NARRADOR: Lá nos confins do
sertão nordestino, vivia um coronel arretado e sua patroa. Eles queriam ter um
bacurizinho. Mas o
tempo passava e a patroa nada de embuxar. Até que um dia...
PATROA: (chorando
escandalosamente) Buá, Buá... eu quero ter um fio, todo mundo tem, só eu que
não.Buá.
ERNESTINA: Qual é a zica, Dona
Patroa? Por que todo esse auê?
PATROA: Eu quero ter um fio,
mas não consigo engravida. Buá, Buá.
ERNESTINA: Num se avexe, não.
Conheço uma simpatia infalível pra embuxar. Eu fiz e tenho 10 fio.
PATROA: Credo!!!
ERNESTINA: Qué sabê ou não?
PATROA: Quero, né. Mas só vou
fazer uma vez. Não vou encher a casa de remelentos, dá muita briga.
ERNESTINA: Negócio é o
seguinte, na noite de lua cheia, a senhora vai na beira da lagoa seca e grita
bem alto:
Eu quero um fio!
PATROA: E dispois?
ERNESTINA: É só isso, deixa
que do resto o tempo se encarrega.
PATROA: Ta bem, vou fazer
isso.
NARRADOR: Então na noite de
lua cheia, Dona Patroa, toda esperançosa, foi a beira da lagoa.
PATROA: Ai que mico, espero
que ninguém me veja berrando na beira da lagoa, vão pensa que to surtano. Mas
Vamos à luta. EU QUERO UM FIO!!!!
MENINA: Aqui to eu, mamãe. Seu
pedido foi atendido.
PATROA: Mas já.
ERNESTINA: Comigo é assim. A
simpatia é instantâna.
PATROA: Mas eu pedi um fio e
não uma fia. Além do mais, ela já é grande, eu queria um bebezinho. E essa
Menina é bem feinha.
MENINA: Choquei!! Mamãe.
ERNESTINA: Ó, patroa, a
senhora num ta na posição de escolhe muito não. É melhor pegá essa memo, antes
que o
O coronel arrume outra mulhé pra dá
fio pra ele. E ela ta feia assim por causa de uma catiça que uma dessas
Muié invejosa jogou na senhora.
Mas quando essa menina recebê o
premero bejo de amor, ela vai ficar linda.
PATROA: Ai, será?
MENINA: É pegá ou largá.
PATROA: Ta bom, eu pego. Seu nome
será Clara Bela, minha fia.
MENINA: Que Clara Bela, o quê?
Eu já me chamo Eufrazina.
PATROA: Credo!!! Que nome
horríve. Mas como é que você já nasceu com nome?
ERNESTINA: Fio de simpatia é
assim memo, já nasce até com nome.
PATROA: Tudo bem, eu te aceito
assim memo. Mas vou ter que inventá uma história pro coronel acreditá que
Essa menina é nossa fia. Ele
nunca boto muita fé em simpatia.
(todas saem)
NARRADOR: Dona Patroa foi para
casa toda feliz com sua fia, para apresentá a menina ao Coronel. Chegando lá..
CORONEL: Onde se enfiou Dona
Patroa, justo hoje que eu queria tentar ter um fio. Já estou ficando veio,
daqui há
Poço, num dá mais pra ela
pegá cria.
PATROA: Oh, meu rei eu tenho
uma surpresa pro cê.
CORONEL: Eu adoro surpresa, o
que é?
PATROA: Feche o zóio e só abra
quando eu manda.
CORONEL: Ta bem, mas me mostre
logo, estou ansioso.
( Ela traz Eufrazina)
PATROA: Pode abrir o zóio, meu
rei.
CORONEL: (assustado) Ai, chuta
que é macumba!!!!
EUFRAZINA: Macumba o escambáu,
eu sou sua fia.
CORONEL: Eu não fiz isso!!
PATROA: Fez sim.
CORONEL: Quando?
PATROA: Naquela noite dispois
do velório do Coronel Teodoro. Ocê bebeu muito, lembra?
CORONEL: Só se eu bebi
gazulina!!
EUFRAZINA: Eu vou ficar
traumatizada!
PATROA: Ela é feinha assim por
causa de uma catiça lançada em mim quando eu embuxei. Então eu escondi nossa
Fia de todo mundo até hoje.
Mas ela vai crescer, poderá
receber o premeiro beijo de amor e voltar a ser linda.
CORONEL: E quem vai quere
encarar esse tramboio?
PATROA: Esquenta não, tem
louco pra tudo neste mundo.
NARRADOR: Os anos passou,
Eufrazina foi crescendo e ficando cada vez mais feia. Então, preocupados, seus
Pais decidiram encontrar um doido,
quer dize, um marido para se apaixona por ela e quebrar a
Tar da catiça.
ERNESTINA: E aí, Eufrazina,
como vai a vida boa?
EUFRAZINA: Oh, mãe, ta
supimpa. A senhora me descolou um vidão. Num faço nada o dia inteiro, a não ser
Come e dormi.
ERNESTINA: Mas fica esperta,
ninguém pode sabe que sou sua mãe, senão a gente ta na roça.
EUFRAZINA: Pode deixar, coroa.
Não perco esse vidão por nada.
RAINHA: Eufrazina, cadê você,
fiinha?
ERNESTINA: Lá vem a patroa,
disfarça.
EUFRAZINA: To aqui, mainha, que foi?
PATROA: Seu pai decidiu que tá
na hora de ocê se casar.
EUFRAZINA: Oba!
PATROA: Então ele distribuiu seu
retrato por todas as vilas da redondeza. Assim virão muitos cabra macho vai
Vim te pedi em casamento.
ERNESTINA: Né que eu quero falá
não, mas se os tar cabra macho vê o retrato dela, num vão vim aqui de jeito
Manera.
PATROA: O rei pensou nisso,
então contratou um pintor porreta e ele caprichou no retrato. Veja como ficou.
( mostra uma foto da
Angelina Jolie)
EUFRAZINA: Eu fiquei linda,
como rearmente sô, é claro.
PATROA: Então vamos, ocê
percisa se arruma pra receberseus pretendentes.
ERNESTINA: (para o público)
Então chama a equipe do lata-velha.
EUFRAZINA: Vá indo, mainha,
que eu já vou.
PATROA: Ta, mas não demore.
(sai)
EUFRAZINA: Eu to lascada!!
ERNESTINA: Pru quê? Num que si
casá?
EUFRAZINA: Mãe, a senhora
inventa as coisas e dispois esquece.
ERNESTINA: Que foi que eu
inventei?
EUFRAZINA: A senhora disse pra
rainha que eu era feia por causa de uma catiça, que o premeiro beijo de amor
Quebraria o encanto e eu
ia fica linda.
ERNESTINA: Misericórdia. É
memo.
EUFRAZINA: E agora, o que vou
fazer?
ERNESTINA: Né que eu quero fala
não, mas quem em sã consciênça vai se apaixonar por você e ainda por cima,
Quere te beijá?
EUFRAZINA: Vai que aparece um
loco?
ERNESTINA: Ce vai faze o
seguinte. Diz pra patroa que oce qué conversa cus rapais em particulá. Aí
então....
(as duas cochixam e entra o
narrador)
NARRADOR: Com um plano secreto
armado, Eufrazina foi se arruma, se é que isso é possível, para recebe seus
Pretendentes. Será que
ela será desmascarada, veja nos próximos capítulos desta peça emocionante.
(entram em cena
Eufrazina, o coronel e a patroa.)
CORONEL: Finarmente chego o
grande dia, a minha fia vai se recebe o premero beijo de amo e fica linda.
PATROA: Marido, não deixe
nossa fia nervosa.
EUFRAZINA: Mainha e painho, eu
gostaria de cunversá cos rapais em particula.
CORONEL: (bravo) Pru quê?
EUFRAZINA: É que eu sô tímida
e num quero que tudo mundo fique oiando eu cunversá cos moço.
PATROA: É verdade, meu rei,
vamo deixa a nossa fia suzinha. Fica lá na salinha de visita e nóis recebe os
moço
Aqui na varanda.
EUFRAZINA: Brigada, mainha.
JUVENAL: Batarde, coronel.
Recebi o retrato de sua fia e vim conhecê aquele poço de furmusura.
CORONEL: Oh, coitado.
PATROA: Disfarça, homi.
CORONEL: Que dize, se achegue,
Juvenal. Ela está esperando por ocê la dentro de casa.
( Juvenal entra na casa)
CORONEL: Seja o que Deus
quise.
JUVENAL: (gritando) SOCORRO! O
boitatá engoliu a fia do ceis.
PATROA: Como ousa chama nossa
fia de boitatá. Suma daqui seu fio duma égua.
JUVENAL: Sumo memo, eu é que
num quero casá cum aquele tramboio.
CORONEL: O negócio vai sê mais
dificir do que eu pensei.
TERÊNCIO: Licença, coronel.
CORONEL: Chega mais, Terêncio.
Veio conhecê mia fia.
TERÊNCIO: Vim sim, coronel, já
ta na hora de um homi como eu constitui famia e sua fia deve de sê muito linda.
CORONEL: Ela é insuperave.
Pode entra que ela ta lhe esperando.
( Terencio entra e o
coronel e a patroa tapam os ouvidos. Terencio grita de dentro da casa)
TERÊNCIO: Meu Jesus Cristinho,
me sarve. Socorro, larga eu coisa ruim. Socorro.
( sai correndo e nem
conversa com o coronel)
PATROA: (chorando) Ai que
desgosto, ninguém qué a nossa fia.
CORONEL: Pra ela casá, só um
milagre.
(Os dois saem abraçados e
chorando. Aparecem Eufrazina,vestida horrivelmente, e Ernestina.)
EUFRAZINA: Mãe, seu prano deu
certo. É só os rapais me vê que eles sai correndo.
ERNESTINA: Num sô fraca não,
mia fia. Ocê já é feia, mas com um toque especiar fico horríver. Assim num há
Homi que tenha corage
de lhe encará.
(as duas saem rindo. Então aparecem
dois forasteiros, um malandro e um míope)
LUIZÃO: (falando com sotaque
carioca) Podes crê, Creosvaldo, aqui tem uma gata rica querendo se casar. E o
seu
Mano velho vai se dá bem.
CREOSVALDO: Mas o pai dela qué
que ela se case cum moço rico e ocê é pobre que nem qui eu.
LUIZÃO: Deixa disso, meu
irmão, sô pobre mais tenho cultura. Já morei no Rio de Janeiro, esqueceu?
CREOSVALDO: Mas do Rio, ocê só
conhece a favela.
LUIZÃO: E favela também é cultura.
Eu vô jogá um migué na cabeça do coronel. Vem, vamo chegá na casa dos
Magnata.
( Creosvaldo tropeça e cai)
CREOSVALDO: Ai!!
LUIZÃO: Cuidado, Creosvaldo,
esqueceu que você não enxerga bem.
(aparece o coronel e a patroa)
LUIZÃO: Boas tardes, senhor
coronel e dona patroa.
O CASAL: Batarde, moço.
CORONEL: Quem é o sinhô e seu
amigo?
LUIZÃO: Eu sou Luiz Bragança e
Silva e esse aqui é meu criado Creosvaldo.
CREOSVALDO: O que?
LUIZÃO: (cochixando para
Creosvaldo) Cala a boca que a gente vai se dá bem.
LUIZÃO: Como eu dizia, eu sou
um rico fazendeiro lá do sul do país. Vim aqui à passeio e ouvi falar da
formosura
De sua filha. Então decidi
conhecê-la.
PATROA: Nem tudo ta perdido.
CORONEL: Eu faço muito gosto
que ocês se conheça. Vai lá chama ela Dona Patroa. Enquanto isso, eu vô leva o
Creosvaldo pra tomá água de
poço.
( sai a patroa, o coronel e
creosvaldo. Entra Eufrazina)
EUFRAZINA: Que é que ocê qué,
seu porquera?
LUIZÃO: (fingindo) Que flor de
formosura, que delicadeza de donzela.
EUFRAZINA: Tu ta ficando loco?
LUIZÃO: Assim que te vi, meu
coração disparou num ápice de amor.
EUFRAZINA: Ocê bebeu
querosene?
LUIZÃO: Eu quero me casar com
você, meu amor!
(ele tenta abraçá-la, mas ela
corre)
EUFRAZINA: To fora!!
LUIZÃO: Isso, me despreza que
eu gamo.
EUFRAZINA: Eu não vou me casar
com ocê de jeito manera.
LUIZÃO: (num tom ameaçador)
Ah, vai sim. Eu sei que seus pais querem que você case de todo jeito e que não
Há mais nenhum pretendente
disposto a te encarar. Então eu serei seu esposo e herdeiro da fortuna do
Coronel.
EUFRAZINA: Seu porco, fio de
uma jumenta, eu vou te...
LUIZÃO: Calma, meu amor, seus
pais vem vindo.
(entra a patroa, o coronel e
creosvaldo)
LUIZÃO: Coronel, eu quero
pedir a mão de sua filha em casamento.
CORONEL: Num leva só a mão
não, leva tudo de uma vez.
PATROA: (emocionada) Coronel,
nossa fia finarmente encontro o amor de sua vida.
EUFRAZINA: To ralada.
CORONEL: Então eu vo aprepará
o casório antes que o noivo desista. Vem comigo Doto Luiz.
(sai a patroa, luizão e o
coronel)
EUFRAZINA: Buá, buá, eu num
quero casá cum esse safado.
CREOSVALDO: Carma, moça, o que
qui foi?
EUFRAZINA: Esse safado do seu
patrão que dá o gorpe do baú ni mim. Eu sô tão feia, mas ele qué casa pra botá
As pata no dinheiro do
meu painho.
CREOSVALDO: Eu num acho ocê
feia.
EUFRAZINA: Qué me dá o gorpe
tamém.
CREOSVALDO: Não, eu nasci
pobre e hei de morre assim. Essa é a sina da minha famia. Eu num enxergo
direito
E só vejo a beleza de
uma pessoa pela personalidade e não pela sua cara.
EUFRAZINA: E daí?
CREOSVALDO: Ocê é dispachada e
eu gosto de muié assim.
EUFRAZINA: (apaixonada) como é
seu nome?
CREOSVALDO: Creosvaldo, as
suas orde.
EUFRAZINA: Ocê se casaria cum
eu?
CREOSVALDO: Eu... eu...
( voltam o coronel,
a patroa, luizão e ernestina e interrompem a conversa)
CORONEL: Minha fia, ta tudo
pronto pro casório, amanhã cedo ocê desencaia e recebe o premero beijo de amo.
PATROA: Aí, adeus catiça.
EUFRAZINA: Mainha e painho, eu
me apaixonei por outro homi, num quero me casá cum esse Doto ai não.
LUIZÃO: (dando uma de macho) Eu
mato o infeliz!
ERNESTINA: (fala só para
eufrazina) Ocê ta doida, vai arruma mais cunfusão ainda pra tua cabeça?
EUFRAZINA: Eu to apaixonada
pelo Creosvaldo e vou me casá cum ele.
ERNESTINA: Fia, mais se ocê
beijá ele, ocê vai continuá feia e vão discubri que esse negócio de catiça é
mentira.
Ocê vai vortá a ser
pobre.
EUFRAZINA: Vale a pena ser
pobre se é pra ser amada.
LUIZÃO: Então, quem é o suíno
que se atreveu a buli na minha amada.
CREOSVALDO: (todo tímido) Fui
eu primo.
TODOS: OH!
CREOSVALDO: Eu me apaixonei
por Eufrazina assim que ouvi a voz dela.
CORONEL: Ninguém queria a
feiosa, agora tem dois quereno.
ERNESTINA: Eu tenho uma
solução pra acaba com a pendenga.
TODOS: Qual?
ERNESTINA: Aquele que beijá a
moça e quebra a catiça gosta dela de verdade e será seu esposo.
CORONEL: Feito! Quem vai se a
primera vítima?
LUIZÃO: Eu! Não deixarei outro
homem beijar a minha amada. Não há catiça que resista ao meu beijo.
( Luizão se aproxima de
Eufrazina, ela faz um bico bem feio e ele faz cara de nojo, quando ele está a
Ponto de beijá-la começa a
chorar e dizJ
LUIZÃO: Eu não consigo. Ela é
muito feia, eu desisto. Pode fazer bom proveito, Creosvaldo.
(luizão sai)
CORONEL: Sua veis, Creosvaldo.
CREOSVALDO: Chega mais, minha
potranca.
(Ele abraça
Eufrazina, a deita pra trás e dá um grande beijo nela).
TODOS: OH! Credo!
EUFRAZINA: Meu amor.
PATROA: Mas a catiça não se
desfez. Ela ainda é horrorosa.
CREOSVALDO: Pois pra mim, ela
é a mais linda das muié.
ERNESTINA: Eu não disse que a
catiça ia se quebra com o premero beijo de amo?
CORONEL: Mas ela ainda é feia.
ERNESTINA: Feia pro senho. Mas
pro futuro marido dela, ela é linda e é isso que interessa.
CORONEL: Ta bom. Quem vai te
que encará o trubufú todo dia é ele mesmo.
PATROA: Sorte que ele enxerga
mal.
ERNESTINA: Que que ocês tão
esperando. Vai logo chamá o juiz pra faze o casório.
PATROA: Vamo logo, Coronel.
Vamo Creosvaldo.
( os três saem)
EUFRAZINA: Mainha, a senhora
sarvo minha pele. Como sabia que o Creosvaldo ia me acha bonita.
ERNESTINA: Fia, dizem quando a
gente ama fica cego. Imagina um homi que já é meio cego quando fica
Apaxonado. Ele encara
quarque parada.
EUFRAZINA: Choquei, mainha!
NARRADOR: Lá nos confins do
sertão nordestino, vivia um coronel arretado e sua patroa. Eles queriam ter um
bacurizinho. Mas o
tempo passava e a patroa nada de embuxar. Até que um dia...
PATROA: (chorando
escandalosamente) Buá, Buá... eu quero ter um fio, todo mundo tem, só eu que
não.Buá.
ERNESTINA: Qual é a zica, Dona
Patroa? Por que todo esse auê?
PATROA: Eu quero ter um fio,
mas não consigo engravida. Buá, Buá.
ERNESTINA: Num se avexe, não.
Conheço uma simpatia infalível pra embuxar. Eu fiz e tenho 10 fio.
PATROA: Credo!!!
ERNESTINA: Qué sabê ou não?
PATROA: Quero, né. Mas só vou
fazer uma vez. Não vou encher a casa de remelentos, dá muita briga.
ERNESTINA: Negócio é o
seguinte, na noite de lua cheia, a senhora vai na beira da lagoa seca e grita
bem alto:
Eu quero um fio!
PATROA: E dispois?
ERNESTINA: É só isso, deixa
que do resto o tempo se encarrega.
PATROA: Ta bem, vou fazer
isso.
NARRADOR: Então na noite de
lua cheia, Dona Patroa, toda esperançosa, foi a beira da lagoa.
PATROA: Ai que mico, espero
que ninguém me veja berrando na beira da lagoa, vão pensa que to surtano. Mas
Vamos à luta. EU QUERO UM FIO!!!!
MENINA: Aqui to eu, mamãe. Seu
pedido foi atendido.
PATROA: Mas já.
ERNESTINA: Comigo é assim. A
simpatia é instantâna.
PATROA: Mas eu pedi um fio e
não uma fia. Além do mais, ela já é grande, eu queria um bebezinho. E essa
Menina é bem feinha.
MENINA: Choquei!! Mamãe.
ERNESTINA: Ó, patroa, a
senhora num ta na posição de escolhe muito não. É melhor pegá essa memo, antes
que o
O coronel arrume outra mulhé pra dá
fio pra ele. E ela ta feia assim por causa de uma catiça que uma dessas
Muié invejosa jogou na senhora.
Mas quando essa menina recebê o
premero bejo de amor, ela vai ficar linda.
PATROA: Ai, será?
MENINA: É pegá ou largá.
PATROA: Ta bom, eu pego. Seu nome
será Clara Bela, minha fia.
MENINA: Que Clara Bela, o quê?
Eu já me chamo Eufrazina.
PATROA: Credo!!! Que nome
horríve. Mas como é que você já nasceu com nome?
ERNESTINA: Fio de simpatia é
assim memo, já nasce até com nome.
PATROA: Tudo bem, eu te aceito
assim memo. Mas vou ter que inventá uma história pro coronel acreditá que
Essa menina é nossa fia. Ele
nunca boto muita fé em simpatia.
(todas saem)
NARRADOR: Dona Patroa foi para
casa toda feliz com sua fia, para apresentá a menina ao Coronel. Chegando lá..
CORONEL: Onde se enfiou Dona
Patroa, justo hoje que eu queria tentar ter um fio. Já estou ficando veio,
daqui há
Poço, num dá mais pra ela
pegá cria.
PATROA: Oh, meu rei eu tenho
uma surpresa pro cê.
CORONEL: Eu adoro surpresa, o
que é?
PATROA: Feche o zóio e só abra
quando eu manda.
CORONEL: Ta bem, mas me mostre
logo, estou ansioso.
( Ela traz Eufrazina)
PATROA: Pode abrir o zóio, meu
rei.
CORONEL: (assustado) Ai, chuta
que é macumba!!!!
EUFRAZINA: Macumba o escambáu,
eu sou sua fia.
CORONEL: Eu não fiz isso!!
PATROA: Fez sim.
CORONEL: Quando?
PATROA: Naquela noite dispois
do velório do Coronel Teodoro. Ocê bebeu muito, lembra?
CORONEL: Só se eu bebi
gazulina!!
EUFRAZINA: Eu vou ficar
traumatizada!
PATROA: Ela é feinha assim por
causa de uma catiça lançada em mim quando eu embuxei. Então eu escondi nossa
Fia de todo mundo até hoje.
Mas ela vai crescer, poderá
receber o premeiro beijo de amor e voltar a ser linda.
CORONEL: E quem vai quere
encarar esse tramboio?
PATROA: Esquenta não, tem
louco pra tudo neste mundo.
NARRADOR: Os anos passou,
Eufrazina foi crescendo e ficando cada vez mais feia. Então, preocupados, seus
Pais decidiram encontrar um doido,
quer dize, um marido para se apaixona por ela e quebrar a
Tar da catiça.
ERNESTINA: E aí, Eufrazina,
como vai a vida boa?
EUFRAZINA: Oh, mãe, ta
supimpa. A senhora me descolou um vidão. Num faço nada o dia inteiro, a não ser
Come e dormi.
ERNESTINA: Mas fica esperta,
ninguém pode sabe que sou sua mãe, senão a gente ta na roça.
EUFRAZINA: Pode deixar, coroa.
Não perco esse vidão por nada.
RAINHA: Eufrazina, cadê você,
fiinha?
ERNESTINA: Lá vem a patroa,
disfarça.
EUFRAZINA: To aqui, mainha, que foi?
PATROA: Seu pai decidiu que tá
na hora de ocê se casar.
EUFRAZINA: Oba!
PATROA: Então ele distribuiu seu
retrato por todas as vilas da redondeza. Assim virão muitos cabra macho vai
Vim te pedi em casamento.
ERNESTINA: Né que eu quero falá
não, mas se os tar cabra macho vê o retrato dela, num vão vim aqui de jeito
Manera.
PATROA: O rei pensou nisso,
então contratou um pintor porreta e ele caprichou no retrato. Veja como ficou.
( mostra uma foto da
Angelina Jolie)
EUFRAZINA: Eu fiquei linda,
como rearmente sô, é claro.
PATROA: Então vamos, ocê
percisa se arruma pra receberseus pretendentes.
ERNESTINA: (para o público)
Então chama a equipe do lata-velha.
EUFRAZINA: Vá indo, mainha,
que eu já vou.
PATROA: Ta, mas não demore.
(sai)
EUFRAZINA: Eu to lascada!!
ERNESTINA: Pru quê? Num que si
casá?
EUFRAZINA: Mãe, a senhora
inventa as coisas e dispois esquece.
ERNESTINA: Que foi que eu
inventei?
EUFRAZINA: A senhora disse pra
rainha que eu era feia por causa de uma catiça, que o premeiro beijo de amor
Quebraria o encanto e eu
ia fica linda.
ERNESTINA: Misericórdia. É
memo.
EUFRAZINA: E agora, o que vou
fazer?
ERNESTINA: Né que eu quero fala
não, mas quem em sã consciênça vai se apaixonar por você e ainda por cima,
Quere te beijá?
EUFRAZINA: Vai que aparece um
loco?
ERNESTINA: Ce vai faze o
seguinte. Diz pra patroa que oce qué conversa cus rapais em particulá. Aí
então....
(as duas cochixam e entra o
narrador)
NARRADOR: Com um plano secreto
armado, Eufrazina foi se arruma, se é que isso é possível, para recebe seus
Pretendentes. Será que
ela será desmascarada, veja nos próximos capítulos desta peça emocionante.
(entram em cena
Eufrazina, o coronel e a patroa.)
CORONEL: Finarmente chego o
grande dia, a minha fia vai se recebe o premero beijo de amo e fica linda.
PATROA: Marido, não deixe
nossa fia nervosa.
EUFRAZINA: Mainha e painho, eu
gostaria de cunversá cos rapais em particula.
CORONEL: (bravo) Pru quê?
EUFRAZINA: É que eu sô tímida
e num quero que tudo mundo fique oiando eu cunversá cos moço.
PATROA: É verdade, meu rei,
vamo deixa a nossa fia suzinha. Fica lá na salinha de visita e nóis recebe os
moço
Aqui na varanda.
EUFRAZINA: Brigada, mainha.
JUVENAL: Batarde, coronel.
Recebi o retrato de sua fia e vim conhecê aquele poço de furmusura.
CORONEL: Oh, coitado.
PATROA: Disfarça, homi.
CORONEL: Que dize, se achegue,
Juvenal. Ela está esperando por ocê la dentro de casa.
( Juvenal entra na casa)
CORONEL: Seja o que Deus
quise.
JUVENAL: (gritando) SOCORRO! O
boitatá engoliu a fia do ceis.
PATROA: Como ousa chama nossa
fia de boitatá. Suma daqui seu fio duma égua.
JUVENAL: Sumo memo, eu é que
num quero casá cum aquele tramboio.
CORONEL: O negócio vai sê mais
dificir do que eu pensei.
TERÊNCIO: Licença, coronel.
CORONEL: Chega mais, Terêncio.
Veio conhecê mia fia.
TERÊNCIO: Vim sim, coronel, já
ta na hora de um homi como eu constitui famia e sua fia deve de sê muito linda.
CORONEL: Ela é insuperave.
Pode entra que ela ta lhe esperando.
( Terencio entra e o
coronel e a patroa tapam os ouvidos. Terencio grita de dentro da casa)
TERÊNCIO: Meu Jesus Cristinho,
me sarve. Socorro, larga eu coisa ruim. Socorro.
( sai correndo e nem
conversa com o coronel)
PATROA: (chorando) Ai que
desgosto, ninguém qué a nossa fia.
CORONEL: Pra ela casá, só um
milagre.
(Os dois saem abraçados e
chorando. Aparecem Eufrazina,vestida horrivelmente, e Ernestina.)
EUFRAZINA: Mãe, seu prano deu
certo. É só os rapais me vê que eles sai correndo.
ERNESTINA: Num sô fraca não,
mia fia. Ocê já é feia, mas com um toque especiar fico horríver. Assim num há
Homi que tenha corage
de lhe encará.
(as duas saem rindo. Então aparecem
dois forasteiros, um malandro e um míope)
LUIZÃO: (falando com sotaque
carioca) Podes crê, Creosvaldo, aqui tem uma gata rica querendo se casar. E o
seu
Mano velho vai se dá bem.
CREOSVALDO: Mas o pai dela qué
que ela se case cum moço rico e ocê é pobre que nem qui eu.
LUIZÃO: Deixa disso, meu
irmão, sô pobre mais tenho cultura. Já morei no Rio de Janeiro, esqueceu?
CREOSVALDO: Mas do Rio, ocê só
conhece a favela.
LUIZÃO: E favela também é cultura.
Eu vô jogá um migué na cabeça do coronel. Vem, vamo chegá na casa dos
Magnata.
( Creosvaldo tropeça e cai)
CREOSVALDO: Ai!!
LUIZÃO: Cuidado, Creosvaldo,
esqueceu que você não enxerga bem.
(aparece o coronel e a patroa)
LUIZÃO: Boas tardes, senhor
coronel e dona patroa.
O CASAL: Batarde, moço.
CORONEL: Quem é o sinhô e seu
amigo?
LUIZÃO: Eu sou Luiz Bragança e
Silva e esse aqui é meu criado Creosvaldo.
CREOSVALDO: O que?
LUIZÃO: (cochixando para
Creosvaldo) Cala a boca que a gente vai se dá bem.
LUIZÃO: Como eu dizia, eu sou
um rico fazendeiro lá do sul do país. Vim aqui à passeio e ouvi falar da
formosura
De sua filha. Então decidi
conhecê-la.
PATROA: Nem tudo ta perdido.
CORONEL: Eu faço muito gosto
que ocês se conheça. Vai lá chama ela Dona Patroa. Enquanto isso, eu vô leva o
Creosvaldo pra tomá água de
poço.
( sai a patroa, o coronel e
creosvaldo. Entra Eufrazina)
EUFRAZINA: Que é que ocê qué,
seu porquera?
LUIZÃO: (fingindo) Que flor de
formosura, que delicadeza de donzela.
EUFRAZINA: Tu ta ficando loco?
LUIZÃO: Assim que te vi, meu
coração disparou num ápice de amor.
EUFRAZINA: Ocê bebeu
querosene?
LUIZÃO: Eu quero me casar com
você, meu amor!
(ele tenta abraçá-la, mas ela
corre)
EUFRAZINA: To fora!!
LUIZÃO: Isso, me despreza que
eu gamo.
EUFRAZINA: Eu não vou me casar
com ocê de jeito manera.
LUIZÃO: (num tom ameaçador)
Ah, vai sim. Eu sei que seus pais querem que você case de todo jeito e que não
Há mais nenhum pretendente
disposto a te encarar. Então eu serei seu esposo e herdeiro da fortuna do
Coronel.
EUFRAZINA: Seu porco, fio de
uma jumenta, eu vou te...
LUIZÃO: Calma, meu amor, seus
pais vem vindo.
(entra a patroa, o coronel e
creosvaldo)
LUIZÃO: Coronel, eu quero
pedir a mão de sua filha em casamento.
CORONEL: Num leva só a mão
não, leva tudo de uma vez.
PATROA: (emocionada) Coronel,
nossa fia finarmente encontro o amor de sua vida.
EUFRAZINA: To ralada.
CORONEL: Então eu vo aprepará
o casório antes que o noivo desista. Vem comigo Doto Luiz.
(sai a patroa, luizão e o
coronel)
EUFRAZINA: Buá, buá, eu num
quero casá cum esse safado.
CREOSVALDO: Carma, moça, o que
qui foi?
EUFRAZINA: Esse safado do seu
patrão que dá o gorpe do baú ni mim. Eu sô tão feia, mas ele qué casa pra botá
As pata no dinheiro do
meu painho.
CREOSVALDO: Eu num acho ocê
feia.
EUFRAZINA: Qué me dá o gorpe
tamém.
CREOSVALDO: Não, eu nasci
pobre e hei de morre assim. Essa é a sina da minha famia. Eu num enxergo
direito
E só vejo a beleza de
uma pessoa pela personalidade e não pela sua cara.
EUFRAZINA: E daí?
CREOSVALDO: Ocê é dispachada e
eu gosto de muié assim.
EUFRAZINA: (apaixonada) como é
seu nome?
CREOSVALDO: Creosvaldo, as
suas orde.
EUFRAZINA: Ocê se casaria cum
eu?
CREOSVALDO: Eu... eu...
( voltam o coronel,
a patroa, luizão e ernestina e interrompem a conversa)
CORONEL: Minha fia, ta tudo
pronto pro casório, amanhã cedo ocê desencaia e recebe o premero beijo de amo.
PATROA: Aí, adeus catiça.
EUFRAZINA: Mainha e painho, eu
me apaixonei por outro homi, num quero me casá cum esse Doto ai não.
LUIZÃO: (dando uma de macho) Eu
mato o infeliz!
ERNESTINA: (fala só para
eufrazina) Ocê ta doida, vai arruma mais cunfusão ainda pra tua cabeça?
EUFRAZINA: Eu to apaixonada
pelo Creosvaldo e vou me casá cum ele.
ERNESTINA: Fia, mais se ocê
beijá ele, ocê vai continuá feia e vão discubri que esse negócio de catiça é
mentira.
Ocê vai vortá a ser
pobre.
EUFRAZINA: Vale a pena ser
pobre se é pra ser amada.
LUIZÃO: Então, quem é o suíno
que se atreveu a buli na minha amada.
CREOSVALDO: (todo tímido) Fui
eu primo.
TODOS: OH!
CREOSVALDO: Eu me apaixonei
por Eufrazina assim que ouvi a voz dela.
CORONEL: Ninguém queria a
feiosa, agora tem dois quereno.
ERNESTINA: Eu tenho uma
solução pra acaba com a pendenga.
TODOS: Qual?
ERNESTINA: Aquele que beijá a
moça e quebra a catiça gosta dela de verdade e será seu esposo.
CORONEL: Feito! Quem vai se a
primera vítima?
LUIZÃO: Eu! Não deixarei outro
homem beijar a minha amada. Não há catiça que resista ao meu beijo.
( Luizão se aproxima de
Eufrazina, ela faz um bico bem feio e ele faz cara de nojo, quando ele está a
Ponto de beijá-la começa a
chorar e dizJ
LUIZÃO: Eu não consigo. Ela é
muito feia, eu desisto. Pode fazer bom proveito, Creosvaldo.
(luizão sai)
CORONEL: Sua veis, Creosvaldo.
CREOSVALDO: Chega mais, minha
potranca.
(Ele abraça
Eufrazina, a deita pra trás e dá um grande beijo nela).
TODOS: OH! Credo!
EUFRAZINA: Meu amor.
PATROA: Mas a catiça não se
desfez. Ela ainda é horrorosa.
CREOSVALDO: Pois pra mim, ela
é a mais linda das muié.
ERNESTINA: Eu não disse que a
catiça ia se quebra com o premero beijo de amo?
CORONEL: Mas ela ainda é feia.
ERNESTINA: Feia pro senho. Mas
pro futuro marido dela, ela é linda e é isso que interessa.
CORONEL: Ta bom. Quem vai te
que encará o trubufú todo dia é ele mesmo.
PATROA: Sorte que ele enxerga
mal.
ERNESTINA: Que que ocês tão
esperando. Vai logo chamá o juiz pra faze o casório.
PATROA: Vamo logo, Coronel.
Vamo Creosvaldo.
( os três saem)
EUFRAZINA: Mainha, a senhora
sarvo minha pele. Como sabia que o Creosvaldo ia me acha bonita.
ERNESTINA: Fia, dizem quando a
gente ama fica cego. Imagina um homi que já é meio cego quando fica
Apaxonado. Ele encara
quarque parada.
EUFRAZINA: Choquei, mainha!
FIM
Denizia
Moresqui
FIM
Denizia
Moresqui