!

PATROA: E dispois?

ERNESTINA: É só isso, deixa que do resto o tempo se encarrega.

PATROA: Ta bem, vou fazer isso.

NARRADOR: Então na noite de lua cheia, Dona Patroa, toda esperançosa, foi a beira da lagoa.

PATROA: Ai que mico, espero que ninguém me veja berrando na beira da lagoa, vão pensa que to surtano. Mas
                 Vamos à luta. EU QUERO UM FIO!!!!

MENINA: Aqui to eu, mamãe. Seu pedido foi atendido.

PATROA: Mas já.

ERNESTINA: Comigo é assim. A simpatia é instantâna.

PATROA: Mas eu pedi um fio e não uma fia. Além do mais, ela já é grande, eu queria um bebezinho. E essa
                 Menina é bem feinha.

MENINA: Choquei!! Mamãe.

ERNESTINA: Ó, patroa, a senhora num ta na posição de escolhe muito não. É melhor pegá essa memo, antes que o
           O coronel arrume outra mulhé pra dá fio pra ele. E ela ta feia assim por causa de uma catiça que uma dessas
           Muié invejosa jogou na senhora.
           Mas quando essa menina recebê o premero bejo de amor, ela vai ficar linda.

PATROA: Ai, será?

MENINA: É pegá ou largá.

PATROA: Ta bom, eu pego. Seu nome será Clara Bela, minha fia.

MENINA: Que Clara Bela, o quê? Eu já me chamo Eufrazina.

PATROA: Credo!!! Que nome horríve. Mas como é que você já nasceu com nome?

ERNESTINA: Fio de simpatia é assim memo, já nasce até com nome.


PATROA: Tudo bem, eu te aceito assim memo. Mas vou ter que inventá uma história pro coronel acreditá que
                  Essa menina é nossa fia. Ele nunca boto muita fé em simpatia.
                      (todas saem)

NARRADOR: Dona Patroa foi para casa toda feliz com sua fia, para apresentá a menina ao Coronel. Chegando lá..

CORONEL: Onde se enfiou Dona Patroa, justo hoje que eu queria tentar ter um fio. Já estou ficando veio, daqui há  
                    Poço, num dá mais pra ela pegá cria.

PATROA: Oh, meu rei eu tenho uma surpresa pro cê.

CORONEL: Eu adoro surpresa, o que é?

PATROA: Feche o zóio e só abra quando eu manda.

CORONEL: Ta bem, mas me mostre logo, estou ansioso.
           ( Ela traz Eufrazina)

PATROA: Pode abrir o zóio, meu rei.

CORONEL: (assustado) Ai, chuta que é macumba!!!!

EUFRAZINA: Macumba o escambáu, eu sou sua fia.

CORONEL: Eu não fiz isso!!

PATROA: Fez sim.

CORONEL:  Quando?

PATROA: Naquela noite dispois do velório do Coronel Teodoro. Ocê bebeu muito, lembra?

CORONEL: Só se eu bebi gazulina!!

EUFRAZINA: Eu vou ficar traumatizada!

PATROA: Ela é feinha assim por causa de uma catiça lançada em mim quando eu embuxei. Então eu escondi nossa
                  Fia de todo mundo até hoje.
                  Mas ela vai crescer, poderá receber o premeiro beijo de amor e voltar a ser linda.

CORONEL: E quem vai quere encarar esse tramboio?

PATROA: Esquenta não, tem louco pra tudo neste mundo.

NARRADOR: Os anos passou, Eufrazina foi crescendo e ficando cada vez mais feia. Então, preocupados, seus
                       Pais decidiram encontrar um doido, quer dize, um marido para se apaixona por ela e quebrar a
                       Tar da catiça.
ERNESTINA: E aí, Eufrazina, como vai a vida boa?

EUFRAZINA: Oh, mãe, ta supimpa. A senhora me descolou um vidão. Num faço nada o dia inteiro, a não ser
                       Come e dormi.

ERNESTINA: Mas fica esperta, ninguém pode sabe que sou sua mãe, senão a gente ta na roça.

EUFRAZINA: Pode deixar, coroa. Não perco esse vidão por nada.

RAINHA: Eufrazina, cadê você, fiinha?

ERNESTINA: Lá vem a patroa, disfarça.

EUFRAZINA: To aqui, mainha,  que foi?

PATROA: Seu pai decidiu que tá na hora de ocê se casar.

EUFRAZINA: Oba!

PATROA: Então ele distribuiu seu retrato por todas as vilas da redondeza. Assim virão muitos cabra macho vai
                   Vim te pedi em casamento.

ERNESTINA: Né que eu quero falá não, mas se os tar cabra macho vê o retrato dela, num vão vim aqui de jeito                     
                        Manera.

PATROA: O rei pensou nisso, então contratou um pintor porreta e ele caprichou no retrato. Veja como ficou.
                   ( mostra uma foto da Angelina Jolie)

EUFRAZINA: Eu fiquei linda, como rearmente sô, é claro.

PATROA: Então vamos, ocê percisa se arruma pra receberseus pretendentes.

ERNESTINA: (para o público) Então chama a equipe do lata-velha.

EUFRAZINA: Vá indo, mainha, que eu já vou.

PATROA: Ta, mas não demore.
                       (sai)

EUFRAZINA: Eu to lascada!!

ERNESTINA: Pru quê? Num que si casá?

EUFRAZINA: Mãe, a senhora inventa as coisas e dispois esquece.

ERNESTINA: Que foi que eu inventei?

EUFRAZINA: A senhora disse pra rainha que eu era feia por causa de uma catiça, que o premeiro beijo de amor
                       Quebraria o encanto e eu ia fica linda.

ERNESTINA: Misericórdia. É memo.

EUFRAZINA: E agora, o que vou fazer?

ERNESTINA: Né que eu quero fala não, mas quem em sã consciênça vai se apaixonar por você e ainda por cima,
            Quere te beijá?

EUFRAZINA: Vai que aparece um loco?

ERNESTINA: Ce vai faze o seguinte. Diz pra patroa que oce qué conversa cus rapais em particulá. Aí então....
             (as duas cochixam e entra o narrador)


NARRADOR: Com um plano secreto armado, Eufrazina foi se arruma, se é que isso é possível, para recebe seus
                      Pretendentes. Será que ela será desmascarada, veja nos próximos capítulos desta peça emocionante.
                       (entram em cena Eufrazina, o coronel e a patroa.)

CORONEL: Finarmente chego o grande dia, a minha fia vai se recebe o premero beijo de amo e fica linda.

PATROA: Marido, não deixe nossa fia nervosa.

EUFRAZINA: Mainha e painho, eu gostaria de cunversá cos rapais em particula.

CORONEL: (bravo) Pru quê?

EUFRAZINA: É que eu sô tímida e num quero que tudo mundo fique oiando eu cunversá cos moço.

PATROA: É verdade, meu rei, vamo deixa a nossa fia suzinha. Fica lá na salinha de visita e nóis recebe os moço
                  Aqui na varanda.

EUFRAZINA: Brigada, mainha.

JUVENAL: Batarde, coronel. Recebi o retrato de sua fia e vim conhecê aquele poço de furmusura.

CORONEL: Oh, coitado.

PATROA: Disfarça, homi.

CORONEL: Que dize, se achegue, Juvenal. Ela está esperando por ocê la dentro de casa.
                     ( Juvenal entra na casa)

CORONEL: Seja o que Deus quise.

JUVENAL: (gritando) SOCORRO! O boitatá engoliu a fia do ceis.

PATROA: Como ousa chama nossa fia de boitatá. Suma daqui seu fio duma égua.

JUVENAL: Sumo memo, eu é que num quero casá cum aquele tramboio.

CORONEL: O negócio vai sê mais dificir do que eu pensei.

TERÊNCIO: Licença, coronel.

CORONEL: Chega mais, Terêncio. Veio conhecê mia fia.

TERÊNCIO: Vim sim, coronel, já ta na hora de um homi como eu constitui famia e sua fia deve de sê muito linda.

CORONEL: Ela é insuperave. Pode entra que ela ta lhe esperando.
                      ( Terencio entra e o coronel e a patroa tapam os ouvidos. Terencio grita de dentro da casa)

TERÊNCIO: Meu Jesus Cristinho, me sarve. Socorro, larga eu coisa ruim. Socorro.
                     ( sai correndo e nem conversa com o coronel)

PATROA: (chorando) Ai que desgosto, ninguém qué a nossa fia.

CORONEL: Pra ela casá, só um milagre.
                     (Os dois saem abraçados e chorando. Aparecem Eufrazina,vestida horrivelmente, e Ernestina.)

EUFRAZINA: Mãe, seu prano deu certo. É só os rapais me vê que eles sai correndo.

ERNESTINA: Num sô fraca não, mia fia. Ocê já é feia, mas com um toque especiar fico horríver. Assim num há
                        Homi que tenha corage de lhe encará.
                          (as duas saem rindo. Então aparecem dois forasteiros, um malandro e um míope)

LUIZÃO: (falando com sotaque carioca) Podes crê, Creosvaldo, aqui tem uma gata rica querendo se casar. E o seu
                Mano velho vai se dá bem.

CREOSVALDO: Mas o pai dela qué que ela se case cum moço rico e ocê é pobre que nem qui eu.

LUIZÃO: Deixa disso, meu irmão, sô pobre mais tenho cultura. Já morei no Rio de Janeiro, esqueceu?

CREOSVALDO: Mas do Rio, ocê só conhece a favela.

LUIZÃO: E favela também é cultura. Eu vô jogá um migué na cabeça do coronel. Vem, vamo chegá na casa dos             
                 Magnata.
                 ( Creosvaldo tropeça e cai)

CREOSVALDO: Ai!!

LUIZÃO: Cuidado, Creosvaldo, esqueceu que você não enxerga bem.
                  (aparece o coronel e a patroa)

LUIZÃO: Boas tardes, senhor coronel e dona patroa.

O CASAL: Batarde, moço.

CORONEL: Quem é o sinhô e seu amigo?

LUIZÃO: Eu sou Luiz Bragança e Silva e esse aqui é meu criado Creosvaldo.

CREOSVALDO: O que?

LUIZÃO: (cochixando para Creosvaldo) Cala a boca que a gente vai se dá bem.

LUIZÃO: Como eu dizia, eu sou um rico fazendeiro lá do sul do país. Vim aqui à passeio e ouvi falar da formosura
                De sua filha. Então decidi conhecê-la.

PATROA: Nem tudo ta perdido.

CORONEL: Eu faço muito gosto que ocês se conheça. Vai lá chama ela Dona Patroa. Enquanto isso, eu vô leva o
                  Creosvaldo pra tomá água de poço.
                   ( sai a patroa, o coronel e creosvaldo. Entra Eufrazina)

EUFRAZINA: Que é que ocê qué, seu porquera?

LUIZÃO: (fingindo) Que flor de formosura, que delicadeza de donzela.

EUFRAZINA: Tu ta ficando loco?

LUIZÃO: Assim que te vi, meu coração disparou num ápice de amor.

EUFRAZINA: Ocê bebeu querosene?

LUIZÃO: Eu quero me casar com você, meu amor!
                 (ele tenta abraçá-la, mas ela corre)

EUFRAZINA:  To fora!!

LUIZÃO: Isso, me despreza que eu gamo.

EUFRAZINA: Eu não vou me casar com ocê de jeito manera.

LUIZÃO: (num tom ameaçador) Ah, vai sim. Eu sei que seus pais querem que você case de todo jeito e que não
                Há mais nenhum pretendente disposto a te encarar. Então eu serei seu esposo e herdeiro da fortuna do
                Coronel.

EUFRAZINA: Seu porco, fio de uma jumenta, eu vou te...

LUIZÃO: Calma, meu amor, seus pais vem vindo.
                  (entra a patroa, o coronel e creosvaldo)

LUIZÃO: Coronel, eu quero pedir a mão de sua filha em casamento.

CORONEL: Num leva só a mão não, leva tudo de uma vez.

PATROA: (emocionada) Coronel, nossa fia finarmente encontro o amor de sua vida.

EUFRAZINA: To ralada.

CORONEL: Então eu vo aprepará o casório antes que o noivo desista. Vem comigo Doto Luiz.
                     (sai a patroa, luizão e o coronel)

EUFRAZINA: Buá, buá, eu num quero casá cum esse safado.

CREOSVALDO: Carma, moça, o que qui foi?

EUFRAZINA: Esse safado do seu patrão que dá o gorpe do baú ni mim. Eu sô tão feia, mas ele qué casa pra botá
                       As pata no dinheiro do meu painho.

CREOSVALDO: Eu num acho ocê feia.

EUFRAZINA: Qué me dá o gorpe tamém.

CREOSVALDO: Não, eu nasci pobre e hei de morre assim. Essa é a sina da minha famia. Eu num enxergo direito
                          E só vejo a beleza de uma pessoa pela personalidade e não pela sua cara.

EUFRAZINA: E daí?

CREOSVALDO: Ocê é dispachada e eu gosto de muié assim.

EUFRAZINA: (apaixonada) como é seu nome?

CREOSVALDO: Creosvaldo, as suas orde.
 
EUFRAZINA: Ocê se casaria cum eu?

CREOSVALDO: Eu... eu...
                            ( voltam o coronel, a patroa, luizão e ernestina e interrompem a conversa)

CORONEL: Minha fia, ta tudo pronto pro casório, amanhã cedo ocê desencaia e recebe o premero beijo de amo.

PATROA: Aí, adeus catiça.

EUFRAZINA: Mainha e painho, eu me apaixonei por outro homi, num quero me casá cum esse Doto ai não.

LUIZÃO: (dando uma de macho) Eu mato o infeliz!

ERNESTINA: (fala só para eufrazina) Ocê ta doida, vai arruma mais cunfusão ainda pra tua cabeça?

EUFRAZINA: Eu to apaixonada pelo Creosvaldo e vou me casá cum ele.

ERNESTINA: Fia, mais se ocê beijá ele, ocê vai continuá feia e vão discubri que esse negócio de catiça é mentira.
                        Ocê vai vortá a ser pobre.

EUFRAZINA: Vale a pena ser pobre se é pra ser amada.

LUIZÃO: Então, quem é o suíno que se atreveu a buli na minha amada.

CREOSVALDO: (todo tímido) Fui eu primo.

TODOS: OH!

CREOSVALDO: Eu me apaixonei por Eufrazina assim que ouvi a voz dela.

CORONEL: Ninguém queria a feiosa, agora tem dois quereno.

ERNESTINA: Eu tenho uma solução pra acaba com a pendenga.

TODOS: Qual?

ERNESTINA: Aquele que beijá a moça e quebra a catiça gosta dela de verdade e será seu esposo.

CORONEL: Feito! Quem vai se a primera vítima?

LUIZÃO: Eu! Não deixarei outro homem beijar a minha amada. Não há catiça que resista ao meu beijo.
               ( Luizão se aproxima de Eufrazina, ela faz um bico bem feio e ele faz cara de nojo, quando ele está a
                Ponto de beijá-la começa a chorar e dizJ

LUIZÃO: Eu não consigo. Ela é muito feia, eu desisto. Pode fazer bom proveito, Creosvaldo.
                   (luizão sai)
CORONEL: Sua veis, Creosvaldo.

CREOSVALDO: Chega mais, minha potranca.
                          (Ele abraça Eufrazina, a deita pra trás e dá um grande beijo nela).

TODOS: OH! Credo!

EUFRAZINA: Meu amor.

PATROA: Mas a catiça não se desfez. Ela ainda é horrorosa.

CREOSVALDO: Pois pra mim, ela é a mais linda das muié.

ERNESTINA: Eu não disse que a catiça ia se quebra com o premero beijo de amo?

CORONEL: Mas ela ainda é feia.
ERNESTINA: Feia pro senho. Mas pro futuro marido dela, ela é linda e é isso que interessa.

CORONEL: Ta bom. Quem vai te que encará o trubufú todo dia é ele mesmo.

PATROA: Sorte que ele enxerga mal.

ERNESTINA: Que que ocês tão esperando. Vai logo chamá o juiz pra faze o casório.

PATROA: Vamo logo, Coronel. Vamo Creosvaldo.
                  ( os três saem)

EUFRAZINA: Mainha, a senhora sarvo minha pele. Como sabia que o Creosvaldo ia me acha bonita.

ERNESTINA: Fia, dizem quando a gente ama fica cego. Imagina um homi que já é meio cego quando fica
                        Apaxonado. Ele encara quarque parada.

EUFRAZINA: Choquei, mainha!



                                                                        FIM





                                                                                                           Denizia Moresqui

















                                                                        FIM





                                                                                                           Denizia Moresqui

















O circo no Moreschi

 Bairro Moreschi (Fazenda Anjo da Guarda), local onde, possivelmente, o circo fora montado                                           ...